19 de abril de 2012

Síntese teologia de Leigos - Hístória da Salvação

A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO


 


Quando vivemos uma experiência que julgamos importante, tentamos registrá-la de alguma forma: tiramos uma foto, filmamos ou, simplesmente, escrevemos.


É mais ou menos isso que aconteceu com a Sagrada Escritura. As pessoas vivenciaram algo importante e sentiram a necessidade de transmiti-lo para as gerações futuras.


A dificuldade que eles tinham de registrar tais eventos era bem maior que a nossa. Imaginemos: como você faria para registrar determinados acontecimentos de sua vida se não soubesse escrever e não conhecesse os recursos da tecnologia? Difícil, né?


Essa era a dificuldade que o Povo bíblico enfrentou para registrar as experiências que tiveram com Deus. A maioria da população dos hebreus era analfabeta ou semi-analfabeta nos tempos mais remotos de sua história. A primeira forma que eles encontraram para conservar essa memória foi a transmissão oral. Quando a maioria da população começa a ser alfabetizada, durante o período monárquico (séc.X a.C.), então uma história do Povo hebreu começa a ser escrita.


Muitos cristãos perguntam quando e onde a Bíblia foi escrita. A pergunta deixa transparecer a idéia de que a Bíblia foi escrita como qualquer outro livro, capítulo por capítulo. Não foi assim. A Bíblia não é um livro "inventado". Não é só um conjunto de livros, mas cada livro é também um conjunto de textos, cada qual com sua história. O Antigo Testamento formou-se ao longo de oito a dez séculos e o Novo, ao longo de um século. Além disso, os livros, e dentro deles os textos, não estão em ordem cronológica. Para citar apenas um exemplo: o primeiro capítulo da Bíblia (Gn 1) é três séculos mais novo que o segundo capítulo (Gn 2).


Poderíamos comparar a Bíblia com uma casa que, ao longo dos anos, foi sendo construída, reformada, adaptada. Cada texto traz consigo a marca de seu tempo. Por isso, é importante, para a interpretação, conhecer o texto, sua composição, objetivo, etc.


Antes de ser escrita, a Bíblia foi vivida. Primeiro aconteceram os fatos e só muito tempo depois eles foram escritos.


Porém, tenhamos em mente que o sentido de história que os hebreus tinham não era o mesmo que nós entendemos hoje (pesquisa científica que busca explicar os acontecimentos de forma secular).


Para os hebreus a história, era antes de tudo História da Salvação que procurava mostrar a ação de Deus nos acontecimentos, uma história preocupada com a conservação da memória (Ex 17,14; Lc 22,19), história como Mestra da vida que ensina e educa.


Muitos documentos mais antigos foram pesquisados pelos escritores para redigir os Textos Sagrados: o Livro da História de Salomão (1Rs 11,41); os Anais dos Reis de Israel (1Rs 14,19; 16,5) e de Judá (1Rs 14,29; 15,7); a obra de Jasão de Cirene em cinco volumes (2Mc 2,19-32) entre outros.


Se esses documentos não chegaram até nós é porque não fazia parte do que a comunidade julgava essencial conservar para as gerações vindouras. Temos também outros documentos das épocas bíblicas que fazem menção a alguns eventos narrados na Escritura.


O fato é que história, literatura, mitologia, teologia e narrativas populares se misturam na Sagrada Escritura de tal forma que nem sempre fica fácil de separar. Não nos esqueçamos também da dimensão simbólica e profética que a Palavra de Deus também alcança.


Enquanto escrita podemos dizer que a história do Povo hebreu começa durante a monarquia, mas enquanto evento se inicia com Abraão, pois é o primeiro personagem sobre o qual podemos identificar um fundo histórico.


 


A HISTÓRIA DOS PATRIARAS


A história bíblica não começa com Adão, mas com Abraão, um pastor da Mesopotâmia que viveu no século XVIII/XIX aC. Os acontecimentos que dizem respeito a sua vida e a sua descendência (Isaac, Jacó e seus doze filhos) estão reunidos no livro do Gênesis (Gn 12-50).


Qual a origem e significado do termo “hebreu”?


Esse nome vem da raiz ‘a-vár’, que significa “passar, transitar, atravessar, cruzar”. Esse nome denota viadantes, aqueles que ‘passam adiante’. Isto porque os israelitas por um tempo realmente levaram uma vida nômade.


Os hebreus tiveram uma história de migração, lutas, fugas e cativeiros, mas procuravam e conseguiram preservar sua cultura.


A civilização hebraica, formada por pastores nômades viviam na cidade de Ur, na Mesopotâmia. Conduzidos por Abraão, partiram de Ur e se estabeleceram na Palestina. No meio do seu território havia o rio Jordão, que fazia da região a área mais fértil e favorável para a agricultura. Eles chegaram a Palestina por volta de 1850 a. C., esse território era conhecido como terra de Canaã.


O povo Hebreu, também conhecido por judeus ou israelitas, é o povo da Antigüidade que possui o maior e mais fiel número de registros históricos, sendo a Bíblia Sagrada sua fonte de informações mais precisa, e auxiliadora no encontro de vários achados arqueológicos. O princípio deste povo esta em Sem, pai dos povos Semitas. Conforme a Bíblia, Sem teve por filhos: Elam, origem dos islamitas, Assur, origem dos assírios, Arfaxade, origem dos caldeus, Lude e Arã. Arfaxade gerou a Heber, origem da nomenclatura "hebreu" e também seu fundador, da descendência de Heber veio Taré, pai de Abraão, que nasceu na cidade de Ur dos caldeus.


