Apresentação
Neste
ano, quando estamos comemorando os noventa de anos de nossa avó Johanna Finkler
Welter, achei importante, trazer ao conhecimento de quem possa se interessar,
uma pequena apresentação sobre os ancestrais Welter e Finkler.
Esta
pequena resenha tem um objetivo único: deixar uma pequena contribuição para
aqueles que querem saber um pouco mais sobre uma parte de sua origem, sabe-se
que quando se pesquisa sobre a nossa ascendência, à medida que se avança mais
extensa fica a lista, mais sobrenomes se impõem.
Nós,
no meu caso, netos de Alberto José e Johanna, descobrimos que somos parentes de
Berwanger, Kühn, Warken, Schäfer, Vogel, Holz, pelos Finkler e Blesius,
Arenhardt, Karlin, Dickel, pelos Welter. Embora os Finkler tenham chegado mais
tarde ao Brasil, 1878, os trabalhos sobre a ascendência remontam a 1720,
Johannes Finkler e Magdalena Berwanger, enquanto os Welter começam com o casal
imigrante Jacob e Helena Blesius, 1829.
Estou
de posse de dois livros sobre a família Finkler, escritos pelo Irmão Pedro
Finkler, e um livro sobre a família Welter, escrito pelo casal Geraldo Luiz
Welter e Vera Lúcia Lermen Welter - Salvador do Sul/RS.
Também
utilizei para as pesquisas trabalhos encontradas na Internet produzidos por
Egídio Weissheimer - Paróquia Martin Luther de Porto Alegre/Rã. É importante a
gente olhar para frente, mas as vezes olhar pelo retrovisor também o é.
Se
alguém tiver mais informações sobre a família Welter estou preparando dados
para remeter ao casal Geraldo e Vera Lúcia, aliás as informações dos
descendentes de Nicolau Welter nascido em 11/07/1880 e falecido em 29/06/1966
não estão no livro. Os dados que tenho do Livro Welter, são comprovados. A
localização do Nicolau Welter foi feita por eliminação, pelo ano de nascimento,
e também através de conversa mantida com sua filha Berta, que confirmou que
viviam em Arroio Augusta - Roca Sales/RS e pelo nome dos irmãos do Nicolau
(existem muitos Nicolaus na família Welter). Com mais algum tempo deveremos
conseguir documentos que comprovem esta descendência.
Idade
avançada na Família Finkler Welter não é novidade termos exemplos nas gerações
anteriores que chegar aos oitenta, noventa anos, era bastante freqüente e para
nós chegarmos também a idade de nossos ancestrais, precisamos apenas olhar e
seguir o exemplo deles. Para aqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer
os outros temos nossa avó Johanna como exemplo.
Quando
elaboramos este trabalho, maio de 2005, ainda viviam da família do Vovô Alberto
- a Paulina (Caxias do Sul) e a Berta (Cândido Godói). Da família da Vovó
Johanna: Arthur (Venâncio Aires), Johanna (Medianeira), Maria (Sede Alvorada/PR),
Aloisio (Cerro Largo), Anna Maria (Salvador das Missões), Rosa (Cerro Largo),
Benno (Paraguai) e Hedi (Cerro Largo).
Esta
pesquisa como envolve muitos nomes de familiares, lugares, pode apresentar
grafias incorretas, para os filhos dos primos procurei usar o nome com grafia
aportuguesada. Aquele que tiver algum nome a corrigir pode entrar em contato
comigo.
O
pequeno trabalho começa com um texto sobre a Imigração Alemã no Rio Grande do
Sul. Sei que hoje na descendência de Welter e Finkler há uma miscigenação de
origens. Usei a imigração alemã no RS pois é dali que vieram os ancestrais
Welter e Finkler.
A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO RIO
GRANDE DO SUL
Texto
de Egídio Weissheimer - Trabalho apresentado em 25 de julho de 1999 na
comemoração dos 175 anos de emigração alemã no RS - Igreja Ev. Martin Luther POA/RS
1. RAZÕES POLITICAS,
ECONÔMICAS E SOCIAIS QUE DETERMINARAM A VINDA DE SOLDADOS E COLONOS AO BRASIL.
Para
entendermos o processo imigratório de alemães para o Brasil é necessário
analisar as condições sócio-econômicas reinantes na Alemanha e no Brasil.
Não
só a Alemanha mas toda a Europa respirava aliviada com o fim do flagelo
napoleônico.
Embora
a guerra tivesse terminada em 1815 com a derrota de Napoleão na batalha de
Waterloo, isto no entanto em nada mudou as péssimas condições que a Alemanha
passava tanto nas cidades como no campo.
No
campo reinava o minifúndio. Sucessivas divisões hereditárias haviam tornado as
propriedades em frações de terras muito reduzidas. Pela contínua exploração as
terras tornaram-se pouco produtivas. Subsistia ainda a estrutura de trabalho
baseada no regime feudal. Mas de nada revolvia o abandono do campo pelos
camponeses pois estes não encontravam emprego nas cidades. A indústria
manufatureira havia criado novas profissões, para as quais os camponeses não
tinham habilitação, pois eram na maioria ex-servos desqualificados.
Nas
cidades a situação não era diferente. A Revolução Industrial iniciada na
Inglaterra no século XVIII, provocou profundas alterações na estrutura
sócio-econômica. A industrialização trouxe efeitos negativos aos artesãos. Até
o advento da máquina, alfaiates, tecelões, ferreiros, carpinteiros, e outros
profissionais tinham seu trabalho valorizado. No momento em que uma única
máquina passou produzir o que várias dezenas de pessoas faziam, a competição
levou-os à ruína. A máquina produzia mais e melhor. Passaram assim à condição
de simples operários, obrigados a trabalhar muitas horas por dia por salário
aviltante.
A
vacinação em massa da população determinada por Napoleão acelerou o crescimento
populacional. Não havia empregos para ocupar tanta gente. O mercado de trabalho
não se ampliava na mesma proporção do crescimento populacional.
Para
os agricultores e artesãos restava apenas uma saída: a emigração.
A
carreira militar durante séculos foi uma saída para empregar os filhos que não
encontravam emprego no campo nem na cidade. O serviço militar no entanto era
obrigatório. Sua duração era determinada em função da situação política
reinante. Em períodos de guerra o serviço militar estendia-se até a assinatura
da paz. Isto gerava descontentamento. Para fugir do serviço militar a única
saída era a deserção para reinos ou ducados próximos. Os que cometiam tal
transgressão eram expatriados. Para eles restava também uma única saída: a
emigração.
