31 de maio de 2013

'Francisco deverá ser o último chefe de Estado do Vaticano', afirma Pagola

 
Por Jesús Bastante
Para estourar. Assim estava, na noite passada, a capela do Colégio Maior Chaminade. Mais de 600 pessoas lotaram o recinto para assistir a conferência que, organizada por PPC, José Antonio Pagola deu. Sentados, em pé, no chão, a multidão não quis perder a convocação do teólogo vasco: “Voltar para Jesus, o Cristo”. E Pagola não desapontou: “É o momento do povo simples reivindicar o Evangelho para a hierarquia, que se apodere dele”. Uma tarefa para a qual o Papa parece estar disposto: “Acredito que Francisco será o último chefe de Estado do Vaticano”, profetizou.

O teólogo iniciou com o relato de uma realidade, a da Igreja atual, puramente pessimista. E real. Uma Igreja “com atitudes de nervosismo e medo, de autodefesa, que vê o mundo como um adversário, que faz da condenação e a denúncia todo um programa pastoral”. Uma instituição marcada pelo restauracionismo, passividade generalizada, sem atitudes de renovação, com o pecado da autorreferencialidade à flor da pele. “Existe muita gente comprometida, mas a massa de 1,2 bilhão de católicos vive na submissão, obediência e silêncio, em meio a uma religião de autoridade, e não de chamado”. Onde “o pessimismo cresceu”.

Frente a isso, Pagola evocou a necessidade, a urgência, de retornar para Jesus. “Não apenas uma reforma religiosa, sim uma conversão ao Espírito de Jesus. Não apenas adesão doutrinal, mas seguimento. Não apenas mudanças, mas atualização da experiência fundante”, criticou o teólogo, diante do aplauso da multidão reunida.

E precisa vir do povo, pois “a hierarquia, hoje, não pode liderar uma conversão a Jesus”. “Devemos retornar ao que é a fonte e a origem da Igreja. Deixar que o Deus encarnado em Jesus seja nosso único Deus”. Para Pagola, “é preciso reformar a Cúria, claro que sim, e mudar a doutrina, mas, primeiro, é preciso voltar para Jesus. Invocar um clima mais humilde, mais prazeroso, porque, caso contrário, seremos cada vez mais uma instituição decadente, mais sectária, mais rara, mais triste, mais distante do que Jesus quis”.
Jesus. Um projeto, quase uma obsessão, uma necessidade imperiosa. “É tarde. Deixamos morrer a Ceia do Senhor, porque a Igreja não se questionou seriamente sobre a razão das pessoas saírem”, proclamou Pagola, denunciando que, para além da crise vocacional ou do sacerdócio para a mulher, é preciso voltar a entender Jesus, “não como um Pai ou como um Rei, mas, fundamentalmente, como o que foi: um Profeta”.

Neste ponto, o teólogo – que constantemente citou Francisco: “Antes não me atreveria a dizer algumas coisas, mas é o Papa que está dizendo-as, toda manhã, nas missas em Santa Marta” – chamou para “reconhecer nosso pecado como Igreja, e se responsabilizar por ele. Questionar nossas falsas seguranças, a santidade da Igreja, porque santificamos tudo e não vemos as traves que há dentro de nossa Igreja”.
É que “se a Igreja não escuta os clamores dos pobres, será surda. E, em seguida, ficará surda e muda, e não será capaz de anunciar a Boa Notícia”, acrescentou o teólogo vasco, que propôs algumas tarefas urgentes. Em primeiro lugar, “reavivar o espírito profético do movimento de Jesus. Não podemos nos resignar a viver uma religião cristã sem profecia”.
Em segundo lugar, “uma presença mais ativa, indignada e atualizada”. Uma renovação na qual “a Igreja não é a mais importante, mas, sim, o Reino”. “Esta renovação não pode vir apenas do Vaticano. Chegou o momento de rememorar que o Cristianismo não é uma religião a mais, é uma religião profética, para construir um mundo mais justo, mais solidário, mais santo”.
E, em terceiro lugar, “recuperar urgentemente a compaixão. Pois ser compassivos é a única maneira de seguir Jesus e de nos parecermos com o Pai”, acrescentou. “A Igreja cristã perdeu a capacidade de atrair as pessoas, porque não levou a sério o sofrimento dos inocentes”.
“Precisamos continuar buscando caminhos, a partir de Igreja que cada vez tem menos poder de atração, ou devemos recuperar o Evangelho de Jesus como única força para transmitir e engendrar a fé?”, questionou-se Pagola. A resposta foi clara: “Hoje, o Evangelho se encontra aprisionado no interior de uma Igreja em crise”, razão pela qual “é preciso recuperar o protagonismo do Evangelho”.
E fazer isto entre todos. “As pessoas devem reivindicar o Evangelho para a hierarquia. O povo simples deve se apoderar do Evangelho”, pois “Jesus é muito mais atual do que os sermões que nós, padres, damos. Deus não está em crise, nem está bloqueado. Jesus não deu todo o melhor que tem”.