Mas nessa época não se escrevia nada. Os fatos mais importantes como nascimentos, matrimônios, migrações, guerras, mortes ... foram conservados oralmente no seu clã.


É praticamente impossível saber quais textos foram escritos nessa época. Alguns autores afirmam que provavelmente devemos a essa época o "Canto de vingança de Lamec" (Gn 4,23) e, "as bênçãos de Noé" (Gn 9,25-27). Porém, esses textos foram retocados ao longo dos séculos.


Segundo a Bíblia, Abrão morava em Ur dos caldeus (Gn 11,27-32), era um pastor itinerante, até que Deus muda seu nome para Abraão (Gn 17,5) – que significa – PAI DAS NAÇÕES. Na cidade de Harã, aos setenta e cinco anos de idade, Deus lhe aparece e ordena que ele saia de sua terra em busca da Terra Prometida (Gn 12,1-3), localizada atualmente na região da Palestina, e que na época bíblica era chamada Canaã.


Dt 26,5, diz: "Meu pai era um arameu errante".


Esta confissão de fé, lida e lembrada ao longo das gerações, recordava ao povo da Bíblia sua origem e seu pai comum: Jacó, um arameu errante à procura de terra, que tinha sido escravizado no Egito.


Essa recordação foi provavelmente a semente de onde nasceu toda a experiência do povo da Bíblia, e que animou gerações e gerações a caminhar com Deus em busca de terra e liberdade. Jacó (também chamado Israel) era descendente de Abraão.


Canaã era a terra dos cananeus, na região onde se encontra hoje a terra de Israel. Abraão sai à procura de uma nova terra, e em Canaã nascem seus filhos e netos;


Abraão e seus descendentes, Isaac e Jacó, são conhecidos como "patriarcas", pois foram eles os pais do povo da Bíblia. Abraão foi o pai na fé, aquele que por primeiro acreditou em Deus quando tudo à sua volta parecia impossível.


Um dos Filhos de Jacó, José, é vendido como escravo pelos irmãos (Gn 37,12-36) e vai parar no Egito, onde acaba sendo preso e depois se torna administrador do Egito, uma espécie de vice-rei (Gn 39ss). É através dele que o povo de Israel, entra nessa terra. Muitos estudiosos relacionam a entrada dos hebreus no Egito à invasão dos hicsos (1730 a.C. – 1550 a.C.), momento em que facilmente um não egípcio poderia ganhar um cargo importante como o de José.


Os descendentes de Abraão, por causa de uma grande fome, foram obrigados a emigrar para o Egito, no final do século XVIII aC.


No início do século XVI aC, os egípcios conseguiram expulsar muitas tribos invasoras. É provável que nesse período algumas tribos israelitas também foram expulsas. As que permaneceram no Egito foram escravizadas.


Os faraós, reis do Egito, escravizaram e oprimiram os hebreus. Deus, porém, faz surgir um líder, Moisés, que conduz o povo hebreu num movimento de libertação, de fuga do Egito, em busca de uma nova terra, de liberdade e vida. Deus promete ao povo uma terra, e essa promessa anima o povo a sair em busca de liberdade. Essa libertação aconteceu pelo ano 1250 aC liderada por Moisés.


Fugindo do Egito, essas tribos se reuniram nas regiões do monte Sinai, onde celebraram uma aliança com Deus. Moisés foi um verdadeiro líder, embora não fosse guerreiro. Foi ele que instituiu um conjunto de leis. Provavelmente provém dele o chamado "Decálogo" (as dez palavras) conservado em duas redações (Ex 20,2-17 e Dt 5,6-21); o "Código da Aliança" que desenvolve o Decálogo (Ex 20,22-23,19). Podem pertencer a esse tempo alguns outros pequenos textos: o refrão do cântico do Mar Vermelho (Ex 15,21) e o Cântico da Arca (Nm 10,35-36).


Após um ano de permanência no Sinai, as tribos, que agora formavam um povo, partiram em direção de Canaã, terra prometida por Deus a Abraão e a seus descendentes. Os israelitas permaneceram por quarenta anos no deserto. Trinta e oito anos acampados na região de Cades Barne. Só depois conseguiram tomar a terra que era habitada por muitos outros povos, sobretudo pelos cananeus. A invasão ocorreu na região de Jericó. Moisés, como a grande maioria dos que saíram do Egito, não entrou na terra prometida. Moisés morreu no monte Nebo, na região de Moab.


Durante toda a estadia no deserto, muitas leis foram criadas, muitos fatos do passado foram lembrados e recontados às novas gerações. Toda a história da libertação do Egito, o caminho pelo deserto e as leis estão contidos nos livros do Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.


Este movimento de libertação, no entanto, foi difícil e longo. Foi uma caminhada de 40 anos pelo deserto, em direção a Canaã. Moisés morre antes de chegar à Terra Prometida, e Josué o substitui na liderança do povo.


Josué, sucessor de Moisés, liderou a conquista da terra. A ocupação do território foi um processo longo. Os cananeus ocupavam as regiões mais férteis. Os israelitas foram obrigados a se estabelecer nos espaços livres, nas montanhas que não eram tão férteis. Ao entrar no país, Josué renovou com as tribos a Aliança do Sinai nos montes Ebal e Garizim.