Outro
fator de descontentamento foi o que podemos chamar de "a sanção da
igreja". O clero francês até a revolução de 1789 compunha o chamado
"Primeiro Estado". Estava assim acima da própria Nobreza que ocupava
o "Segundo Estado". Os membros do alto clero, que saiam das hostes
aristocratas, possuíam privilégios como receber altas pensões do tesouro,
isenção de impostos, etc.
Enquanto
isso o sacerdote que ministrava os sacramentos nas aldeias, que lidava com os
pobres e oprimidos, para sobreviver era obrigado a cobrar pelos serviços
prestados. Na Alemanha um casamento não saía por menos de R$ 130,00. Para a
realização das núpcias o pagamento era efetuado antecipadamente. Se o casal não
possuísse tal quantia, ocorria em muitos casos o concubinato o que era extremamente
condenado pela sociedade. Os concubinos discriminados não encontravam emprego.
Se possuíssem algum comércio os fregueses desapareciam. Para estes também
restava uma única saída: a emigração.
Foram
estes os fatores que determinaram a emigração de alemães para o Brasil.
E o
que acontecia no Brasil. No dia 7 de Setembro de 1822, às margens do Riacho
Ipiranga em São Paulo, havia proclamado a Independência do País. Em 1808 a Família
Real Portuguesa havia fugido para o Brasil, a bordo de 14 navios ingleses, para
escapar da invasão das tropas napoleônicas. Com a derrota de Napoleão em 18/06/1815,
na Batalha de Waterloo, nada mais impedia o regresso de D. João VI a Portugal o
que se deu em 24/04/1821. Com o retomo da família real, entenderam as autoridades
portuguesas que o Brasil deveria retomar à condição de simples colônia, fato
que deixara de ser desde que fora incorporado ao Reino Unido de Portugal e
Algarve. O então príncipe D. Pedro deveria retomar imediatamente à Portugal para
aprimorar a sua educação, pois era o sucessor natural do sue pai no trono de
Portugal.
A proclamação
da independência encontrou oposição não só em Portugal como dentro do nosso próprio
País. As autoridades provinciais eram portuguesas e mantinham-se fieis à Coroa
Portuguesa. As tropas portuguesas aqui aquarteladas tiveram que ser daqui
expulsas em 1823. Novo exército teve que ser formado para garantir militarmente
a nossa independência, pois em Lisboa grandes aparatos de forças militares
estavan sendo preparados para invadir o Brasil. Mas não havia soldados
suficientemente preparados no país. Para ocupar as cerca de 4.000 vagas abertas
nos Batalhões de Estrangeiros, apenas 200 soldados rasos haviam se apresentado.
Era necessário, portanto, traze-los do exterior.
Além
de soldados necessitava o país também de colonos que viessem a instalar no Sul,
onde a questão militar quanto à soberania sobre a Província Cisplatina havia
gerado diversos conflitos com a Argentina. Por recomendação da Imperatriz D.
Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, filha de Imperador Francisco I, com quem D.
Pedro se casara em 13/05/1817, decidiu-se trazer não só soldados mas também
colonos da Alemanha. Lá havia milhares de soldados desempregados desde o fim
das guerras contra a França.
A difícil
missão de angariar colonos e contratar soldados alemães para os Batalhões de
Estrangeiros do Brasil, coube ao Major Johann Anton von Schaeffer, que havia
chegado ao Brasil em 1814 e conseguido granjear a amizade de D. Leopoldina, pelo
interesse de ambos nas ciências naturais.
De posse
de uma procuração que o nomeava de "Agente de afazeres políticos do
Brasil", Schaeffer encontrou inicialmente grandes dificuldades em
contratar soldados na Alemanha. A exportação de soldados era proibida, desde o
Congresso de Viena em 1815, pois as grandes potências européias (Prússia, Inglaterra,
Áustria e Rússia) não permitiriam o surgimento de um outro "Napoleão"
no mundo, e , D. Pedro I, com a independência do Brasil foi considerado um
usurpador do poder, um rebelde que traíra o pai.
Enquanto
que em alguns Estados alemães havia a proibição, em outros existia o direito
dos cidadãos à emigração, principalmente nos Estados da atual Renânia onde,
pela proximidade com a França, a destruição provocada pela guerra havia sido maior
e onde mais se fizeram sentir os efeitos do fim do feudalismo. Cerca de 50% dos
imigrantes são provenientes desta região, mas precisamente do “Hunsrück” quadrilátero
compreendido entre os Rios Reno, Mosela, Nahe e Saar. Os camponeses que agora
podiam abandonar o campo, não encontravam trabalho nas cidades também já
repletas de artesãos desempregados, pois as indústrias estavam trocando a
mão-de-obra humana pelas máquinas que produziam mais e melhor.
Os
minifúndios criados pelo direito hereditário, aliado às terras exauridas por
sua contínua exploração, foram, como já vimos, fatores que determinaram a
expulsão dos camponeses que, por não encontrarem ocupação nas cidades, tinham
na emigração a única saída.
Com
a oferta pelo Governo brasileiro de terras (cerca de 150 Morgen = 77 hectares),
além de ferramentas, gado, sementes, auxílio financeiro nos 2 primeiros anos e isenção
nos primeiros 10 anos, a missão de Schaeffer foi grandemente facilitada.
Para
não chamar a atenção das autoridades Schaeffer embarcava soldados disfarçados e
imiscuídos entre famílias de colonos. Para angariar os emigrantes Schaeffer havia
nomeado diversos suba gentes na Alemanha que se encarregavam da documentação e
do transporte dos colonos das suas localidades até o porto de embarque, que no
início foi o de Hamburgo enquanto Schaeffer se ocupava na contratação das
embarcações, veleiros (galeras) de 3 mastros. Da Renânia até Hamburgo viagem, feita
em diligências puxadas à tração animal, demorava cerca de 4 semanas. Em
Hamburgo eram os emigrantes submetidos a quarentena e ao exame da documentação,
entre eles o "certificado de cidadania brasileira", com renúncia
expressa da cidadania alemã, fornecido por Schaeffer. Não queriam as
autoridades alemães que emigrantes arrependidos voltassem para sua terra natal.
O
embarque dava-se quando o navio estava pronto, ou seja, devidamente adequado
para o transporte de pessoas. Os veleiros construídos para o transporte de
mercadorias, recebiam beliches instalados na entrecoberta da embarcação para
acomodar os passageiros. O início da viagem significava a despedida definitiva
da família e dos amigos, mas significava também o abandono da uma pátria com
instabilidade institucional, democracia precária, explosão demográfica,
recessão econômica, terras exauridas e improdutivas, e que para os emigrantes
significava a fuga do desemprego, da fome, da insegurança, da falta de
perspectivas e do desespero.
