16 de dezembro de 2013

HISTÓRIA DA FAMÍLIA WELTER

TEXTO ELABORADO POR NELCINDO JOSÉ VIER, EM 18 DE MAIO DE 2005
Apresentação

Neste ano, quando estamos comemorando os noventa de anos de nossa avó Johanna Finkler Welter, achei importante, trazer ao conhecimento de quem possa se interessar, uma pequena apresentação sobre os ancestrais Welter e Finkler.

Esta pequena resenha tem um objetivo único: deixar uma pequena contribuição para aqueles que querem saber um pouco mais sobre uma parte de sua origem, sabe-se que quando se pesquisa sobre a nossa ascendência, à medida que se avança mais extensa fica a lista, mais sobrenomes se impõem.

Nós, no meu caso, netos de Alberto José e Johanna, descobrimos que somos parentes de Berwanger, Kühn, Warken, Schäfer, Vogel, Holz, pelos Finkler e Blesius, Arenhardt, Karlin, Dickel, pelos Welter. Embora os Finkler tenham chegado mais tarde ao Brasil, 1878, os trabalhos sobre a ascendência remontam a 1720, Johannes Finkler e Magdalena Berwanger, enquanto os Welter começam com o casal imigrante Jacob e Helena Blesius, 1829.

Estou de posse de dois livros sobre a família Finkler, escritos pelo Irmão Pedro Finkler, e um livro sobre a família Welter, escrito pelo casal Geraldo Luiz Welter e Vera Lúcia Lermen Welter - Salvador do Sul/RS.

Também utilizei para as pesquisas trabalhos encontradas na Internet produzidos por Egídio Weissheimer - Paróquia Martin Luther de Porto Alegre/Rã. É importante a gente olhar para frente, mas as vezes olhar pelo retrovisor também o é.

Se alguém tiver mais informações sobre a família Welter estou preparando dados para remeter ao casal Geraldo e Vera Lúcia, aliás as informações dos descendentes de Nicolau Welter nascido em 11/07/1880 e falecido em 29/06/1966 não estão no livro. Os dados que tenho do Livro Welter, são comprovados. A localização do Nicolau Welter foi feita por eliminação, pelo ano de nascimento, e também através de conversa mantida com sua filha Berta, que confirmou que viviam em Arroio Augusta - Roca Sales/RS e pelo nome dos irmãos do Nicolau (existem muitos Nicolaus na família Welter). Com mais algum tempo deveremos conseguir documentos que comprovem esta descendência.

Idade avançada na Família Finkler Welter não é novidade termos exemplos nas gerações anteriores que chegar aos oitenta, noventa anos, era bastante freqüente e para nós chegarmos também a idade de nossos ancestrais, precisamos apenas olhar e seguir o exemplo deles. Para aqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer os outros temos nossa avó Johanna como exemplo.

Quando elaboramos este trabalho, maio de 2005, ainda viviam da família do Vovô Alberto - a Paulina (Caxias do Sul) e a Berta (Cândido Godói). Da família da Vovó Johanna: Arthur (Venâncio Aires), Johanna (Medianeira), Maria (Sede Alvorada/PR), Aloisio (Cerro Largo), Anna Maria (Salvador das Missões), Rosa (Cerro Largo), Benno (Paraguai) e Hedi (Cerro Largo).

Esta pesquisa como envolve muitos nomes de familiares, lugares, pode apresentar grafias incorretas, para os filhos dos primos procurei usar o nome com grafia aportuguesada. Aquele que tiver algum nome a corrigir pode entrar em contato comigo.

O pequeno trabalho começa com um texto sobre a Imigração Alemã no Rio Grande do Sul. Sei que hoje na descendência de Welter e Finkler há uma miscigenação de origens. Usei a imigração alemã no RS pois é dali que vieram os ancestrais Welter e Finkler.

 

 

A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO RIO GRANDE DO SUL

Texto de Egídio Weissheimer - Trabalho apresentado em 25 de julho de 1999 na comemoração dos 175 anos de emigração alemã no RS - Igreja Ev. Martin Luther POA/RS

 

1. RAZÕES POLITICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS QUE DETERMINARAM A VINDA DE SOLDADOS E COLONOS AO BRASIL.

Para entendermos o processo imigratório de alemães para o Brasil é necessário analisar as condições sócio-econômicas reinantes na Alemanha e no Brasil.