A esse respeito é importante o texto de Js 24,1-28. Provavelmente, ali foi criada uma espécie de confederação das tribos israelitas. Ao estabelecer-se em Canaã, os israelitas tiveram que mudar seu estilo de vida. De nômades, tornaram-se sedentários; de pastores se transformaram em agricultores. Além disso, tiveram que conviver com outros povos com culturas e religiões diferentes.


Do final do século XII até meados do século XI aC, os israelitas mantiveram sua organização de tribos confederadas. Cada tribo era independente, mas se reuniam nos antigos santuários dos patriarcas (Guilgal, Betel, Siquém, Hebron) para refazer a Aliança e celebrar o Deus comum.


Nos momentos de perigo para uma das tribos, se constituía um chefe militar que organizava um exército com homens de algumas outras tribos para combater o inimigo. Esses chefes receberam o nome de Juízes. O livro de Juízes conta a história de doze deles. Os mais importantes foram Gedeão e Sansão. Alguns textos bíblicos são dessa época: a entrada na terra de Canaã (Js 1); o cântico de Débora (Jz 5); a bênção de Jacó (Gn 49); o "mandamentos de Siquém" (Dt 27,15-26).


Organização das 12 tribos


Gn 35,22b-26


De sua primeira esposa Lia:


1.Rúben          2.Simeão         3.Levi


4.Judá             5.Issacar          6.Zabulon


Também Lia lhe deu uma filha que foi chamada Diná (justificada).


Da sua serva Zilpa (serva de Lia): Gn 29,24


1.Gad              2.Aser


De sua segunda esposa Raquel:


1. José             2. Benjamim


Da sua serva Bala (serva de Raquel)  - Gn30,5:


1.Dã                2.Neftali


Manassés e Efraim são filhos de José (Gn 41,51)


Até aproximadamente o ano 1030 aC, as tribos de Israel permaneceram autônomas, unidas apenas por um passado comum e pela religião. A experiência das tribos lideradas pelos Juízes não durou muito tempo. Samuel foi o último dos Juízes que levou adiante a organização das tribos sem um rei. Mas, a ameaça cada vez maior dos filisteus fez com que procurassem uma maior unidade. Nasceu, assim, a monarquia. Saul, da tribo de Benjamim, foi escolhido por Deus e ungido pelo profeta Samuel como primeiro rei de Israel (1030-1010 aC).


A princípio, Saul foi bem sucedido contra os filisteus e os amonitas. As guerras ocuparam quase todo o seu tempo. Os textos bíblicos o apresentam como um homem infeliz, ofuscado pelo profeta Samuel e pelo jovem guerreiro Davi. Com sua morte, os filisteus retomaram os territórios e praticamente dividiram o reino israelita em duas partes.


Era necessário um rei que mantivesse a unidade nacional. Davi (1010-970 aC) foi escolhido rei, primeiro pelas tribos do sul, em Hebron, e sete anos depois pelas tribos do norte. Davi foi, na realidade, o fundador da monarquia em Israel. Dominou os filisteus e ampliou as fronteiras de Israel. Conquistou a cidade de Jerusalém e a transformou em capital do reino.


No campo religioso, sempre se mostrou fiel à Aliança. Poeta e cantor, provavelmente compôs alguns salmos e hinos. Sucedeu-lhe no trono seu filho Salomão (970-930 aC), homem sábio, político e administrador. Construiu o Templo de Jerusalém em 960 aC.


Na época do terceiro rei, Salomão, surgem os primeiros escritos da Bíblia, que reuniam as tradições que se transmitiam oralmente de geração em geração.


Em seu tempo floresceu a literatura em Israel. Surgem os arquivos, anais e crônicas do reino. Nesse tempo, um grupo de escribas ligados à corte começou a reunir e escrever as antigas tradições sobre os patriarcas, o êxodo, a conquista da terra, o reino de Davi.


É a primeira grande obra narrativa da Bíblia. Foi chamada de Documento JAVISTA porque sempre chama Deus de Javé. Encontramos essa grande narrativa espalhada pelos livros do Gênesis, Êxodo, Números e com grande probabilidade nos livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis. Também muitos provérbios e sentenças atribuídos a Salomão foram reunidos e estão espalhados no livro dos Provérbios (cf. Pr 25-29).


A monarquia dividida


Quando morre o rei Salomão, em 931, as tribos encontram-se numa situação difícil de brigas políticas internas. As tribos do norte não querem aceitar o filho de Salomão como rei, e o reino acaba sendo dividido em dois.


Com a morte de Salomão, as tribos se dividiram em dois reinos independentes política e religiosamente. O Reino do Sul, ou de Judá, com apenas duas tribos, com capital em Jerusalém; e o Reino do Norte, ou de Israel, com capital na cidade de Samaria.


O Reino de Israel durou de 931 a 721 aC. Seus reis não foram descendentes de Davi. Durante os 210 anos de existência, Israel foi governado por 19 reis, pertencentes a 9 diferentes dinastias. Ali viveram e pregaram os profetas Elias e Elizeu e mais tarde Amós e Oséias.


Sob a influência desses dois últimos profetas, surgiu no Reino de Israel, nos meados do século VIII, o Documento Eloísta. Como o Javista, procurou resgatar todas as tradições  anteriores sobre os patriarcas, a libertação do Egito e a conquista da terra. Recebeu o nome de Eloísta, por que chama Deus de Eloim. Como o Documento Javista, o Eloísta está presente nos Livros de Gênesis, Êxodo e Números.