2. DIFICULDADES ENFRENTADAS
PELOS IMIGRANTES.
O
início da viagem também significava o princípio de uma aventura: a viagem pelo
Atlântico, que dependendo das condições a viagem pelo Atlântico levava de 90 a
120 dias. Os suíços que haviam chegado ao Brasil em 1819, oriundos de Freiburg
e que aqui se instalaram em Nova Friburgo, tiveram uma viagem desastrosa. Por
falta de organização aguardaram por 2 meses o embarque no porto da Holanda. Mal
instalados ali mesmo enterraram 43 emigrantes. Os 2.018 montanheses
arrebanhados por campos e aldeias atravessaram o Atlântico espremidos em 7
barcos. Um dos barcos, o Urânia, em que embarcaram 437 passageiros, devido a
uma epidemia, marcou sua rota marítima com um rastro de 107 corpos. Mais de 1
cadáver por dia. Um quarto dos passageiros lançados do tombadilho. No Rio de
Janeiro outra mortandade em decorrência de febres tropicais. Ao todo, de uma
Friburgo à outra, a velha na Suíça e a nova no Rio, somaram-se 389 baixas. Dos
2.018 colonos que saíram chegaram apenas 1.631, índice de mortandade parecido
com o dos navios negreiros!
Com
o ingresso de Major Schaeffer no processo imigratório isto não haveria de
acontecer.
Homem
extremamente diligente organizou com todo o cuidado os embarques. Em cada uma
das 27 expedições que organizou de 1824 a 1829 havia um "comandante do
transporte" ou "chefe da expedição", que zelavam pela
disciplina, pela higiene bordo bem como dos direitos e deveres dos passageiros.
A alimentação não era descurada. Os comandantes convidavam passageiros para os
seus camarotes para comprovar que a alimentação servida aos tripulantes era a
mesma que era servida aos passageiros. Em cada navio havia um médico cirurgião,
farmacêutico e enfermeiros para cuidar da saúde bem como da higiene para evitar
a erupção de epidemias à bordo. Evidentemente que ocorreram mortes nas viagens,
mas estas sempre foram decorrentes de causas diversas, e não devidos à má
alimentação ou falta de higiene da embarcação ou das passageiros.
Embora
mais seguras quanto à moléstias as viagens não deixavam de representar um
grande temor para os passageiros. Vamos resumir apenas o que aconteceu com 4
das 27 embarcações que chegaram ao Rio de Janeiro de 1824 a 1829.
O
1° veleiro, o Argus saiu de Hamburgo 27.7.1823 e desde o início foi assolado
por fortes tempestades que sopravam para o Oeste. Depois de perder o mastro
central atracou no porto holandês de Texel. Durante as reformas cerca de 26
passageiros fugiram com medo de prosseguir a viagem. Em 10 de setembro
reiniciou a viagem que não foi mais feliz que a primeira. Nova tempestade os
obrigou a arribar na ilha de Wight, ainda na Holanda. Depois de 15 dias, inicia
a terceira partida mas um forte furacão obriga a embarcação a atracar no Porto
de Biscaia na Espanha e mais tarde nas costas da África, onde após muitas
delongas conseguiu fazer um ancoradouro seguro na ilha de Tenerife, de onde
partiu no dia 8 de Novembro para chegar no dia 7 de Janeiro de 1824 ao Rio de
Janeiro, trazendo 284 pessoas, sendo 134 colonos e 150 soldados. Entre os
passageiros encontrava-se o pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, o primeiro
pastor evangélico do Brasil que se radicou em Nova Friburgo cuja esposa faleceu
durante a viagem em virtude de um parto. No Argus também viajou Karl Nietbarnrner
o primeiro boticário da Colônia Alemã de São Leopoldo.
Outro
veleiro que passou por peripécias foi o Germania que trouxe a quarta leva de
imigrantes.
Capitaneado
por Hans Voss e tendo como "comandante do transporte" o Ten. Ferdinand
von Kiesewetter. Partiu em 9/05/1824 de Hamburgo até o porto de Glüclcstadt, no
Rio Elba, de onde zarpou em 03/06/1824. Chegou ao Rio de Janeiro no dia 14/09/1824
trazendo 401 passageiros sendo 277 soldados e 124 colonos. A bordo viajaram o
pastor Johann Georg Ehlers, Karl von Ende e Johann Daniel Hillebrand. Ehlers seria,
o primeiro pastor evangélico de São Leopoldo e que iniciou os registros eclesiásticos
ainda à bordo do Gennania; Karl von Ende o primeiro médico e Hillebrand também
médico e depois o primeiro administrador da Colônia Alemã de São Leopoldo. A
viagem deste veleiro foi marcada por rebeliões e desordens. O navio além de 124
colonos trazia também 277 soldados, entre eles um pequeno contingente de ex-prisioneiros
saídos das casas de reclusão de Hamburgo. Ainda atracado em Glüclcstadt no Elba
um recruta tentou incendiar a embarcação. Durante uma tempestade houve rebelião
a bordo. Efetuadas as investigações por uma Comissão foram responsabilizados 8
passageiros, todos ex-prisioneiros das prisões de Hamburgo que foram julgados e
fuzilados. O Pastor Ehlers e o médico Hillebrand faziam parte da Comissão.
O veleiro
Cäcilia também teve uma viagem sinistra. Depois de passar por terrível
tempestade em que perdeu todos os seus mastros, foi abandonado pelo Capitão por
considerar a embarcação perdida. Ficou vagando ao "Deus dará" pelo Canal
da Mancha até ser encontrado por um barco inglês que o rebocou até o porto de Plymouth
na Inglaterra. Ali os náufragos aguardaram por 2 anos por um novo embarque para
a América, fato proporcionado pela interferência da imperatriz austríaca D. Amélia
von Leuchtenberg em viagem ao Brasil. Os passageiros do Cãcilia que deixaram a
Alemanha em 1827 chegaram ao Rio de Janeiro no dia 29 de Setembro de 1829, sendo
esta data comemorada, ainda hoje, no "Michelskerb" (Kerb de São Miguel)
de Dois Irmãos e São José do Hortêncio onde a maioria dos passageiros do Cäcilia
se estabeleceram.
Não
menos tormentosa foi a viagem do brigue holandês "Ativo". Depois de
uma tormentosa travessia do Atlântico ao invés de atracar no Rio de Janeiro arribou
na costa de Pernambuco, onde 122 dos 140 passageiros ( 18 faleceram na viagem)
foram abandonados à própria sorte. Fundaram um pequeno núcleo germânico que
batizaram de Santa Amélia. Dedicaram-se à agricultura rudimentar e à produção
de carvão vegetal. Consta que alguns com recursos próprios e viajando até em
carros de boi, chegaram anos depois ao Rio Grande do Sul.