Este é o futuro da Igreja, um futuro “apaixonante” depois da nomeação do novo Papa. “Francisco está inaugurando um tempo novo. Um novo estilo de Igreja simples, pobre, humilde, próxima e dialogante, que se preocupa com a felicidade do ser humano”.
Neste transe, “o Papa deve encontrar um apoio total em nós. Se ele promove a mudança a partir de cima, nós devemos promover o Reino a partir de baixo”, concluiu, entre fortes aplausos.
Religión Digital, 29-05-2013.

Novidades do Papa Francisco

A revolução do papa Francisco em 10 frases



 
A particular proximidade com que Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, fala a seus fiéis se reflete em suas palavras. O “pároco de Roma”, como ele mesmo gosta de se definir, gosta tanto dos detalhes que costuma afirmar ser sua obrigação conhecer o nome e até mesmo os apelidos de seus fiéis. Estes detalhes também aparecem em suas homilias.
 
“Os bispos e os sacerdotes devem ser pastores e não lobos vorazes”
O papa pediu, em uma de suas missas diárias na capela de Santa Marta, sua residência no Vaticano, que os fiéis rezem para que os padres e os bispos não caiam na tentação da avareza do dinheiro e o poder, para “serem pastores e não lobos vorazes”. “Quando o bispo ou o sacerdote se aproveitam do rebanho, muda tudo; não mais trabalham pelo povo, mas se aproveitam do povo”, alertou os religiosos e o pessoal do Vaticano que o escutavam. Acrescentou que entrar no “carreirismo (competição) causam muito estrago na Igreja”. “Fazem um papel ridículo e, também se vangloriam e gostam de se sentir poderosos, o povo não os ama. Por isso, rezem por nós para que sejamos humildes, mansos, ao serviço do povo”, pediu.
 
As religiosas devem ser “mães espirituais e não solteironas”
Num encontro com 800 religiosas, no começo de maio, Francisco falou sobre a castidade a que professaram. Assegurou “amplia a liberdade da entrega a Deus e aos demais com a ternura, a misericórdia e a proximidade a Cristo”. “Porém, por favor, uma castidade fecunda”, pediu. “Uma castidade que gere filhos espirituais na Igreja. A consagrada é mãe, deve ser mãe e não solteirona”. Consciente da força de suas palavras, acrescentou: “Perdoe-me se falo assim, porém, é importante esta maternidade da vida consagrada, esta fecundidade”.
 
“O dinheiro deve servir, não governar”
“Criamos novos ídolos. A antiga veneração do bezerro de ouro assumiu uma forma nova e sem alma no culto ao dinheiro e a ditadura da economia, que não tem rosto e carece de um verdadeiro objetivo humano”, criticou essa última semana. Bergoglio que se propôs ser “o papa dos pobres” no início de seu pontificado, pediu aos embaixadores que encontrou na ultima quinta-feira (16) que controlem a economia e protejam os pobres. Insistiu que “o dinheiro deve ser vir, não governar” e criticou os mercados financeiros: “Estabeleceu-se um nova, invisível e, em certas ocasiões, virtual tirania que unilateral e irremediavelmente impõe suas próprias leis e regras”.
 