Em 721, o Reino de Israel foi destruído por Sargon II, rei da Assíria. Toda a população foi levada para o exílio. Alguns sacerdotes e escribas que conseguiram fugir levaram o Documento Eloísta para o Reino de Judá.


O Reino de Judá existiu de 931 a 586 aC. Todos os reis foram descendentes de Davi em linha reta. Durante todos esses anos continuou o processo de redação da história e a readaptação de leis e costumes. No reinado de Ezequias (721 a 698 aC) foi feita a fusão dos Documentos Javista e Eloísta.


Nesse processo, provavelmente algumas narrativas eloístas foram suprimidas, sobretudo do início. Nasceu, assim, um único texto com narrativas dos dois documentos. Ainda sob Ezequias, foram compilados os provérbios de Salomão (Pr 10,1-22,16; 25,1-29,27); e foi feita a redação do Livro dos Juízes.


Em 622 aC, o rei Josias (640-609 aC) promoveu uma grande reforma religiosa no país (cf. 2Rs 22-23). Durante a reforma foi encontrado no templo de Jerusalém o "Livro da Lei" que constitui o núcleo central do Livro do Deuteronômio. Provavelmente esse livro foi redigido no Reino de Israel e trazido depois para Judá. Ainda sob Josias é redigida a "Lei de Santidade" (Lv 17-26).


No Reino de Judá, pregaram os profetas Isaías (734-698 aC), Miquéias, Sofonias (630 aC), Naum (612 aC), Habacuc (600 aC), Jeremias (627-585 aC) e Ezequiel, que era um sacerdote (593 a 571 aC). Suas pregações deram origem aos livros bíblicos que levam seus nomes.


Em 586 aC, Nabucodonosor, rei da Babilônia, conquistou Jerusalém. A população foi levada para o exílio, o templo e a cidade destruídos. São dessa época as Lamentações.


O exílio na Babilônia durou até 538 aC. Durante esse tempo, os sábios judeus releram a história do povo à luz da catástrofe. Os exilados foram confortados pelos profetas Ezequiel e por um profeta anônimo, chamado depois de Dêutero(Segundo)Isaías. Nesse período, surgiram as sinagogas como lugares de oração e de estudo. Os textos escritos se tornaram mais importantes.


Os sacerdotes reuniram, mais uma vez, as antigas tradições patriarcais, do êxodo e da conquista da terra, e redigiram o Documento Sacerdotal, dividindo toda a história em quatro etapas: a criação, a aliança com Noé, a aliança com Abraão e a aliança com Moisés.
A história sacerdotal, como a Javista e a Eloísta, encontra-se nos livros de Gênesis, Êxodo e Números.


Ainda, durante o exílio, foi feita a última redação da chamada História Deuteronomista que compreende os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis. Foram terminados, também, os livros de muitos profetas.


Em 539 aC, Ciro, rei da Pérsia, conquistou a Babilônia. Em 538 aC, permitiu aos exilados judeus voltarem para sua terra e reconstruir Jerusalém e o Templo. Aqueles que voltaram, depois de muitas dificuldades, mas incentivados pelos profetas Ageu e Zacarias, reconstruíram Jerusalém e, em 515 aC, reconsagraram o Templo.


Em 445 aC, Neemias, copeiro do rei Artaxerxes I, chegou a Jerusalém como governador e reconstruiu os muros da cidade. Logo depois veio Esdras que era escriba e sacerdote. Era um homem da Lei, considerado o pai do judaísmo. Deve-se a ele a redação final do Pentateuco com a fusão em um único texto dos Documentos Javista, Eloísta e Sacerdotal. Assim, provavelmente, pelo ano 440 aC, o Pentateuco recebeu sua forma atual.


Sob a influência de Esdras, cresceu o prestígio dos sábios e escribas. Nesse contexto, nasceram os livros dos Provérbios e o Cântico dos Cânticos. Foi também, redigido o livro dos Salmos que, ao que parece, serviu como livro de oração e cânticos no "segundo templo". O domínio persa durou dois séculos (539-332 aC).


Surgiu, então, Alexandre Magno da Macedônia que conquistou toda a Ásia. Com as conquistas de Alexandre Magno, a cultura grega espalhou-se por toda parte. O grego tornou-se a língua mais falada. Alexandre morreu com apenas 33 anos de idade e seu vasto império foi dividido entre seus generais. Durante todo o século III aC, Israel ficou sob o domínio dos Ptolomeus do Egito.


Nessa época, foi composta a História Cronista que abrange os dois livros de Crônicas, Esdras e Neemias. Do século III aC são ainda os livros de Jó, Eclesiastes, Rute e Jonas. Nesse período pregaram os profetas Joel e o chamado Segundo Zacarias (Zc 9-14). Foi, também, no século III aC, que em Alexandria do Egito iniciou-se a tradução grega da Bíblia.


Em 198 aC, os Selêucidas da Síria tomaram o território de Israel. A princípio a situação política não mudou muito. Mas com Antíoco IV Epífanes (175-164 aC) começaram os problemas. Com o objetivo de unificar seu reino com a cultura grega, Antíoco proibiu a circuncisão, o culto no templo e mandou queimar as cópias da Lei (Pentateuco).