Não só a Alemanha mas toda a Europa respirava aliviada com o fim do flagelo napoleônico.

Embora a guerra tivesse terminada em 1815 com a derrota de Napoleão na batalha de Waterloo, isto no entanto em nada mudou as péssimas condições que a Alemanha passava tanto nas cidades como no campo.

No campo reinava o minifúndio. Sucessivas divisões hereditárias haviam tornado as propriedades em frações de terras muito reduzidas. Pela contínua exploração as terras tornaram-se pouco produtivas. Subsistia ainda a estrutura de trabalho baseada no regime feudal. Mas de nada revolvia o abandono do campo pelos camponeses pois estes não encontravam emprego nas cidades. A indústria manufatureira havia criado novas profissões, para as quais os camponeses não tinham habilitação, pois eram na maioria ex-servos desqualificados.

Nas cidades a situação não era diferente. A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII, provocou profundas alterações na estrutura sócio-econômica. A industrialização trouxe efeitos negativos aos artesãos. Até o advento da máquina, alfaiates, tecelões, ferreiros, carpinteiros, e outros profissionais tinham seu trabalho valorizado. No momento em que uma única máquina passou produzir o que várias dezenas de pessoas faziam, a competição levou-os à ruína. A máquina produzia mais e melhor. Passaram assim à condição de simples operários, obrigados a trabalhar muitas horas por dia por salário aviltante.

A vacinação em massa da população determinada por Napoleão acelerou o crescimento populacional. Não havia empregos para ocupar tanta gente. O mercado de trabalho não se ampliava na mesma proporção do crescimento populacional.

Para os agricultores e artesãos restava apenas uma saída: a emigração.

A carreira militar durante séculos foi uma saída para empregar os filhos que não encontravam emprego no campo nem na cidade. O serviço militar no entanto era obrigatório. Sua duração era determinada em função da situação política reinante. Em períodos de guerra o serviço militar estendia-se até a assinatura da paz. Isto gerava descontentamento. Para fugir do serviço militar a única saída era a deserção para reinos ou ducados próximos. Os que cometiam tal transgressão eram expatriados. Para eles restava também uma única saída: a emigração.

Outro fator de descontentamento foi o que podemos chamar de "a sanção da igreja". O clero francês até a revolução de 1789 compunha o chamado "Primeiro Estado". Estava assim acima da própria Nobreza que ocupava o "Segundo Estado". Os membros do alto clero, que saiam das hostes aristocratas, possuíam privilégios como receber altas pensões do tesouro, isenção de impostos, etc.

Enquanto isso o sacerdote que ministrava os sacramentos nas aldeias, que lidava com os pobres e oprimidos, para sobreviver era obrigado a cobrar pelos serviços prestados. Na Alemanha um casamento não saía por menos de R$ 130,00. Para a realização das núpcias o pagamento era efetuado antecipadamente. Se o casal não possuísse tal quantia, ocorria em muitos casos o concubinato o que era extremamente condenado pela sociedade. Os concubinos discriminados não encontravam emprego. Se possuíssem algum comércio os fregueses desapareciam. Para estes também restava uma única saída: a emigração.

Foram estes os fatores que determinaram a emigração de alemães para o Brasil.

E o que acontecia no Brasil. No dia 7 de Setembro de 1822, às margens do Riacho Ipiranga em São Paulo, havia proclamado a Independência do País. Em 1808 a Família Real Portuguesa havia fugido para o Brasil, a bordo de 14 navios ingleses, para escapar da invasão das tropas napoleônicas. Com a derrota de Napoleão em 18/06/1815, na Batalha de Waterloo, nada mais impedia o regresso de D. João VI a Portugal o que se deu em 24/04/1821. Com o retomo da família real, entenderam as autoridades portuguesas que o Brasil deveria retomar à condição de simples colônia, fato que deixara de ser desde que fora incorporado ao Reino Unido de Portugal e Algarve. O então príncipe D. Pedro deveria retomar imediatamente à Portugal para aprimorar a sua educação, pois era o sucessor natural do sue pai no trono de Portugal.