Nenhuma
das vicissitudes antes narradas pode ser comparada ao da Galera Holandesa Company
Patie, Zarpou no dia 10/10/1825. Ocorre que desde Dezembro de 1825 o Brasil
entrara em guerra contra a Argentina pela posse da Província Cisplatina ( atual
Uruguai). Ao chegar próximo ao Rio em Janeiro de 1826 o Company Patie foi aprisionado
por corsários à serviço dos castelhanos, sendo levado ao sul com destino à Argentina.
Na entrada do porto de Buenos Ayres a embarcação foi interceptada por navio de
guerra brasileiro e os passageiros instalados na ilha das Flores situada nem frente
a Montevidéu. Dali dos 281 cerca de 200 fugiram para a Argentina, com o
"comandante do transporte" Karl Heine que dizem ter sido um agente de
imigração à serviço de Rosas. Os 81 restantes voltaram ao Rio de Janeiro onde
chegaram em 17 de maio de 1826.
A relação
de acidentes com embarcações, no 10 período da imigração que vai de
1824 a 1830, encerra-se com a naufrágio do Bergantim Flor de Porto Alegre. Saiu
do Rio de Janeiro em fins de 1824 com destino a Porto alegre. No início de Janeiro
de 1825 naufragou na costa gaúcha, encalhado nos bancos de areia em frente a Mostardas.
Dos 61 passageiros 2 morreram afogados. Os demais salvaram-se nadando até a praia
onde foram acolhidos pelos moradores do lugar. Cerca de 15 colonos instalaram-se
em Torres. Os demais náufragos entre eles o pastor Leopold Voges chegaram no dia
11102/1825 em São Leopoldo.
Nos
27 embarques organizados por Schaeffer no período de 1824 a 1829, chegaram ao Rio
de Janeiro cerca de 5.000 colonos e outros tantos soldados. Estes eram engajados
nos Batalhões dos Estrangeiros. Os colonos ficavam alojados em galpões da Praia
Grande (Niterói), aguardando viagem ao sul. Enquanto a travessia oceânica era
feita em navios de 3 mastros, os viagens para Porto Alegre eram efetuadas em bergantins,
sumacas e escunas, com 2 mastros apenas, por causa do pouco calado da barra de Rio
Grande. A Capital da Província de São Pedro era atingida em média em 3 semanas
de viagem. Aqui depois de recepcionados pelo Presidente da Província ficavam
alojados na extremidade sul do porto, em prédio do arsenal de guerra, próximo à
atual usina do gasômetro. Para o transporte até São Leopoldo, na época
conhecida por "Passo do Courita" (ali morava um português natural de
Coura) eram utilizados lanchões toldados, movidos à vela e à remo. Em carretas os
colonos chegavam à Feitoria do Linho-Cânhamo onde ficavam alojados até o
recebimento do seu lote de terras.
A
Feitoria havia sido fundada em 1783 pelo vice-rei Dom Luiz de Vasconcellos e
Souza e instalada inicialmente no sul do Estado no local então denominado de
"Rincão do Caguçu". Seu objetivo era plantar o linho-cânhamo,
cientificamente conhecida por "canabis sativa" e que hoje e conhecida
por "maconha". Esta planta fornecia excelente fibra para a fabricação
de cordas, cordoalhas e velas largamente empregadas na navegação da época.
Devido a sucessivos déficits, creditados à baixa produtividade das terras, foi a
Feitoria em 1788 transferida para as margens do Rio dos Sinos. Os resultados ali
obtidos também não foram satisfatórios. Por isso foi extinta em 31/03/1824. Suas
terras, correspondentes a duas léguas, correspondentes a 180 colônias de
100.000 braças quadradas, foram subdivididas e distribuídas entre os colonos
alemães que ali aportaram, em numero de 39 pessoas 110 dia 25 de Julho de 1824.
Dos 321 escravos apenas 9 permaneceram na Feitoria à disposição do
administração José Thomás de Lima e que prestaram grande serviço na construção
das casas para o alojamento dos imigrantes que ano a ano vinham em maior
número. Em 1824 chegaram em São Leopoldo 126 imigrantes; em 1825 = 909; em 1826
= 828; em 1827 = 1.088; em 1828 = 99; em 1829 = 1.689 e em 1830 chegaram 117 totalizando
4.830. imigrantes.
Os
recém chegados à Feitoria de logo se depararam com novos problemas:
-
por falta de demarcação das terras, muitos ficaram instalados nos prédios antes
ocupados pelos escravos, aguardando por meses o assentamento dos lotes;
- a
demarcação dos lotes fora feita apenas na parte frontal ficando os limites laterais
por conta dos proprietários, o que gerou muitas brigas e questões judiciais;
- os
subsídios que deveriam ser pagos nos primeiros dois anos eram suspensos tão
lego o agricultor tivesse meios de auto sustentar-se o que ocorria já ao final
do primeiro ano; os imigrantes que chegaram em 1829 e 1830 nada receberam pois
as verbas haviam sido suspensas no orçamento pelo governo imperial;
Todos
estes problemas e percalços não foram suficientes para demover o espírito empreendedor
daquela pobre mas trabalhadora gente.
Apenas
um ano após a chegada dos primeiros imigrantes, junto ao "Passo do Courita"
artesãos que não possuíam aptidão para o trabalho na terra haviam formado uma florescente
povoação, posteriormente batizada de São Leopoldo.
No
primeiro período da imigração que vai de 1824 a 1830 todo os vale do Rio dos
Sinos havia sido ocupado pelos imigrantes. Além de São Leopoldo haviam fundado
Novo Hamburgo (Hamburgerberg), Campo Bom, Dois Irmãos (Baumschneis), Ivoti
(Berghanerschenis, depois Bom Jardim), Estancia Velha, Sapiranga (Leonerhof), além
de São José do Hortêncio (Portugiserschneis). A partir de 1836 haviam também
ocupado terras ao leste de São Leopoldo como Taquara do Mundo Novo, fundada por
Tristão Monteiro e Igrejinha, por eles batizada de "Kleinkirchen";
Em
todas estas localidades o comércio, a indústria e os artesãos (sapateiros, curtidores,
seleiros, ferreiros, carpinteiros, tecelões, alfaiates, etc. ) estavam em
franco progresso, quando em 1835 estourou a Revolução Farroupilha. Os imperiais
ou legalistas juntaram-se ao Dr. Hillebrand a quem também se juntaram o major
Ferdinand Maximilian Kersting, Tem. Heinrich Wilhelm Mosye e outros; os
rebeldes ou farroupilhas uniram-se ao Major Hans Ferdinand Albrecht Hermann von
Salisch nomeado, pelo governo revolucionário, Diretor da Colônia de São
Leopoldo. Durante os 10 anos da Revolução as atividades da Colônia estiveram
paralisadas. O envolvimento da Colônia Alemã neste triste episódio que dividiu
a família riograndense, teve a participação de centenas de imigrantes, lutando
de ambos os lados, semeando a morte e a destruição em toda região.