Nesse período de perseguição foram escritos os livros de Tobias, Ester, Judite e Eclesiástico. Os judeus, liderados pelos Macabeus, iniciaram a luta contra o domínio sírio. Os dois livros de Macabeus narram a história da revolta e a conquista da independência. Pelo ano 165 aC, foi escrito o livro de Daniel e entre 150 e 100 aC os dois livros dos Macabeus. O livro da Sabedoria é o último livro do AT, escrito por volta do ano 50 aC.


O período de independência foi muito curto e marcado por brigas internas entre os descendentes dos Macabeus. No ano 63 aC, Israel passou para o domínio romano.


Em 40 aC, Herodes Magno, um idumeu, foi declarado, pelo senado romano, rei de Israel. Herodes assumiu o governo no ano 37 e reinou até o ano 4 aC. Durante seu reinado, nasceu Jesus em Belém da Judéia. Com sua morte, seu reino foi dividido pelo imperador romano entre seus filhos, que receberam o título de tetrarcas.


As datas que são as mais comumente admitidas, tendo, porém, valor apenas aproximativo. Como ponto de partida, no uso da era vulgar ou cristã, enquanto o ano 1 deveria ser o do nascimento de Jesus, cumpre dizer, de fato, que, por causa de um erro inicial de cálculo cometido pelo primeiro que introduziu essa era no cômputo das datas (o monge Dionísio, o Pequeno, no ano 525), deve-se transportar aquele memorável e fundamental acontecimento para alguns anos atrás.


Ano - 5. Nascimento de Jesus Cristo (Mt 2,1; Lc 2,1-7).


Ano + 8. Jesus perdido e encontrado no templo aos 12 anos (Lc 2,41-51).


Ano 28. Pregação de S. João Batista (Lc 3,1-3). Batismo de Jesus e início de sua vida pública (Mt 3,13-4,17 e paralelos).


Ano 30. Paixão, morte e ressurreição de Jesus; com a descida do Espírito Santo começa a pregação dos apóstolos e constitui-se a Igreja primitiva.


Ano 34. Martírio de Sto. Estêvão. Conversão de Saulo (S. Paulo).


Arquelau herdou a Judéia e a Samaria. Foi destituído do cargo no ano 6 dC por causa de sua crueldade. A Galiléia ficou com Herodes Antipas que morreu em 39 dC. Foi ele que mandara decapitar João Batista.


A novidade de Jesus Cristo


Jesus aparece na história humana quando o povo de Deus alimentava a esperança de reconquistar a liberdade e a vida e de poder dispor da própria terra sem os mandos e desmandos de potências estrangeiras. Jesus reúne seguidores, ensina e age como Mestre. Seu ensinamento baseia-se no amor sem limites, sobretudo pelos pequenos, fracos e excluídos.


Jesus vem revelar o projeto de vida de Deus Pai, o mesmo projeto da Aliança que Deus havia feito com o povo no tempo de Moisés e que tinha sido abandonado. Nesse projeto não havia lugar para a violência: Jesus ensinava a amar até os inimigos. Não havia lugar para a exploração: Jesus criticou o comércio que se fazia no Templo de Jerusalém, que havia transformado um lugar de oração em "toca de ladrões".


Tendo incomodado as lideranças judaicas, que viram seu poder ameaçado e tiveram o apoio das autoridades romanas, que não queriam se comprometer com agitações populares, Jesus foi condenado à morte, mas sua vida não terminou na cruz. Depois de três dias ele reapareceu aos discípulos, vivo novamente, ressuscitado.


Quando Jesus começou sua atividade pública, no ano 27 dC, a Judéia era governada por um procurador romano, Pôncio Pilatos. Seu ministério público durou aproximadamente três anos. Morreu no ano 30 da nossa era. Nesse mesmo ano, com a força do Espírito Santo, os apóstolos começaram a pregação da Boa-Nova da Salvação. A princípio, era uma pregação oral.


Primeiras comunidades cristãs


Depois da ressurreição, antes de subir definitivamente para junto do Pai, Jesus envia aos seus seguidores o Espírito Santo, o Espírito que animará a comunidade dos discípulos e os fará recordar tudo o que ele havia feito e falado enquanto estava entre os homens.


De início, judeus e cristãos eram confundidos, mas logo os judeus passam a persegui-los. Saulo era um desses perseguidores, mas na estrada de Damasco, teve uma visão de Jesus que lhe tocou profundamente (At 9), a ponto de ele mudar seu nome para Paulo e se tornar um dos maiores divulgadores do Cristianismo dos tempos apostólicos, por isso, ele é conhecido como ― apóstolo dos Gentios, por evangelizar os pagãos.


Ano 37. S. Paulo, fugindo de Damasco, faz sua primeira visita a Jerusalém, hóspede de S. Pedro (At 9,23-28; Gl 1,18). S. Pedro evangeliza a Judéia e a Samaria; acolhe na Igreja os gentios convertidos (At 9,31-11,18). Cristandade de Antioquia.


Ano 43. Martírio de S. Tiago. S. Pedro, libertado do cárcere, "dirige-se para outro lugar (At 12,1-17), provavelmente para Roma. Dispersão dos apóstolos por toda a terra."


Ano 45. Primeira viagem apostólica de S. Paulo (At 13,1-14,25).


Ano 50. Concílio dos apóstolos em, Jerusalém; decreto para os convertidos do gentilismo (At 15,1-31).


