PROGRAMA AÇÃO PASTORAL
Todas
as quintas-feiras às 19h, na São João Paulo II Web TV Foz do Iguaçu
PROGRAMA 160 -
DIA 2 de novembro 2023
Algumas palavras de síntese na conclusão do Sínodo
Para a humanidade à beira do
abismo, o que aconteceu nas últimas quatro semanas em Roma é um sinal de
esperança. E indica o caminho para uma Igreja missionária que, finalmente
aplicando o Concílio Vaticano II, não tem medo das novidades sugeridas pelo
Espírito Santo.
A síntese feita abaixo, ainda sem ter acesso ao Relatório de
Síntese da 16ª Assembleia Geral do Sínodo, leva em conta a Carta ao Povo de
Deus, alguns artigos de partilha de bispos que participaram e das impressões
que o vaticanista Andrea Tornielli escreveu a partir do Relatório (em
italiano).
ESPÍRITO
SANTO
"Quero
recordar que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. Sugiro que
levem consigo os textos de São Basílio, que nos preparou o Padre Davide Piras,
e continuem meditando-o, porque isso pode ajudá-los.
A convite do Santo Padre, demos
um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e
o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecuménica de abertura,
experimentámos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de
Cristo crucificado. "A cruz é, de facto, a única cátedra d'Aquele que,
dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai,
para que 'todos sejam um' (Jo 17,21)". Firmemente unidos na esperança que
a Sua ressurreição nos dá, confiámos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da
terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: "Laudate
Deum! ". (Carta ao povo de Deus)
O sínodo
é um sinal
Pela primeira
vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do
seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates
mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos.
Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios,
escutamos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do
diálogo no Espírito, partilhámos humildemente as riquezas e as pobrezas das
nossas comunidades em todos os continentes,
procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje.
(carta ao povo de Deus)
Em um mundo que está se
incendiando e está à beira do abismo de um novo
conflito mundial; em um mundo marcado pela incapacidade
de ouvir e pelo ódio que fomenta guerras e violências que também se
refletem no continente digital, o fato de quatrocentas pessoas terem se reunido
por um mês longe de casa para rezar, se ouvir, discutir é certamente uma
notícia. A Igreja sinodal na qual o Papa Francisco
insiste hoje representa uma pequena semente de esperança: ainda é
possível dialogar, acolher o outro, deixando de lado o protagonismo do próprio
ego para superar as polarizações a fim de chegar a um consenso amplamente
compartilhado. (Andrea Tornielli).
O sínodo sobre a sinodalidade será uma semente de
esperança se o tempo de graça vivido pelos homens (a maioria, e uma
maioria de bispos) e pelas mulheres reunidos em Roma for testemunhado como um
método a ser aplicado com paciência em todas as expressões da vida das
comunidades cristãs. Não será uma semente de esperança se for reduzida ao
cumprimento burocrático, talvez colocando-a no liquidificador da linguagem do
"eclesialês" e autorreferencial, uma mistura de velhas categorias clericais.
As de uma Igreja que, em palavras, diz que quer aplicar o Concílio, mas depois
age com as categorias pré-conciliares por meio de práticas consolidadas, com os
bispos e os padres que decidem e os outros batizados que devem se limitar a
colocar suas decisões em prática. (Andrea Tornielli).
CONFIANÇA PARA VIVER A CONVERSÃO
PASTORAL E MISSIONÁRIA
Dia após
dia, sentimos um apelo premente à
conversão pastoral e missionária. Com
efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si
mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf.
Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste
Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam:
"Amor! ". Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da
Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a
mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa
assembleia. É a "confiança" que nos dá a
audácia e a liberdade interior que experimentámos, não hesitando em exprimir
livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos
desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente. (Carta ao povo
de Deus)
APLICAR AS INDICAÇÃOES DO CVII
Em primeiro lugar, uma nova percepção da necessidade de aplicar os ensinamentos do
último concílio, com relação ao único chamado que envolve todos nós como
batizados. Em todas as páginas do Evangelho, Jesus, que se aproximava de
todos e falava com todos, sofre oposição e é combatido pelas castas. Os
clérigos da época, acostumados a colocar fardos pesados sobre os ombros dos
outros, os escribas, os doutores da lei, os professores de doutrina. (Andrea
Tornielli).