3. REGIÕES COLONIZADAS E
PRINCIPAIS CIDADES FUNDADAS PELOS IMIGRANTES ALEMÃES NO RS.
Com
a assinatura da paz do Ponche Verde em 1845 entre Caxias e David Canabarro,
teve prosseguimento o processo imigratório alemão para o Rio Grande do Sul. Os
alemães que daí em diante aqui aportariam, ocupariam os Vales do Caí, Taquari e
Jacuí.
No
Vale do Caí, as principais cidades de Montenegro e São Sebastião do Caí, de
colonização portuguesa, receberiam um aporte do elemento germânico que também
se estabeleceram em Pareci, Pareci Novo, Harmonia e Bom Princípio (
Winterschneis) e outras localidades. A região do Arroio Forromeco, afluente do
Caí, foi colonizada a partir de 1854 pela "Sociedade Montravel, Silveiro
& Cia." que ali fundou a Colônia de Santa Maria da Soledade onde foram
assentados não só colonos alemães mas também belgas, holandeses, suíços e
franceses. Mais acima no Rio Cai localiza-se Feliz, colonizada pelo Governo
Imperial a partir de 1846, eleita pela ONU em 1998 como a "cidade de
melhor qualidade de vida do Brasil"; e fmalmente, Nova Petrópolis, fundada
em 1858 por Sellin e Bartolomay.
Pelo
Vale do Jacuí, a principal cidade Cachoeira do Sul, onde inicialmente se instalaram
portugueses, também recebeu forte contingente germânico. As vizinhas cidades de
Agudo e Paraíso do Sul, compreendendo a antiga Colônia de Santo Ângelo fundada
pelo Barão von Kahlden, foram ocupadas por Pomeranos vindos de Lubow a partir
de 1857.
No Vale
do Taquari, cujas principais cidades Lajeado (na época Colônia Conventos
fundada por Antônio Fialho em 1853), Teutônia ( fundada em 1858 por Carl Arnt)
e Estrela (fundada por Vitor Barreto em 1846) bem como as cidades em seu
entorno: Canabarro, Forqueta, Forquetinha, Cruzeiro do Sul, Boa Esperança, Marques
de Souza (na época Neu Berlin fundada em 1868), não nos esquecendo de Santa
Cruz, no Vale do Rio Pardo (colonizada por Bartolomay em 1849) e sua vizinha
Monte Alverne colonizada a partir de 1860, temos a presença marcante não só de
novos imigrantes alemães mas também de colonos emigrados das antigas colônias
alemãs do Sinos e do Caí.
Por
fim no sul do Estado encontramos São Lourenço do Sul, colônia fundada por Jakob
Rheingantz em 1857 e onde se radicaram diaristas oriundos da Westphália.
Onde
se instalaram deixaram uma senda de progresso como são exemplos os Vales do
Sinos, Caí e Taquari. Não vieram apenas simples colonos, mas também artífices
do couro (sapateiros, seleiros, curti dores ), ferreiros, carpinteiros, marceneiros,
alfaiates, tecelões, médicos e professores etc.
É verdade
que na sua grande maioria eram pobres.
É verdade
que fugiram de uma Pátria com democracia precária, com explosão demo gráfica,
com recessão econômica, com terras exauridas e improdutivas. Também é verdade
que fugiram do desemprego, da fome, da insegurança e da falta de perspectivas.
Mas
também é verdade que trouxeram consigo a sua enorme capacidade de trabalho, sua
arte, suas tradições, folclore e costumes, sua língua, sua culinária que
souberam preservar até os dias atuais.
Em
resumo: semearam o progresso onde há apenas 175 anos atrás existia apenas mato
(em 25 de julho de 2005 fará 181 anos)!
Hoje
quando estamos com toda justiça homenageando a chegada dos primeiros imigrantes
alemães, muito temos a agradecer a aquelas humildes, corajosas e obstinados
pessoas que, deixando a sua pátria mãe, vieram aqui construir um futuro melhor
para si e para os seus, contribuindo lado a lado com as demais etnias, no progresso
e desenvolvimento não só do nosso Estado mas também da pátria brasileira que
adotaram.
ORIGEM WELTER
Transcrevo
um depoimento do Desembargador Guido W. Welter publicado no livro Welter. Escreve
Guido: "Fui a uma festa da família Welter, ou seja; daqueles que tem o
sobrenome Welter, como eu. Realizou-se em São José do Hortêncio, perto daqui. Pelo
menos mais perto do que Cerro Largo, onde aconteceram as primeiras reuniões dos
Welter. Valeu ter ido. Descobri que o primeiro Welter adulto aportou por estas
plagas em 1829. Chamava-se Jacob e trouxe consigo a esposa Helena Blesius (não
há notícia de nenhum outro Blesius, nome que parece romano) e mais cinco filhos
menores. Saiu de K1üsserat, no vale do Mosel, perto de Trier, da antiga
Renânia-Platinado, hoje Alemanha.
Quem foi Jacob Welter?
Geralmente,
os alemães do sul tendem a ter cabelos escuros e tez um tanto amorenada. Ele
era do sul. Da Renânia, ou Platinado-Renânia, um dos estados independentes que,
sob a inspiração da Áustria, formaram a Confederação de Estados Alemães. Isto
quer dizer que os renanos habitavam um pequeno país, que não era a Prússia nem
a Áustria. Falavam um dialeto, parecido com um dos muitos dialetos que existem,
como, por exemplo, o Hundsrick, o pomerano, o plat deutsch.
A Renânia.
A
Alemanha - na época de Jacob Welter - ainda não existia com a configuração que
tem hoje.
