O
Bispo e os Padres
Rio de Janeiro (RV) - Estamos vivendo o 23º Curso
para os Bispos aqui no Rio de Janeiro. Um dos temas é sobre o Bispo e os
Presbíteros. Os temas fazem parte das comemorações dos 50 anos do Concílio
Vaticano II. Este Curso de Atualização Teológica para os Senhores Bispos, na
Casa de Retiros do Sumaré, foi iniciado por D. Eugênio Araujo Sales há 24 anos.
Como fruto da reflexão destes dias e mesmo em preparação a eles, aproveito o
ensejo para uma meditação “pública” do assunto, revendo alguns documentos do
magistério. Creio que esse relacionamento deve ser pautado pela mútua confiança
e renovado empenho de anunciar o Evangelho neste momento histórico e em todos
os seguimentos da sociedade.
O Bispo Diocesano preside o Presbitério. O presbitério deve estar unido ao seu
Bispo e não deve agir sem a presidência do seu pastor próprio. Por isso,
"os presbíteros diocesanos são, de fato, os principais e insubstituíveis
colaboradores da ordem episcopal, investidos do único e idêntico sacerdócio
ministerial de que o Bispo possui a plenitude. O Bispo associa-os à sua
solicitude e responsabilidade, de forma que cultivem sempre o sentido da
Diocese, fomentando ao mesmo tempo o sentido universal da Igreja" (cf. AS
75 – Documento da Congregação para os Bispos – “Apostolorum Successores –
Diretório para o ministério Pastoral dos Bispos)).
O Bispo, pai da família presbiteral, por meio do qual o Senhor Jesus Cristo,
Supremo Pontífice, está presente no meio dos batizados, sabe que é seu dever
dirigir o seu amor e a sua solicitude particular para os sacerdotes e os
candidatos ao sagrado ministério. O Bispo deve ajudar os seus sacerdotes, a
quem deve ter apreço, ouvir as suas dificuldades e velar para que o seu
presbítero exerça o seu ministério.
"As relações entre o Bispo e o presbitério devem inspirar-se e
alimentar-se da caridade e de uma visão de fé, de modo que os próprios vínculos
jurídicos, que derivam da constituição divina da Igreja, surjam como a
consequência natural da comunhão espiritual de cada qual com Deus (cf. Jo13,
35). Desta forma, será, também, mais frutuoso o trabalho apostólico dos
sacerdotes, uma vez que a união de vontades e de intenções com o Bispo
aprofunda a união com Cristo, o qual continua o seu ministério de chefe
invisível da Igreja por meio da Hierarquia visível" (cf. AS 76).
O Bispo Diocesano deve conhecer os seus sacerdotes pessoalmente, sua história
de vida, a sua família. Por isso, o Bispo, ao confiar um ofício eclesiástico ao
seu sacerdote, deverá levar em consideração entre outras coisas: "no
caráter e nas atitudes e aspirações, o seu nível de vida espiritual, o zelo e
os ideais, o estado de saúde e as condições econômicas, as suas famílias e tudo
o que lhes diga respeito" (cf. AS 76).
O Bispo Diocesano, antes de tudo, é o pai do seu padre. Deve lhe dar respeito,
carinho, ouvir pacientemente e considerar a trajetória do próprio sacerdote,
colocando-o em um trabalho pastoral, administrativo, curial, jurídico,
formativo, educacional, levando em conta sempre as suas aptidões.
Nestes tempos turbulentos em que os sacerdotes passam por grande fadiga ou
mesmo por dificuldades, o Bispo Diocesano seja o primeiro a promover e defender
o ministério de seus padres, incentivando o sacerdote a viver o seu sacerdócio:
"O Bispo nutra e manifeste publicamente a sua estima pelos presbíteros,
dando mostras de confiança e louvando-os se o merecerem; respeite e faça
respeitar os seus direitos e defenda-os de críticas infundadas; resolva
prontamente as controvérsias para evitar que as inquietações prolongadas possam
ofuscar a caridade fraterna e lesar o ministério pastoral" (cf. AS 77).
A atividade presbiteral visa o bem das almas, as necessidades da Igreja
Particular e a dignidade humana e sacerdotal, por isso "ao conferir
encargos, o Bispo julgará com equidade a capacidade de cada um e não
sobrecarregará ninguém com tarefas que, pelo seu número ou importância, possam
ultrapassar as possibilidades individuais e até lesar a sua vida interior"
(cf. AS 78).
"É, pois, oportuno que o Bispo favoreça, quanto for possível, a vida em
comum dos presbíteros, que corresponde à forma colegial do ministério
sacramental e retoma a tradição da vida apostólica para uma maior fecundidade
do ministério. Os ministros sentir-se-ão apoiados no seu compromisso sacerdotal
e no generoso exercício do ministério. Este aspecto tem uma especial aplicação
no caso dos que estão empenhados numa mesma atividade pastoral" (cf. AS
79).
Uma das preocupações do Bispo Diocesano deve ser as necessidades humanas dos
presbíteros: "Aos presbíteros não deve faltar o que seja condizente com um
nível de vida decoroso e digno, devendo os fiéis da Diocese estar cientes de
que lhes cabe o dever de apoiar tal necessidade" (cf. AS 80).