É preciso olhar para o
Nazareno para recuperar na Igreja, em todos os níveis, desde a Cúria Romana até
a menor das paróquias, a consciência de que todo ministério é serviço e não
poder, e "serve" realmente se aproxima, une, torna corresponsáveis,
cria fraternidade, testemunha a misericórdia de Deus, não se distancia, não se
reforça em privilégios, não se
traça linhas de separação entre os que são ordenados e os que não são, não se
considera (talvez mais com atos do que com palavras) o leigo como um batizado
de segunda classe. Ao mesmo tempo, também é necessário evitar, por
parte dos batizados não chamados à vocação ao sacerdócio, mas a outras formas
de testemunho e de serviço no único sacerdócio batismal, o risco de querer se
clericalizar e de se deixar clericalizar, para ir além das pequenas castas dos
"leigos comprometidos". (Andrea Tornielli).
MULHERES
O Relatório de Síntese que acaba
de ser publicado fala da necessidade comum de dar mais
espaço às mulheres, ao gênio feminino, ao princípio mariano tão
importante na Igreja. Também nesse caso, seria suficiente ter a coragem de
olhar mais para o Evangelho e confiar mais em Jesus. Sob a cruz, quando
apóstolos e discípulos (exceto João) fugiram, havia mulheres. Enquanto Ele
morria, elas permaneceram. E é à intuição e à coragem delas de deixar o
cenáculo que devemos o primeiro anúncio da ressurreição. (Andrea Tornielli).
No túmulo
vazio, as mulheres foram as
primeiras, não os homens, nem os apóstolos assustados que
permaneceram trancados em suas casas. O primeiro anúncio da notícia mais
chocante da história humana - aquela do Deus que se faz homem, morre por nós e
depois ressuscita, tornando-nos parte desse destino - foi feito por mulheres,
não por homens. Elas testemunham o que viram, o túmulo
vazio, e são as primeiras a dizer que Jesus está vivo. Elas fazem a primeira
homilia sobre o querigma, sobre os fundamentos de nossa fé, aos apóstolos e
discípulos ainda horrorizados com o que aconteceu na Sexta-feira Santa. (Andrea Tornielli).
CLERICALISMO
Seria suficiente começar daqui
para conscientizar todos de que as mulheres devem ser muito mais valorizadas em
todos os níveis da Igreja, superando o flagelo do clericalismo, doença infelizmente ainda profundamente
enraizada e repetidamente denunciada pelo Sucessor de Pedro. É de se esperar
que o documento de síntese do Sínodo represente um ponto de não retorno na
recuperação das origens evangélicas também nesse campo. (Andrea Tornielli).
- não estamos falando de
padre mandão aqui.
- estamos falando de um
estilo de Igreja: o padre que manda, os leigos que só obedecem e não vivem seu
protagonismo, um pequeno grupo que manda na paróquia/pastoral/movimento, só
obedecer as leis, senso de pertença e amor a Igreja e não sair correndo quando
naõ ganha o quer, ou “o que veio comprar”.
- se propõe um novo estilo:
organizar por conselhos, cada um viver a sua vocação, escutar e ir a todos,
paciencia uns com os outros para que cada um viva o seu caminho de conversão,
decisão de acolher e dar espaço a todos.
ACOLHIMENTO DAS PESSOAS FERIDAS
Um outro elemento que emerge do texto votado pelos membros do sínodo é o que se refere ao acolhimento das pessoas feridas. Acolher os pobres - a proximidade a eles e a
escolha preferencial por eles é o ensinamento de Jesus
Cristo e da tradição dos Padres da Igreja, não uma categoria sociológica
ou a descoberta das teologias da libertação - e acolher
os migrantes, nos quais o cristão não
pode deixar de ver refletidos os rostos da sagrada
família de Nazaré em fuga. Mas também
acolher aqueles que são "irregulares", que
estão distantes, que não são "apresentáveis". Mais uma vez,
precisamos voltar ao Evangelho e àquela síntese tão eficaz contida nas palavras
que o bispo de Roma confiou aos jovens na JMJ de Lisboa, repetindo que na
Igreja há realmente lugar para todos, "todos, todos". (Andrea Tornielli).