Os
Estados independentes do sul, eram pequenos países, que viviam da agricultura e
da pecuária e a vida girava toda em tomo da corte, porque - geralmente - eram
governados por um Rei, um Duque ou um Grão Duque. Porque eram pequenos não
possuíam um exército capaz de se opor aos grandes exércitos, como os da França,
da Prússia ou da Áustria. Eram constantemente atravessados por esses exércitos
pelo simples fato de estarem no caminho do exército mais poderoso. Quando
atravessados sofriam toda a sorte de peripécias. Perdiam as colheitas, tinham
que entregar cavalos e bois e, ás vezes, tinha as suas mulheres estupradas.
Estes
Estados - como a Renânia - não tinham segurança contra os grandes exércitos. Na
época de Jacob Welter, o grande exército era o francês, ou o exército de
Napoleão Bonaparte, que desde 1808 foi senhor de toda a Europa até 1814, quando
foi derrotado em Waterloo. A Vida era dificil nesses pequenos Estados
independentes do sul. Tinham poucas chances e ainda perdiam quase todos os seus
viveres quando um grande exército atravessava o seu território. Estes pequenos
Estados se uniram em 1870, sob inspiração de Oto von Bismark e formaram com a
Prússia, o grande império Alemão, a grande Alemanha.
Mas
isto só acontece em 1870 e o Jacob em 1829 tinha que dar um jeito na sua vida.
Era um homem que tinha alguma coisa, pois era produtor de vinho. Ele foi
alcançado pela propaganda do Brasil, sob a inspiração da imperatriz, dona
Leopoldina, que queria garantir a Colônia do Sacramento para Portugal e para o
Brasil fixando ali moradores vindos diretamente da Europa.
O que fez Jacob Welter?
Podes
dizer, sem sombra de dúvidas que Jacob foi um homem sagaz e valente. Ele teve
coragem de encarar aquela oportunidade, imigrar para o desconhecido Brasil. Estava
mais do que farto de ser constantemente invadido por exércitos estranhos. Sabia
que seu país era pequeno e incapaz de se opor aos grandes exércitos. Resolveu
atender o chamado que veio expresso num folheto de propaganda distribuído pelo
então governo brasileiro e foi embora. Vendeu tudo o que tinha e com a mulher e
mais cinco filhos menores, imigrou para o Brasil, uma terra nova.
Como viemos a saber sobre
Jacob Welter?
Nada
sabíamos sobre ele. O pouco que sabemos agora, conseguimos graças ao empenho do
simpático casal Geraldo e Vera Welter. Eles foram à Alemanha e, depois de
muitas indagações, terminaram em Klüsseral, no Mosel. Ali encontraram o Osvald
Welter, fabricante de vinho e ex-borgomeister (prefeito) de Klüsserat.
Logo
que se dera a conhecer o Osvald, notaram que ele os mantinha a distância, como
se o Geraldo e a Vera tivessem vindo reivindicar alguma coisa ou postular
herança ou se instalar na casa dele para não mais sair. O gelo só se quebrou
após o Geraldo e a Vera declinarem a sua situação de brasileiros bem situados
na vida, com curso superior e patrimônio que lhes permite manter um excelente
padrão de vida. Ai Osvald baixou a guarda e os convidou a uma prova de vinho.
Foram
à cantina e constataram que ele fabrica um vinho especial mas caro pra chuchu.
Uma garrafinha, do tamanho duma garrafinha de Coca-Cola, custava em torno de
setenta marcos. Eles compraram outras garrafas e pagaram religiosamente, até o vinho
que provaram. Depois desta atitude de Geraldo e Vera, o Oswald se abriu mais
ainda, explicando que tinha um parente no cartório de Klüsserat que seria capaz
de encontrar alguns registros dos Welter.
No
dia seguinte, ele telefonou ao Geraldo e a Vera para comunicar que fossem a tal
lugar e ali encontrariam alguma coisa. Foram e encontraram o registro de nascimento
- em francês - do Martim, nascido de Jacob Welter e Helena Blesius.
De
posse deste documento, voltaram ao Brasil e iniciaram uma ciranda, indo do
Arquivo Histórico, á Cúria Metropolitana atrás de mais documentos. Descobriram
registros de entrada do Martim e dos pais Jacob e Helena Blesius e dos outros
quatro filhos. Passaram a cotejar os documentos e foram apurando coisas até
descobrir que Jacob e a Helena tiveram mais dois filhos no Brasil, a Mariana e o
Mathias.
Para entrar no Brasil Jacob
escondeu a idade
Examinando
a documentação de entrada no Brasil apura-se coisas notáveis. O Jacob e a
Helena esconderam a verdadeira idade. Disseram que tinham em torno de trinta e
oito anos, quando Jacob já tinha quarenta e dois anos, pois nasceu em 1787 e
entrou no Brasil em 1829. Este dado revela que havia algumas regras a serem
observadas para imigrar ao Brasil. O Brasil só aceita agricultores e como menos
de quarenta anos de idade.
O
Jacob informou ser agricultor e não vinhateiro, como consta da certidão de
nascimento do Martim. Como agricultor ele podia vir mas não como fabricante de
vinho. Coisa engraçadas que só um burocrata explica.
A certidão do Martim foi feita em francês.
Uma
particularidade interessante existe na certidão do registro de nascimento do
Martim - ela foi toda escrita em língua francesa. Também o sobrenome Welter foi
escrito com "ae" em vez de "e", logo depois do "W".
Isto pode ter sido uma mera corruptela a ser atribuída ao escrevente que
escrevia em francês ou então os Welter se escreviam assim e mudaram o nome no
Brasil!
Jacob tinha alguma cultura?
A
assinatura do pai Jacob no registro de nascimento foi bem feita. Isto revela
que ele não era analfabeto de pai e mãe. Deveria saber ler e escrever. Mas em
que língua ele foi alfabetizado: em francês ou alemão? Ele deve ter sido alfabetizado
em alemão, pois o renanos falavam o Alemão, numa forma dialetal especial. A língua
mãe dele era pois o alemão, que ele falava e tanto falava que os seus
descendentes aprenderam o alemão e até hoje mantém o alemão como o idioma de
seus ancestrais. Não se tem notícia de que algum Welter tenha alguma vez falado
o francês como sua língua materna.
O registro
de nascimento do Martim deve ter sido feito em francês porque naquele tempo a
França, através de Napoleão Bonaparte, subjugara e controlava inteiramente a
Renânia. Esta era pequena e parecida com o atual país de Luxemburgo, que tem
apenas 2.600 quilômetros quadrados, apertado entre a França, a Alemanha e a Bélgica.