Em tempos de secularismo, é muito importante que o Bispo tenha consciência de
que:
"a) É necessário evitar a solidão e o isolamento dos sacerdotes, sobretudo
se forem jovens e exercerem o ministério em localidades pequenas e pouco
povoadas. Para resolver as eventuais dificuldades, convirá procurar a ajuda de
um sacerdote zeloso e entendido, bem como favorecer frequentes contatos com os
outros irmãos no sacerdócio, inclusive através de possíveis modalidades de vida
em comum.
b) Importa dar atenção ao perigo do hábito e do cansaço que os anos de trabalho
ou as dificuldades inerentes ao ministério possam causar. Consoante as
possibilidades da Diocese, o Bispo estudará, caso a caso, a forma de
recuperação espiritual, intelectual e física, que ajude a retomar o ministério
com renovada energia.
c) Empenhe-se o Bispo com paternal afeto em relação aos sacerdotes que por
cansaço ou por doença se encontram numa situação de fraqueza ou fadiga moral,
destinando-os a atividades que sejam mais convidativas e fáceis no seu estado,
agindo de forma a evitar o isolamento em que possam encontrar-se e, enfim,
acompanhando-os com compreensão e paciência para que se sintam humanamente
úteis e descubram a eficácia sobrenatural – pela união com a Cruz de Nosso
Senhor – da sua condição presente”. (Cf. AS 81).
Cabe ao Bispo velar para que o sacerdote viva o seu celibato como oblação total
a Deus e à Igreja. O Bispo não se descuide da formação permanente do seu
presbitério.
Na missa de segunda-feira, dia 27 de janeiro deste ano, o Papa Francisco, na
sua homilia, na Capela Santa Marta, recordou: “Os bispos não são eleitos apenas
para levar avante uma organização que se chama Igreja particular; são ungidos,
eles têm a unção e o Espírito do Senhor está com eles. Mas todos os bispos,
todos nós somos pecadores, todos! Mas somos ungidos. Mas todos nós queremos ser
mais santos a cada dia, mais fiéis a esta unção. E o que faz a Igreja
realmente, e o que dá unidade à Igreja é a pessoa do bispo, em nome de Jesus
Cristo, porque ele é ungido, não porque ele foi eleito pela maioria. Porque é
ungido. É nesta unção que uma Igreja Particular tem a sua força. E por
participação também os sacerdotes são ungidos”.
A unção – continuou o Papa – aproxima os bispos e os sacerdotes ao Senhor, e dá
a eles a alegria e a força “para levar para frente um povo, a viver ao serviço
de um povo”. Doa a alegria de sentirem-se “escolhidos pelo Senhor, seguidos
pelo Senhor, como aquele amor com que o Senhor olha para nós, para todos nós”.
Assim, “quando pensamos nos bispos e sacerdotes, devemos pensá-los assim:
ungidos”. “Ao contrário, não se entende a Igreja, mas não só não a entendemos
como não se consegue explicar como a Igreja vai avante somente com as forças
humanas. Esta diocese vai avante porque tem um povo santo, tantas coisas, e
também um ungido que a conduz, que a ajuda a crescer. Esta paróquia vai para
frente porque há muitas organizações, tantas coisas, mas também tem um
sacerdote, um ungido que a leva para frente.
E nós na história conhecemos uma mínima parte: quantos bispos santos, quantos
sacerdotes, quantos padres santos que deixaram as suas vidas e dedicaram-se ao
serviço da diocese, da paróquia; quantas pessoas receberam a força da fé, a
força do amor, a esperança desses párocos anônimos, que nós não conhecemos.
Existem muitos deles”. São tantos – disse o Papa Francisco –, “os párocos do
interior ou da cidade, que com a sua unção deram força ao povo, transmitiram a
doutrina, deram os sacramentos, isto é, a santidade”: “Mas, padre, eu li em um
jornal que um bispo fez tal coisa, ou que um padre fez tal coisa. Oh sim,
também eu li, mas, me diga, os jornais dão também notícias daquilo que fazem
tantos sacerdotes, tantos padres em muitas paróquias da cidade ou do interior,
que fazem tanta caridade, tanto trabalho para levar avante o seu povo? Isso,
não! Isso não é notícia. É sempre assim: faz mais barulho uma árvore que cai,
do que uma floresta que cresce. Hoje, pensando na unção de Davi, nos faz bem
pensar em nossos bispos e nos nossos sacerdotes corajosos, santos, bons, fiéis,
e rezar por eles. Graças a eles hoje nós estamos aqui”.
O Bispo Diocesano não governa a sua Diocese sozinho. Ele o faz em comunhão com
o seu presbitério. No diálogo das várias instâncias diocesanas, desde o Colégio
Episcopal, com os seus Bispos Auxiliares, o Colégio dos Consultores e o Conselho
Presbiteral, o Bispo vai amadurecendo o seu modo de agir como aquele que, em
nome de Cristo Cabeça, guia a Igreja Particular como autêntica esposa de
Cristo. O Bispo é o que mais deve ouvir. É o primeiro a ser o ponto de
"convergência", de superação de conflitos.
Além de colaboradores da ordem episcopal, os presbíteros são o rosto da Igreja,
aqueles ungidos que, indo ao encontro da "Ecclesia", vivem o anúncio
universal do Reino de Deus: "Conversão pastoral" e testemunho de
Cristo.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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