Animados por esse Espírito, a mensagem e a proposta de vida de Jesus começam a se espalhar por todas as partes, sobretudo pela ação corajosa do apóstolo Paulo, que se dirigiu especialmente às pessoas que não pertenciam ao povo judeu. Assim, aparecerão comunidades formadas tanto de pessoas vindas do povo judeu quanto de outros povos, comunidades que procurarão viver na prática os ensinamentos de Jesus, buscando relações de fraternidade, de serviço e de vida para todos.


Com o passar do tempo, os apóstolos foram morrendo ou tiveram que fugir por causa da perseguição movida pelos judeus. Os cristãos foram, então, obrigados a escrever a pregação dos apóstolos. Os primeiros livros do NT são as duas cartas de Paulo aos Tessalonicenses, escritas em Corinto pelo ano 50 ou 51 dC.


Ano 50-52. Segunda viagem apostólica de S. Paulo, através da Ásia Menor, pela Acaia da Macedônia e da Grécia (At 15,36-18,22). Suas Epístolas aos fiéis de Tessalônica.


Ano 53-57. Terceira viagem apostólica de S. Paulo, pela Ásia Menor e pela Macedônia (At 18,23-21,2). As grandes Epístolas aos coríntios e aos romanos.


Ano 57-59. S. Paulo prisioneiro em Cesaréia da Palestina (At 21,17-26,32).


As Cartas aos Coríntios, aos Gálatas e provavelmente Filipenses foram escritas em
Éfeso entre os anos 56 e 57 dC. Romanos foi composta em 58 dC na cidade de Corinto. Do ano 60 dC, aproximadamente, é a carta de Tiago.


Entre 61 e 63 dC, durante sua prisão em Roma, Paulo escreveu as cartas aos Colossenses, aos Efésios e o bilhete a Filêmon. Dessa época é, também, a primeira carta de Pedro que morreu martirizado em Roma no ano 64 dC. A primeira carta a Timóteo e a carta a Tito são do ano 66 dC. No ano 67 dC foi escrito o primeiro dos quatro evangelhos, o de Marcos, em Roma. Pouco antes de sua morte, em Roma, no ano 67 de, Paulo escreveu sua última carta: a segunda carta a Timóteo.


No ano 65 de nossa era, Nero põe fogo em Roma e acusa aos cristãos, o que serve de pretexto para persegui-los, essa é a primeira grande perseguição. É nessa época que Pedro e Paulo são executados em Roma. Mais ou menos nesse período é que o Evangelho de Marcos recebe sua forma final – compilando e ordenando tradições orais antigas contemporâneas a Jesus.


No ano 70, o Templo de Jerusalém é destruído pelos romanos, isso desencadeará uma profunda transformação da religião dos judeus. É após esses fatos que os Evangelhos de Mateus e Lucas (e os Atos dos Apóstolos) recebem sua forma final pelos anos 80.


Na década de 80, sobe ao trono romano Domiciano, quem irá promover a segunda grande perseguição aos cristãos.


Entre os anos 90 e 100 dC, foram compostos o evangelho de João, o Apocalipse, as três cartas de João e a carta de Judas.


Muito provavelmente é sobre ele que o Livro do Apocalipse se refere ao falar da Besta (Ap 13). No final do primeiro século, todo o Novo Testamento já havia sido composto e o cristianismo já era uma religião firme.


A segunda carta de Pedro é de um autor desconhecido e é de data aproximada ao ano 100 dC.


Além disso, os apóstolos e outros líderes tinham no escrito certo número de cartas a várias comunidades e indivíduos. Como estas continuamente continham orientações gerais sobre a vida e a fé cristã, não tardou a ser reconhecida a sua utilidade para toda a igreja. O livro dos Atos dos Apóstolos foi aceito, porque continuava a história do evangelho de Lucas e continha a única narração completa do início do cristianismo.


Se sabe que entorno ao ano 200 d.C. a Igreja usava oficialmente os quatro evangelhos e não outros, embora circulassem lendas fantasiosas sobre Jesus escritos de outros líderes cristãos que sucederam aos apóstolos (os chamados Apócrifos). A grande tradição da igreja aceitou claramente só os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João como autoridade sobre a vida e os ensinamentos de Jesus. Por aquela época também as cartas de Paulo já tinham aceitação geral, como escritos que tinham importância igual à dos evangelhos.


O Cânon Sagrado


No século IV, a Igreja se reuniu em Concilio em Nicéia, e uma das tarefas era organizar o "cânon", ou a lista de livros sagrados considerados autênticos. Neste Concilio, os livros foram estudados e se investigou quais os que sempre foram lidos nos cultos e sempre foram considerados legítimos. E se estabeleceu a ordem ainda hoje conservada.


O motivo pelo qual alguns livros foram postos em dúvida era a grande quantidade de livros apócrifos, que fazia com que se duvidasse dos verdadeiros. Havia muitos livros que os judeus não aceitavam.


Refletindo sobre a longa história bíblica, podemos perceber que a história do Povo de Deus e a história de Deus se entrelaçam e é nessa história, de lutas, sofrimentos, lágrimas, (in)fidelidades, pecado e graça que a Palavra de Deus se manifesta a tal ponto que ― o Eterno entra no tempo, o tudo se esconde no fragmento, Deus assume o rosto do homem‖ (papa João Paulo II) e o extraordinário se faz presente no ordinário da vida, simplesmente como mostra do amor radical de um Deus que nos ― amou de tal forma que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna... para que o mundo seja salvo por meio Dele (Jo 3,16s).