A proclamação da independência encontrou oposição não só em Portugal como dentro do nosso próprio País. As autoridades provinciais eram portuguesas e mantinham-se fieis à Coroa Portuguesa. As tropas portuguesas aqui aquarteladas tiveram que ser daqui expulsas em 1823. Novo exército teve que ser formado para garantir militarmente a nossa independência, pois em Lisboa grandes aparatos de forças militares estavan sendo preparados para invadir o Brasil. Mas não havia soldados suficientemente preparados no país. Para ocupar as cerca de 4.000 vagas abertas nos Batalhões de Estrangeiros, apenas 200 soldados rasos haviam se apresentado. Era necessário, portanto, traze-los do exterior.

Além de soldados necessitava o país também de colonos que viessem a instalar no Sul, onde a questão militar quanto à soberania sobre a Província Cisplatina havia gerado diversos conflitos com a Argentina. Por recomendação da Imperatriz D. Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, filha de Imperador Francisco I, com quem D. Pedro se casara em 13/05/1817, decidiu-se trazer não só soldados mas também colonos da Alemanha. Lá havia milhares de soldados desempregados desde o fim das guerras contra a França.

A difícil missão de angariar colonos e contratar soldados alemães para os Batalhões de Estrangeiros do Brasil, coube ao Major Johann Anton von Schaeffer, que havia chegado ao Brasil em 1814 e conseguido granjear a amizade de D. Leopoldina, pelo interesse de ambos nas ciências naturais.

De posse de uma procuração que o nomeava de "Agente de afazeres políticos do Brasil", Schaeffer encontrou inicialmente grandes dificuldades em contratar soldados na Alemanha. A exportação de soldados era proibida, desde o Congresso de Viena em 1815, pois as grandes potências européias (Prússia, Inglaterra, Áustria e Rússia) não permitiriam o surgimento de um outro "Napoleão" no mundo, e , D. Pedro I, com a independência do Brasil foi considerado um usurpador do poder, um rebelde que traíra o pai.

Enquanto que em alguns Estados alemães havia a proibição, em outros existia o direito dos cidadãos à emigração, principalmente nos Estados da atual Renânia onde, pela proximidade com a França, a destruição provocada pela guerra havia sido maior e onde mais se fizeram sentir os efeitos do fim do feudalismo. Cerca de 50% dos imigrantes são provenientes desta região, mas precisamente do “Hunsrück” quadrilátero compreendido entre os Rios Reno, Mosela, Nahe e Saar. Os camponeses que agora podiam abandonar o campo, não encontravam trabalho nas cidades também já repletas de artesãos desempregados, pois as indústrias estavam trocando a mão-de-obra humana pelas máquinas que produziam mais e melhor.

Os minifúndios criados pelo direito hereditário, aliado às terras exauridas por sua contínua exploração, foram, como já vimos, fatores que determinaram a expulsão dos camponeses que, por não encontrarem ocupação nas cidades, tinham na emigração a única saída.

Com a oferta pelo Governo brasileiro de terras (cerca de 150 Morgen = 77 hectares), além de ferramentas, gado, sementes, auxílio financeiro nos 2 primeiros anos e isenção nos primeiros 10 anos, a missão de Schaeffer foi grandemente facilitada.

Para não chamar a atenção das autoridades Schaeffer embarcava soldados disfarçados e imiscuídos entre famílias de colonos. Para angariar os emigrantes Schaeffer havia nomeado diversos suba gentes na Alemanha que se encarregavam da documentação e do transporte dos colonos das suas localidades até o porto de embarque, que no início foi o de Hamburgo enquanto Schaeffer se ocupava na contratação das embarcações, veleiros (galeras) de 3 mastros. Da Renânia até Hamburgo viagem, feita em diligências puxadas à tração animal, demorava cerca de 4 semanas. Em Hamburgo eram os emigrantes submetidos a quarentena e ao exame da documentação, entre eles o "certificado de cidadania brasileira", com renúncia expressa da cidadania alemã, fornecido por Schaeffer. Não queriam as autoridades alemães que emigrantes arrependidos voltassem para sua terra natal.

O embarque dava-se quando o navio estava pronto, ou seja, devidamente adequado para o transporte de pessoas. Os veleiros construídos para o transporte de mercadorias, recebiam beliches instalados na entrecoberta da embarcação para acomodar os passageiros. O início da viagem significava a despedida definitiva da família e dos amigos, mas significava também o abandono da uma pátria com instabilidade institucional, democracia precária, explosão demográfica, recessão econômica, terras exauridas e improdutivas, e que para os emigrantes significava a fuga do desemprego, da fome, da insegurança, da falta de perspectivas e do desespero.