Luxemburgo
é um pequeno país rico porque é um paraíso fiscal. Aqueles pequenos estados independentes
mas constantemente devastados pelos grandes exércitos vizinhos, não tinha
indústrias porque a Revolução Industrial ainda não havia começado e não havia
capitais internacionais suficientes para serem atraídos. Os pequenos países, talvez
com exceção da Baviera, eram pobres. O Jacob Welter que acabara de sofrer o
flagelo dos exércitos vitoriosos de Napoleão Bonaparte, sentiu que deviam arriscar
e .imigrar para o desconhecido país, chamado Brasil.
Ele
era casado, tinha cinco filhos, todos menores e resolveu encarar. Depois de vender
tudo o que tinha, ele partiu. Tinha quarenta e dois anos de idade, pois nascera
em 1787. A esposa era de 1788.
Foram
corajosos e destemidos. Deixaram a terra natal, os parentes, os amigos, os vizinhos,
os conhecidos e uma vida relativamente organizada. Tomaram um navio à vela (naquele
tempo inexistiam os navios a vapor), viajaram até o Rio de Janeiro e depois, sempre
por água, até São Leopoldo. Depois foram residir nas matas dum país sul-americano,
atendendo a folheto de propaganda para atrair imigrantes, distribuído sob os
auspícios da Imperatriz Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, que queria povoar a
colônia do Sacramento (que hoje é o Uruguai) com colonos alemães e assim
mantê-la sob o domínio brasileiro.
Do
Rio de Janeiro, foram levados á São Leopoldo, que era então uma vila de parcos
recursos.
Ali
receberam as informações relativas à terras que lhes seria destinada. É fácil imaginar
a confusão e a trabalheira para manter crianças pequenas, abrigá-las e
alimentá-las numa terra estranha e pouco desenvolvida.
De
São Leopoldo, foram - sempre por água - pelo rio dos Sinos até o rio Caí e deste
até o rio Cadeias, para a região de São José do Hortêncio, na Picada (Schneitz)
e Capela do Rosário. Era um lugar bonito, coberto de mata atlântica tropical e
habitado por uma sorte bem grande de animais e por tribos de índios, índios que
se envolveram bem mais tarde com o rapto de um casal de filhos do colo Jacó
Versteg, segundo narra o Padre historiador, Mathias Gansweidt.
Jacó
Versteg veio depois de Jacob Welter e teria sido vítima de Luiz Bugger, um
índio que trabalhava para os colonos. Jacó teria se desentendido com o bugre e
ele, em represália, teria raptado dois filhos de Jacó, contando na empreitada com
a colaboração duma tribo de índios, acantonada por ali. O fato foi muito bem
narrado pelo Padre Mathias Ganzweidt, no livro: Luiz Bugger und Opfer seine
Rache.
Picada de Capela do Rosário
Uma
vez em Picada Capela do Rosário, eles tomaram posse da terra e, com o tempo,
nela construíram um moinho que foi explorado pela família e mais tarde
repassado ao filho Martim. As construções básicas do moinho à roda d'água ainda
existem. Pode-se observar uma roda de ferro, um aqueduto, taipa e o prédio de
madeira do moinho.
Não
é dificil imaginar o que eles passaram para instalar-se com os quatro filhos. Logo
aumentaram a família, acrescentando mais dois: a Mariana Welter e o Mathias.
Num
esforço de imaginação é possível reconstituir a vida desses imigrantes, que vieram
da Renania, uma pequena não mas já com alguma organização, e passara a residir numa
terra onde tudo tinha que ser feito. Naqueles tempos não havia estradas nem
meios de transporte. Os rios, os riachos e as sangas não estavam assoreadas
como agora; eram caudalosos e não tinham porr.es.
Os
caminhos eram os rios caudalosos ou as picadas abertas a machado e a facão. A
moto serra e o trator de esteira foram inventados muito tempo depois. As picadas
eram cheias de tocos e mui sinuosas pois elas eram abertas meio no rumo e
sempre deviam desviar as árvores mais grossas e atravessar rios e riachos em
lugares mais propícios. Tudo isso sem considerar os morros, ribanceiras
e os valetões. Contam que numa feita, uma barca encalhou e uma mulher com o filho
no colo tentou atravessar a forte corrente d'água. Ela e a criança teriam morrido.
Não
resta dúvida que estes Welter foram valente. Deviam temer as onças, os gatos do
mato, as cobras, as aranhas, os jacarés, etc. Isto tudo sem falar no índio que
sentia invadido pelos colonos que falavam uma língua mais complicada que o
português. Onde eles conseguiam o sal e as ferramentas mais essenciais, como
machados, enxadas, arados e facões? E aonde foram adquiridos os animais de tração
e com que dinheiro? Eles não deviam ter muito dinheiro. Optaram em sair de
Klüsserat porque a vida ali deveria estar dificil. Não apuraram muito dinheiro
com a venda de suas coisas na Europa, e a viagem até o porto de embarque,
normalmente em Bremen, com os cinco filhos e alguns mantimentos, deve ter sido
paga por eles."
IMIGRANTES JACOB WELTER E
HELENA BLESIUS
No livro
da família Welter há uma cópia do Certificado de Chegada ao Brasil dos
imigrantes Jacob e Helena Blesius Welter, que dá como a data de entrada no
Brasil, no Porto do Rio de Janeiro, 14 de maio de 1829.
No
site da Paróquia Martin Luther - Porto Alegre/RS.- Internet - tem a relação de
veleiros e de 1824 e 1830 e relação das famílias imigrantes e respectivos
navios. Lá constata-se que pelo veleiro James Laing chegaram ao Brasil as
seguintes famílias, que haviam embarcado no Cäcilie:
"Ahrend, Alles, Balzer, Becker, Bodin,
Bohnenberger, Bornemann, Bornhard, Breitenbach, Conrad, Core, Derr, Dietrich, Dreyer,
Engelsdor, Erwi, Feiten, Frtisch. Frõhner, Gallas, Gauer, Grimmion, Helfenstein,
Herrmann, Holzbach, Huber, Hummes, Joachim, Johann, Jung, Keiper, Keller,
Kirsten, Klein, Knapp, Koch, Kõhler, Kõnenkamp, Kiich, Leidens, Maders,
Manweiler, Midler, Nedel, Pavié, Petri, Pfeil, Plitz, Reichard, Rieth, .Robinson,
Roth, Sander, Schettert, Schlusen, Schmdt, Schmitz, Schneider, Schuch,
Schumacher, Schuns, Schwendt, Schindt, Siedkum, Spindler, Trumm. Wahrendorf, Weber, Welter,
Wentz, Wilken e Winter, "
O
navio Cäcilie traria a 25a leva. Partiu do porto de Bremen em
1827 e chegou ao porto do Rio de Janeiro apenas no ano seguinte em 29.9.1829. Este
navio avariou-se no Mar do Norte logo após a sua partida, vendo-se obrigado a
atracar no porto de Plymouth na Inglaterra para reparos. Os passageiros após
esperarem por diversos meses para reiniciar a viagem chegaram ao Rio de Janeiro
em 29/09/1829, sendo esta data comemorada, ainda hoje no
"Michelskerb" (Kerb de São Miguel) de Dois Irmãos e São José do
Hortêncio onde a maioria dos passageiros do Cäcilia se estabeleceram.