16 de abril de 2012

Bebês anencefálicos podem ser abortados?

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo

O tema representa um sério desafio atual, a ser abordado com serenidade e objetividade, tendo em conta critérios antropológicos e éticos gerais, e também os referenciais do ordenamento jurídico brasileiro, a começar da própria Constituição Nacional. O Supremo Tribunal Federal deverá pronunciar-se sobre a “legalidade” do abortamento de fetos, ou bebês acometidos por essa grave deficiência, que não lhes permitirá viver por muito tempo fora do seio materno, se chegarem a nascer.

A partir da minha missão de bispo da Igreja e cidadão brasileiro, sinto-me no dever de manifestar minha posição e de dizer uma palavra que possa ajudar no discernimento diante da questão. A decisão tem evidentes implicações éticas e morais; desejo concentrar minha reflexão sobre alguns desafios muito específicos, que se referem à dignidade da pessoa e da vida humana.

Em relação aos anencéfalos, existe o pedido da Confederação dos Trabalhadores da Área da Saúde para que o Supremo Tribunal Federal reconheça e estabeleça a legalidade da “antecipação terapêutica do parto” desses bebês, com forte pressão de grupos favoráveis ao aborto. No calor de muita emoção, podem não ser adequadamente percebidos os examinados argumentos falaciosos, que acabam por se tornar deecisivos.

Os principais argumentos alegados a favor do aborto, nesse caso, são os seguintes:

a )  Tratar-se-ia de “vidas inviáveis” fora do útero materno; uma vez que os anencéfalos não sobrevivem por muito tempo fora do seio materno, para que manter semelhante gravidez e levá-la até o fim?

b)      A gravidez de um anencéfalo representaria, para a mãe, um sofrimento insuportável, uma verdadeira “tortura”, que degradaria a dignidade da mulher;

c)      Tratando-se de uma “anomalia”, o ser daí resultante seria indefinível, um “não-ser”, um “não-humano”; portanto, em relação a ele não entrariam em questão os argumentos do respeito à vida e à  dignidade humana;

d)     Toda a atenção deveria ser dada à mãe, nesses casos, o único sujeito de direitos e de dignidade, a ser tutelado e protegido pela lei;

e)      Os bebês anencéfalos seriam “natimortos”, pois a ausência parcial ou total do cérebro equivaleria à morte cerebral; para que manter tal gravidez? Por isso mesmo, os bebês acometidos por essa anomalia,  que chegam a nascer, podem ser colocados na mesma condição dos adultos que estão com “morte cerebral” e seus órgãos poderiam ser retirados e doados.

f)       O Brasil é um dos países que têm a maior incidência de anencefalia; seria necessário baixar este triste quadro.

Como se pode perceber facilmente, esses argumentos mereceriam ser examinados profundamente por peritos da área médica, do direito e da ética. De qualquer modo, as implicações morais são graves e não podem ser simplesmente resolvidas na emoção de um debate na opinião pública, ou a partir dos resultados de pesquisas de opinião, o que pode ser uma fácil tentação.

Os principais argumentos empregados pela CNBB são os seguintes:

a)      O anencéfalo, malgrado a sua condição, é um ser humano vivo; por isso, ele merece todo o respeito devido a qualquer ser humano; ainda mais, por se tratar de um ser humano extremamente fragilizado; a sociedade, por meio de suas Instituições, deve tutelar o respeito pleno à sua frágil vida e à sua dignidade.

b)      O sofrimento da mãe é compreensível e deve ser levado plenamente a sério; mas não pode ser argumento suficiente para suprimir a vida de um bebê com anomalia. Se o sofrimento da mãe, ainda que grande, fosse considerado argumento válido para provocar um aborto, estaria sendo aprovado o princípio segundo o qual pode ser tirada a vida de um ser humano que causa sofrimento grave a um outro ser humano. Não só em caso de aborto...

c)      O sofrimento da mãe, que é pessoa adulta, pode e deve ser mitigado de muitas maneiras, quer pela medicina, pela psicologia, pela religião e pela solidariedade social; além disso, trata-se de um sofrimento circunscrito no tempo, que pode mesmo dignificar a mulher que o aceita, em vista do filho; mas a vida de um bebê, uma vez suprimida, não pode ser recuperada; e o sofrimento moral decorrente de um aborto provocado pode durar uma vida inteira. Além do mais, o sofrimento da mãe e o respeito à vida e à dignidade do filho são duas realidades de grandezas e pesos muito diversos e não podem ser, simplesmente, colocados no mesmo nível; o benefício do alívio de um sofrimento não pode ser equiparado ao dano de uma vida humana suprimida.

d)     É preconceituoso e fora de propósito afirmar que a dignidade da mãe é aviltada pela geração de um filho com anomalia; tal argumentação pode suscitar, ou aprofundar um preconceito cultural contra mulheres que geram um filho com alguma anomalia ou deficiência; isso sim, seria uma verdadeira agressão à dignidade da mulher.

e)      O valor da vida humana não decorre da duração dessa mesma vida, ou do grau de satisfação que ela possa trazer aos outros, ou a ela própria. O ser humano é respeitável sempre, por ele mesmo; por isso, sua dignidade e seu direito à vida é intocável.

f)       O cerne de toda a questão está nisso: os anencéfalos são “seres humanos”? São “seres humanos vivos”? Apesar dos argumentos contrários, não há como colocar em dúvida a resposta afirmativa às duas perguntas. Portanto, daí decorre, como conseqüência, que ele deve ser tratado como “ser humano vivo”.

