30 de julho – Dia Mundial de combate ao tráfico
humano e Semana do Coração Azul
Boa-noite!
Bem-vindo, Bem-vinda, ao VI SEMINÁRIO INTERNACIONAL
DA TRÍPLICE FRONTEIRA (24 de julho de 2019)
Você sabe o que é tráfico de pessoas?
Nosso VI Seminário tem como foco continuar o
debate sobre o enfrentamento do Tráfico de Pessoas com ênfase nos três eixos:
prevenção, responsabilização e acolhimento das vítimas. Esse debate já tem uma
história que o sustenta:
·
em 2013 quando a ONU instituiu o dia 30
de julho como o dia Mundial de combate ao Tráfico de Pessoas e ao redor deste
dia a Semana do Coração Azul;
·
em 2014 a Igreja do Brasil assumiu o Tráfico
Humano como tema da Campanha da Fraternidade
·
em 2014 a Cáritas Foz do Iguaçu e
Cáritas Brasileira Regional Paraná realizaram o 1º Seminário Internacional da
Tríplice Fronteira.
Desde então, muitos entes da sociedade civil
organizada, governo e forças de segurança tem se envolvido nesta causa, atuando
no combate ao crime de Tráfico de Pessoas, refletindo e implementando ações e
estratégias de políticas públicas para o combate deste crime transnacional.
Obrigado a vocês que atenderam ao convite e se
inquietam com esta nossa chaga social:
Autoridades...
Instituições.....
Universidades....
Cáritas...
Não
somente na fé cristã, a espiritualidade está centrada na capacidade de amar a
Deus e ao próximo.
Rezar
e servir, amar e contemplar, são realidades indispensáveis para quem se dispõe
a seguir e viver os ensinamentos de Jesus Cristo. É da prática de Jesus e de
suas atitudes que decorrem os critérios éticos para a ação do cristão. Jesus
fez opção clara pelos excluídos do sistema: as mulheres, os estrangeiros, as
prostitutas etc. Combate abertamente os males que estragam a vida humana: fome,
doença, opressão, ignorância.
Sem
oração não existe vida cristã autêntica. Sem caridade, a oração não pode ser
considerada cristã. Disso, uma coisa é certa: contemplando o mundo com os olhos
de Deus, é possível perceber e acolher o grito que emerge das várias faces da
pobreza e da agonia da criação. (Doc. 109, n. 102)
Disse
decorrem questões pertinentes: Podemos deixar para fazer o bem outro dia?
Quando pudermos? Quando tivermos mais dinheiro? Quando tivermos mais tempo?
A
canção do Pe. Zezinho “Faz de conta” me inquieta muito:
Não dá pra fazer de conta
que eles não reagirão
Não dá pra fazer de conta
que não vai acontecer
Não dá pra fazer de conta
que as coisas se acalmarão
Um dia a miséria cansa e
eles não se conformarão
Os pobres do
mundo inteiro estão gritando que não dá
Não dá mais
pra suportar a indiferença dos seus irmãos
Irmãos cada
vez mais ricos e que fingem não entender
Não dá pra
viver em paz aonde não há o que comer.
E
mesmo que a canção fale da pobreza e da comida, me permito dizer que suas
expressões iluminam muito bem as motivações desta noite. Dias atrás, no nosso
Domingo – Dia do Senhor, Dia da Comunidade, Dia da Fraternidade – nós rezamos e
refletimos uma atitude pedida por Jesus. No Evangelho (Lc 10, 25-37 – também
conhecido como do Bom Samaritano), Jesus nos advertiu que amar teoricamente não
cria dificuldades. Contrapunha aqueles que se contentavam em viver como ‘funcionários
do sagrado’, ‘técnicos de salvação’, mas esqueciam do principal, cumpriam todas
as suas obrigações, mas eram donos do esquecimento. Jesus reagiu contra
esquecimentos típicos dos cristãos e da sociedade: os silêncios em torno da mulher,
do samaritano, do centurião, da prostituta, do estrangeiro, do publicano, dos
pobres e marginalizados. Jesus declarou em alta voz que eles existem,
que estão por aí e que vivemos no meio deles. Os esquecidos na memória social
manipulada pelo templo – naquele tempo – e hoje pela sociedade pós-moderna foram
os lembrados por Jesus. O samaritano era um estrangeiro, considerado herege,
impuro, marginalizado, mas foi capaz de gestos divinos, teve misericórdia, ele
sentia na pele o sofrimento, mas foi capaz de atitudes, encontrou Deus no
irmão, não só nos ritos, no culto, no templo.
Hoje, quem são
os nossos ‘próximos’? São todas as pessoas que necessitam, de alguma forma, de ajuda, e que nós, por causa de Deus e pela fé,
por nossa sensibilidade e responsabilidade com o ser humano os amamos e nos
unimos aqui: Diocese de Foz do Iguaçu, Cáritas Diocesana, IDESF, OAB, Guarda
Municipal, Polícias Federal, Militar e Civil, Ministério Público, Jocum,
Secretaria Municipal da Ass. Social e comitê de direitos humanos e vários
outros organismos, instituições e pessoas de boa vontade.