Vale
a pena mencionar que a data de chegada do veleiro James Laing não consta e
também no documento de entrada do Jacob não há o nome do veleiro. Pode-se
deduzir que um grupo de imigrantes do Cãcilie embarcou no James Laing e chegou
antes ao Rio de Janeiro do que os outros aguardaram o Câcilie. No trabalho do
Sr. Egídio não referência ao nome das famílias que desembarcaram no Cäcilie. No
dia 17 de abril de 2005, quando novamente acessei a página não há consegui
abrir o anexo 2° - Relação das famílias imigrantes e respectivos navios.
A
grande certeza que se tem é que o Jacob e a Helena se estabeleceram em São José
do Hortêncio/RS. Imigraram para o Brasil, pai, mãe e cinco filhos, da cidade de
Klüsserath da região de Trier, sendo que Jacob, tinha 38 anos, Helena, 38 anos,
Martin 14, Catharina, 12, João 10, Bárbara 8 e Elisabeth tinha 3 anos. Outros
dois filhos, Mariana e Mathias nasceram no Brasil.
Os Imigrantes
JACOB
WELTER (1787
+03/0 /1853) casado com HELENA BLESIUS (1788
+04/03/1874) entrou no Brasil, Rio de Janeiro em 14/05/1829. Tiveram os seguintes
filhos:
1 -
MARTIN WELTER (1815 +14/07/1887), casou
com Catarina Gertrudes von Burg. São José do Hortêncio.
2 -
CATHARINA WELTER (1817 e +?)
3
- JOÃO WELTER(27/06/1818
+03/02/1893), casou com Ana Maria Arenhardt. São José do Hortêncio.
4 -
BÁRBARA WELTER (09/0/1822 +12/11/199) casou com Kerber. São Pedro do Maratá.
5 -
ELISABETH WELTER (21/01/1827 +24/04/1921) casou com Nicolaus Klein. Linha
Comprida.
6 -
MARIANA WELTER (03/05/1830 +29/05/1913) casou com Franz Klein.
7 -
MATHIAS WELTER (04/03/1833 +1883), casou com Ana Maria Leidens. São José Hortêncio.
3 - JOÃO WELTER(27/06/1818 +03/02/1893),
terceiro filho de Jacob Welter e Helena Blesius, veio para o Brasil com os pais
aos 10 anos de idade. Casou-se em 12/04/1842 com Ana Maria Arenhardt (1824 +17/10/1900).
João faleceu aos 74 anos, em São José do Hortêncio de pulmão ulcerado. Seus
descendentes na maioria foram para Poço das Antas e de lá se espalharam para as
novas colônias: Cerro Largo, Caibaté, São Martinho, etc.
Tiveram
os seguintes filhos:
3.1
- MARTIN - (1842 +05/12/1909) casou
com Ana Maria Folmann
3.2
- ISABELA (1844)
3.3
- NICOLAU (1845)
3.4
- JACOB (1847 +14/05/1853) faleceu em Picada Nova
3.5
- JOÃO (10/06/1849 +07/02/1937) casou com Maria Crist (1849 +1934)
3.6
- ANA MARIA (05/03/1851 +09/05/1937) casou com Peter Spaniol
3.7
- HENRIQUE (1852 +20/1O/1853) faleceu me Picada Nova
3.8
- ANA MARGARIDA (10/06/1854 +02/09/1997) casou com Michel Folmann
3.9
- JOSÉ (18/11/1855 +29/11/1937) casou com Elisabeth Karlin
3.10
- HENRIQUE (05/02/1858 +?) casou com Catarina Kehl???
3.11
- ANA CATARINA (09/09/1860 +?) casou com Philipp Werlang
3.12
- MARGARIDA (11/10/1861 +?)
3.13
- ANA REGINA (1864 +?)
3.9 - JOSÉ (18/11/1855 +29/11/1937) casou com Elisabeth
Karlin (01/03/1857 +25/01/1939). Moraram em Arroio Augusta - Roca Sales/RS
Tiveram
os seguintes filhos:
3.9.1
– NICOLAU (11/07/1880 +29/06/1966)
3.9.2
- HENRIQUE
3.9.3
- JACÓ
3.9.4
- RUFINO PEDRO
3.9.5
- NICOLAU JOÃO
3.9.6
- EMÍLIO JOSÉ
3.9.7
- JOÃO ALBINO
3.9.8
- GUILHERME FREDERICO
3.9.9
- ANA MARIA
3.9.10
- MARIA KATARINA
3.9.11
- NICOLAU ALBERTO
3.9.12
- CARLOS EMÍLIO
3.9.13
- JOSÉ JOÃO
3.9.1 – NICOLAU (11/07/1880
+29/06/1966) casou-se com Guilhermina Dickel e em segundas núpcias com Amália
Dickel
Tiveram
os seguintes filhos:
3.9.1.1
- AMÁLIA, casou-se com Inácio Schoffen
3.9.1.2
- LÍDIA, casou-se com José Pletsch
3.9.1.3
- CELESTINA, casou-se com Arthur Elly
3.9.1.4
- CATHARINA, casou-se com Wildow Adams
3.9.1.5
- ROSA, casou-se com Arlindo Henz
3.9.1.6
- ANA, casou-se com Helmuth Hartmann
3.9.1.7
- ALBERTO JOSÉ (09/03/1917 +07/101l988) casou-se com ·Johana Finkler
(28/05/1915 +21/02/2006)
3.9.1.8
- REGINA, casou-se com Otmar Assmann
3.9.1.9
- PAULINA, casou-se com Lino Schneider
3.9.1.10
- EMÍLIO, casou-se com Rojek
3.9.1.11
- BERTA (filha de Amália), casou-se com Beno Hartmann
A
descendência de Alberto José Welter e Johana Finkler está em anexo.
Sou neto de Osvino Miguel Welter, filho de Emílio José Welter [3.9.6] que era meu bisavô.
ResponderExcluirMartin Welter é meu pentavô, pai de Barbara Welter
ResponderExcluirMeu bisavô é Nicolau Welter, o filho dele Jacó é meu avô e se casou com Tereza Rigodanzo
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