O fim para o qual vivemos reflete-se em cada uma de nossas ações. A cada
momento pode chegar o fim de nossa vida. Seja este fim aquilo que vigilantes
esperamos, como a noite da libertação, que encontrou os israelitas preparados
para saírem (1ª leitura), e não como
uma noite de morte e condenação, como o empregado malandro que é pego de
surpresa pela volta inesperada de seu patrão (evangelho).
Devemos preparar-nos para o definitivo de nossa vida, aquilo que
permanece, mesmo depois da morte. Mensagem difícil para o nosso tempo de
imediatismo. Muitos nem querem pensar no que vem depois; contudo, a perspectiva
do fim é inevitável. Já outros veem o sentido da vida na construção de um mundo
novo, ainda que não seja para eles mesmo, mas para seus filhos ou para as
gerações futuras, se não têm filhos. Assim como os antigos judeus colocavam sua
esperança de sobrevivência nos seus filhos, estas pessoas a colocam na
sociedade do futuro. É nobre. Mas será suficiente?
Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus. Aí a
desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não desvia nosso olhar da terra?
Não leva à negação da realidade histórica, desta terra, da nova sociedade que
construímos? Ou será, pelo contrário, uma valorização de tudo isso? Pois,
mostrando como é provisória a vida e a história, Jesus nos ensina a usá-las
bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a história: o amor que nos torna
semelhantes a Deus. Este é o tesouro do céu, mas ele precisa ser granjeado aqui
na terra.
A visão cristã acompanha os que se empenham pela construção de um mundo
novo, solidário e igualitário, para suplantar a atual sociedade baseada no
lucro individual. Mas não basta ficar simplesmente neste nível material, por
mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da justiça. A visão cristã
acredita que a solidariedade exercida aqui na História é confirmada para além
da História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa de Deus mesmo,
confirmada por quem nos chamou à vida e nos faz existir. À utopia histórica, a
visão cristã acrescenta a fé, “prova de realidades que não se veem” (2ª leitura). A fé, baseada na realidade
definitiva que se revelou na ressurreição de Cristo, nos dá a firmeza
necessária para abandonar tudo em prol da realização última – a razão de nosso
existir.
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