“A Igreja não é babá dos cristãos”
Em meados de abril, apontou uma ideia que marcou vários discursos. Os fiéis, afirma, não devem esperar que o sacerdote lhe diga o que devem fazer. “Quando fazemos assim, a Igreja se converte não em mãe, mas numa babá, que cuida para que a criança adormeça. Temos que pensar no batismo e na nossa responsabilidade de batizados [para anunciar Cristo]”.
 
“Há cristão de sala de estar que não sabem gerar filhos para a Igreja”
No mesmo tom, pedindo maior compromisso na prática da fé católica, na última semana criticou os fiéis que gostam das aparecias e das formalidades: “Existem cristão de sala de estar, os educados, os bonzinhos que, porém, não sabem gerar filhos para a Igreja com o anúncio do Senhor e com o fervor do zelo apostólico” Em sua conta do Twitter apresentava a mensagem com esta reflexão: “Não podemos ser cristãos a tempo parcial [dizia o texto inglês]. Procuremos viver nossa fé cada momento, cada dia”.
 
Alerta aos cristãos “interesseiros” e “ladrões”
Em outra homilia, divulgada pela Rádio Vaticano, nesse mês de abril, afirmou: “Também na comunidade cristã existes os interesseiros, não é verdade? Aqueles que visam o próprio interesse e, consciente ou inconscientemente fingem entrar pela porta, porém são ladrões e descarados”. “Por que? Porque roubam a glória a Jesus e buscam a glória deles. Para eles a religião é um negócio”, criticou. Com a mesma ideia, denunciou mais recentemente o “estrago que causam ao povo de Deus os homens e as mulheres de Igreja que são carreiristas, aos quais interessam os cargos, que usam o povo, a Igreja, os irmãos e as irmãs – a quem deveriam servir – como trampolim para seus interesses e as ambições pessoais”.
 
“E que estrago causa o aburguesamento!”
Durante a canonização da religiosa colombiana Laura Montoya e a mexicana madre Lupita, o Papa atacou os excessos de uma vida interessada só ao dinheiro. “Ensina-nos a (…) vencer a indiferença e o individualismo, que corrói as comunidades cristãs e nosso coração, e nos ensina a acolher sem preconceitos nem reticências”, disse em relação à primeira santa colombiana. Sobre a madre Lupita destacou sua dedicação aos doentes, “diante dos quais se ajoelhava para servi-los”. E nesse contexto, comentou: “Que estrago causa a vida cômoda, que estrago causa o bem-estar. O aburguesamento do coração nos paralisa. Madre Lupita, sem dúvida, renunciou a uma vida cômoda para servir aos doentes e aos abandonados”.
 
“Um bom cristão não se lamenta, está sempre alegre”
Comentando a tradicional mensagem da Igreja para que cada crente “carregue sua cruz” quando a vida se torna difícil, Papa Francisco falou recentemente do “alegre suportar” como elementos para o rejuvenescimento vital. Afirmou que o bom cristão “não se lamenta” e que, entre as dores, “jamais está triste, mas que testemunha Cristo com alegria”. Percebendo que suas palavras poderiam ser recebidas com ceticismo, o bispo de Roma completou que este comportamento não tem nada de masoquista, “mas nos leva pelo caminho de Jesus”
 
Sem o Espírito Santo, o cristão é um mero “idólatra”
O Espírito Santo é um “Deus ativo, um Deus que nos lembra, que nos desperta a memória”, para que o crente não esqueça “o momento em que teve a graça de encontrar Jesus e tudo o que Jesus disse”. Por isso, destaca que um cristão sem essa memória do Espírito Santo “não é um cristão de verdade, mas um idólatra”.
 
“Como muitos não são crentes, os abençoo em silêncio respeitando sua consciência”
Por ocasião de seu encontro com as centenas de jornalistas que viajaram até Roma para ver a fumaça branca e conhecer o novo Papa em março passado, o novo Pontífice abençoou os presente com uma interessante observação: “Como muitos de vocês não pertencem à Igreja Católica, outros nem são crentes, de coração lhes dou a bênção em silêncio a cada um de vocês, respeitando a consciência de cada um, porém sabendo que cada um de você é filho de Deus. Que Deus ao abençoe”.
 
Homenagem ao papa nos tapetes de Corpus Christi 2013