Em cada página evangélica, vemos o Nazareno
quebrando tabus e tradições consolidadas, derrubando a presunção e a hipocrisia, para abraçar o
pecador, que está ferido, que é descartado, que não está dentro da legalidade,
que é corrupto, que está distante, que não é um "de nós". Será bom voltarmos à dinâmica do que aconteceu
em Jericó em março do ano 30, alguns dias antes da paixão, morte e ressurreição
de Jesus, quando o Mestre, passando sob o sicômoro, olha para cima e chama o
pequeno publicano corrupto, odiado por todos, convidando-se para entrar em sua
casa. Zaqueu recebe o Nazareno, reconhece o seu pecado e se converte. Mas essa conversão é a consequência de primeiro ter sido
olhado com amor, acolhido e inundado de misericórdia. Não é um pré-requisito necessário. O que é necessário é uma Igreja capaz de olhar para cada
mulher e cada homem, com suas misérias, com seu pecado, com o mesmo olhar de
Jesus, para fazê-los sentir-se acolhidos e acompanhá-los com paciência e
ternura, confiando na obra da graça e da sua ação no tempo e no modo de Deus no
coração das pessoas e em suas histórias.
(Andrea Tornielli).
POR FIM
Os pontos em que a síntese do Sínodo pede uma revisão do
Direito Canônico, de seguir o caminho do ecumenismo com maior convicção e
concretude, de valorizar melhor as estruturas sinodais já existentes. (Andrea Tornielli).
E AGORA?
Caminhar juntos
E agora? Gostaríamos que os
meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de
comunhão missionária indicado pela palavra "sínodo". Não se trata de
uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição
Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo,
"Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstratos se
não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (...),
promovendo o envolvimento real de todos e de cada um" (9 de outubro de
2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da
primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as
questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos. (Carta ao
povo de Deus)
Para progredir no seu
discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos
mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um
caminho de louvor: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque
escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos
pequeninos" (Lc 10,21)! Trata-se de escutar
aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos,
mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas
formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas
foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de
escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos
cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e
estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa de
escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da
sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são
os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das
crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os
sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória. (Carta ao povo de Deus)
A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as
suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de
hoje. Precisa de acolher as vozes daqueles que desejam
se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento
e de tomada de decisões. Para
progredir no discernimento sinodal, a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros
ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo
ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que
com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos
mais vulneráveis. Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela
vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a
verdade e nos quais o Espírito, que
"a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um
modo só de Deus conhecido" (Gaudium et spes 22), também está
presente e atua. (Carta ao povo de Deus)
Os sínodos são um exercício da Igreja em vista
do discernimento, de vida em conjunto com as pessoas e com o Senhor. Com a
graça de Deus existem muitas maneiras de experimentar formas de sinodalidade. Desta
forma uma Igreja sinodal caminha em comunhão em vista de uma missão comum com o
Senhor e com as pessoas, através da participação de cada um de seus
membros. (D. Vital Corbelini)
Isso aparece "nessa
maneira de estar juntos, de dialogar, é o método de Cristo, Cristo primeiro se
encarnou e depois caminhou com o povo, dialogou com o povo e perguntou ao
povo", enfatiza o arcebispo peruano. De acordo com ele, "é um falso
medo que eles têm, não há perda de ministerialidade, se você é um bispo, você é
um bispo, se você é um pároco, você é um pároco, mas é enriquecido por uma
grande escuta. Ouvir seus fiéis, ouvir seus sacerdotes, ouvir os outros, a
sociedade, e depois agir. Mas, no final, é um produto da escuta e não apenas de
uma decisão pessoal". Por isso, "quando há pessoas que têm medo da
horizontalidade, eu pessoalmente não entendo". (Dom Miguel Cabrejos)
Em vista da
segunda sessão em 2024, são oferecidas reflexões e propostas sobre temáticas
como o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e
o diaconato, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o
ecumenismo e os abusos.
REFERENCIAS
Carta ao povo de Deus.
Dom Vital Corbellini. O
SÍNODO A COMUNHÃO A PARTICIPAÇÃO E A MISSÃO
https://www.cnbb.org.br/o-sinodo-a-comunhao-a-participacao-e-a-missao/
Dom Miguel Cabrejos. Sínodo: “tudo
é um processo, um processo que começou há muito tempo"
Andrea Tornielli. A pequena luz do
Sínodo na hora escura do mundo