Como
ajudar? Pode ser individualmente, mas, também, pelas Instituições, pelas
pastorais, pelas políticas públicas, pelos projetos de governo que visam à
cidadania, à justiça e ao bem comum.
Quando empregamos os meios corretos e necessários,
irá acontecer o milagre – e não estou aqui falando de promessas vazias e
ideológicas, ou de proselitismo. O maior
milagre que podemos realizar é mudar a nossa própria realidade. Amartya Sen,
economista indiano, professor da Universidade Harvard, recebeu, em 1998, o
prêmio Nobel de economia, por seu trabalho sobre a economia do bem-estar
social.
Em sua obra, O desenvolvimento como liberdade, diz:
“Hoje é difícil pensar que uma benevolência divina zele sobre o mundo onde há
tanta miséria, guerras e sofrimentos. O decisivamente importante é que, com
Deus ou sem Ele, cabe a nós mudar o mundo. Nossos males não resultam de
descuidos ou cochilos divinos: são provocados por nós, pelo mau uso da
liberdade. Se os provocamos, somos também capazes de corrigi-los”.
Para Sen, a qualidade de nossas vidas não deve ser
medida pela nossa riqueza, mas pela nossa liberdade; para ele, a pobreza não é,
em primeiro lugar, só baixo nível de renda, mas baixo nível de existência
pessoal, de energias corporais, espirituais, de liberdade e de autoestima. A
meta do progresso econômico e tecnocientífico é o aperfeiçoamento do ser
humano. A finalidade é esta: o progresso, a produção de riquezas, os avanços
científicos são instrumentos para alcançar os fins humanos: o desenvolvimento
das pessoas. A utilidade da riqueza está nas coisas que nos ajudam a construir
o bem-estar do ser humano: habitação, saúde, cultura, qualidade de vida. A
riqueza é um instrumento para realizar a finalidade da sociedade. E aí – Quanto
custa um ser humano?
As questões sociais, a defesa da vida e os desafios
ecológicos da atual cultura urbana globalizada devem ser enfrentados pela
Igreja e pela Sociedade. (Doc 109, n. 104). Quanto a isso o Papa fazia uma
convocação: “chorar com os que choram”. Nós queremos chorar para que a
sociedade também seja mais materna, que em vez de matar, aprenda a dar à luz,
que seja promessa de vida. Choramos quando recordamos os jovens que já morreram
pela miséria e pela violência, e pedimos que a sociedade aprenda a ser mãe
solidária (Caritas in Veritaten, n. 75)
Solidariedade com quem sofre as consequências do desemprego
e do trabalho precário e acaba se submetendo a situações que lhe roubam a
humanidade e dignidade; solidariedade com os violentados pela questão da
violência, da falta de moradia digna, do abandono e exploração das crianças e
dos idosos, da falta de perspectiva para juventude e a crise familiar, buscando
compreender as causas dos flagelos que os jogam na exclusão. Tudo isso gera um
vazio, uma crise de sentido criada por uma sociedade que sustenta tudo ser
possível, especialmente com o avanço das novas tecnologias. Essa promessas,
geram uma procura de possibilidades irreais e iludem, fazem os olhos de todos
brilhar, mas que não estão disponíveis para todos. E aí, não faltam pessoas que
se aproveitam de sua situação para explorá-los com sofrimentos de todo tipo.
Migrados, refugiados, traficados! Aqueles que julgavam encontrar um porvir
melhor, são desprezados, explorados e escravizados. (cf. Doc 109 da CNBB, n.
106-112)
Se em 2014, quando iniciamos esta jornada éramos
inspirados pelo objetivo Geral da Campanha da Fraternidade - Identificar as práticas de tráfico humano em
suas várias formas e denunciá-lo como violação da dignidade e da liberdade
humana, mobilizando cristãos e a sociedade brasileira para erradicar esse mal,
com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus – hoje mais do que
isso, somos inspirados pelo objetivo da Campanha da Fraternidade 2019 - “Estimular
a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina
Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de
fraternidade”.
E já existem sinais visíveis de bonitos passos
dados: o Seminário Internacional da Tríplice Fronteira – hoje na sexta edição –
e as inspirações que dele nasceram: o FICA alocado na Câmara técnica para o
Tráfico de Pessoas do GGIM cumprem sua missão de ser Uma esfera privilegiada para o
debate das políticas públicas locais para o enfrentamento do tráfico de pessoas
e o acolhimento de estrangeiros em situação de risco social inspirando
as políticas públicas necessárias na Tríplice Fronteira.
Hoje somos chamados a cumprir e inspirar gestos que
possam contribuir para construir uma sociedade fundada no princípio da
sacralidade da vida humana e no respeito pela dignidade de cada pessoa, na
caridade, na fraternidade e solidariedade. (Doc 109, n. 112).
Concluindo,
faço memória de alguém que se doou intensamente por essa causa. No ano passado
Pe. Maurício Camatti encerrou o seu pronunciamento de abertura com essas
palavras: “Para isso, todos são indispensáveis e insubstituíveis...”
Bom
Seminário a todos!!!
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