g)      Permanece, de toda maneira, válido que só Deus é senhor da vida e não cabe ao homem eliminar seu semelhante, dando-lhe a morte; nem mesmo aqueles seres humanos que não satisfazem aos padrões estéticos, culturais, ou de “qualidade de vida” estabelecidos pela sociedade ou pelas ideologias. A vida humana deve ser acolhida, sem pré-condições; não somos nós que damos origem a ela, mas ela é sempre um dom gratuito. Não é belo, não é digno, não é ético, diante da vida humana frágil, fazer recurso à violência, ou valer-se do poder dos fortes e  saudáveis para dar-lhe o fim, negando-lhe aquele pouco de vida que a natureza lhe concedeu. Digno da condição humana, nesses casos, é desdobrar-se em cuidados e dar largas à solidariedade e à compaixão, para acolhê-la e tratá-la com cuidado, até que seu fim natural aconteça.

São Paulo, 03.04.2012

11 de abril de 2012

Síntese da Mensagem do Papa Bento XVI

49º Dia Mundial de oração pelas vocações
29 de abril de 2012 - IV Domingo da Páscoa

 A mensagem do Para Bento XVI para o 49º dia Mundial de oração pelas vacações tem por tema: As vocações, dom do amor de Deus.
O papa inicia lembrando que a fonte de todo o dom perfeito é Deus, e Deus é Amor – Deus caritas est –; «quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele» (1 Jo 4, 16). Fomos amados por Deus, ainda “antes” de começarmos a existir! Movido exclusivamente pelo seu amor incondicional, “criou-nos do nada” (cf. 2 Mac 7, 28) para nos conduzir à plena comunhão consigo. Trata-se de um amor sem reservas que nos precede, sustenta e chama ao longo do caminho da vida e que tem a sua raiz na gratuidade absoluta de Deus.
Cada vocação específica nasce da iniciativa de Deus, é dom do amor de Deus! É Ele que realiza o “primeiro passo”, e não o faz por uma particular bondade que teria vislumbrado em nós, mas em virtude da presença do seu próprio amor «derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5). O amor de Deus permanece para sempre; é fiel a si mesmo, à «promessa que jurou manter por mil gerações» (Sal 105, 8).
Continuando sua reflexão, Bento XVI cita o Evangelista Mateus, afirmando é para este amor que devemos abrir a nossa vida, pois a cada dia, Jesus Cristo chama-nos à perfeição do amor do Pai (cf. Mt 5, 48). Para vivermos o amor conforme a vontade do Pai, necessitamos aceitar e agir segundo a ligação indivisível entre “dois amores”, o amor a Deus e o amor ao próximo, que brotam da mesma fonte divina e para ela se orientam. Estas duas expressões do único amor divino devem ser vividas, com particular vigor e pureza de coração, por aqueles que decidiram empreender um caminho de discernimento vocacional em ordem ao ministério sacerdotal e à vida consagrada; aquelas constituem o seu elemento qualificante.
O amor ao próximo, que no âmbito do mistério da encarnação de Deus e da redenção humana é critério fundamental do verdadeiro amor a Deus, sobretudo no que se refere às pessoas mais necessitadas e atribuladas, é o impulso decisivo que faz do sacerdote e da pessoa consagrada um gerador de comunhão entre as pessoas e um semeador de esperança. Quanto a esta questão o para cita  o Santo Cura d’Ars, que dizia: “O padre não é padre para si mesmo; é-o para vós” [Le curé d’Ars. Sa pensée – Son cœur ( ed.  Foi Vivante - 1966), p. 100].
Seguindo sua reflexão Bento XVI se dirige diretamente à Igreja Povo de Deus com as seguintes palavras: “Venerados Irmãos no episcopado, amados presbíteros, diáconos, consagrados e consagradas, catequistas, agentes pastorais e todos vós que estais empenhados no campo da educação das novas gerações, exorto-vos, com viva solicitude, a uma escuta atenta de quantos, no âmbito das comunidades paroquiais, associações e movimentos, sentem manifestar-se os sinais de uma vocação para o sacerdócio ou para uma especial consagração. É importante que se criem, na Igreja, as condições favoráveis para poderem desabrochar muitos “sins”, respostas generosas ao amoroso chamamento de Deus”. E mais adiante lembra que é tarefa da pastoral vocacional oferecer os pontos de orientação para um percurso frutuoso. Bento XVI acentua o seu desejo de que as Igrejas locais, nas suas várias componentes, se tornem “lugar” de vigilante discernimento e de verificação vocacional profunda, oferecendo aos jovens e as jovens um acompanhamento espiritual sábio e vigoroso.
 Quanto às famílias, o papa recorda que elas são o lugar privilegiado da formação humana e cristã, mas que devem ir mais além, e citando a Exortação Apostólica  Familiaris consortio n. 53, e recorda que elas podem também constituir “o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada pelo Reino de Deus”.
Por fim Bento XVI motiva os fiéis com as seguintes palavras: “Com estes votos, concedo de todo o coração a Bênção Apostólica a vós, veneráveis Irmãos no episcopado, aos sacerdotes, aos diáconos, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis leigos, especialmente aos jovens e às jovens que, de coração dócil, se põem à escuta da voz de Deus, prontos a acolhê-la com uma adesão generosa e fiel”.