 

2. DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS IMIGRANTES.

O início da viagem também significava o princípio de uma aventura: a viagem pelo Atlântico, que dependendo das condições a viagem pelo Atlântico levava de 90 a 120 dias. Os suíços que haviam chegado ao Brasil em 1819, oriundos de Freiburg e que aqui se instalaram em Nova Friburgo, tiveram uma viagem desastrosa. Por falta de organização aguardaram por 2 meses o embarque no porto da Holanda. Mal instalados ali mesmo enterraram 43 emigrantes. Os 2.018 montanheses arrebanhados por campos e aldeias atravessaram o Atlântico espremidos em 7 barcos. Um dos barcos, o Urânia, em que embarcaram 437 passageiros, devido a uma epidemia, marcou sua rota marítima com um rastro de 107 corpos. Mais de 1 cadáver por dia. Um quarto dos passageiros lançados do tombadilho. No Rio de Janeiro outra mortandade em decorrência de febres tropicais. Ao todo, de uma Friburgo à outra, a velha na Suíça e a nova no Rio, somaram-se 389 baixas. Dos 2.018 colonos que saíram chegaram apenas 1.631, índice de mortandade parecido com o dos navios negreiros!

Com o ingresso de Major Schaeffer no processo imigratório isto não haveria de acontecer.

Homem extremamente diligente organizou com todo o cuidado os embarques. Em cada uma das 27 expedições que organizou de 1824 a 1829 havia um "comandante do transporte" ou "chefe da expedição", que zelavam pela disciplina, pela higiene bordo bem como dos direitos e deveres dos passageiros. A alimentação não era descurada. Os comandantes convidavam passageiros para os seus camarotes para comprovar que a alimentação servida aos tripulantes era a mesma que era servida aos passageiros. Em cada navio havia um médico cirurgião, farmacêutico e enfermeiros para cuidar da saúde bem como da higiene para evitar a erupção de epidemias à bordo. Evidentemente que ocorreram mortes nas viagens, mas estas sempre foram decorrentes de causas diversas, e não devidos à má alimentação ou falta de higiene da embarcação ou das passageiros.

Embora mais seguras quanto à moléstias as viagens não deixavam de representar um grande temor para os passageiros. Vamos resumir apenas o que aconteceu com 4 das 27 embarcações que chegaram ao Rio de Janeiro de 1824 a 1829.

O 1° veleiro, o Argus saiu de Hamburgo 27.7.1823 e desde o início foi assolado por fortes tempestades que sopravam para o Oeste. Depois de perder o mastro central atracou no porto holandês de Texel. Durante as reformas cerca de 26 passageiros fugiram com medo de prosseguir a viagem. Em 10 de setembro reiniciou a viagem que não foi mais feliz que a primeira. Nova tempestade os obrigou a arribar na ilha de Wight, ainda na Holanda. Depois de 15 dias, inicia a terceira partida mas um forte furacão obriga a embarcação a atracar no Porto de Biscaia na Espanha e mais tarde nas costas da África, onde após muitas delongas conseguiu fazer um ancoradouro seguro na ilha de Tenerife, de onde partiu no dia 8 de Novembro para chegar no dia 7 de Janeiro de 1824 ao Rio de Janeiro, trazendo 284 pessoas, sendo 134 colonos e 150 soldados. Entre os passageiros encontrava-se o pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, o primeiro pastor evangélico do Brasil que se radicou em Nova Friburgo cuja esposa faleceu durante a viagem em virtude de um parto. No Argus também viajou Karl Nietbarnrner o primeiro boticário da Colônia Alemã de São Leopoldo.

Outro veleiro que passou por peripécias foi o Germania que trouxe a quarta leva de imigrantes.

Capitaneado por Hans Voss e tendo como "comandante do transporte" o Ten. Ferdinand von Kiesewetter. Partiu em 9/05/1824 de Hamburgo até o porto de Glüclcstadt, no Rio Elba, de onde zarpou em 03/06/1824. Chegou ao Rio de Janeiro no dia 14/09/1824 trazendo 401 passageiros sendo 277 soldados e 124 colonos. A bordo viajaram o pastor Johann Georg Ehlers, Karl von Ende e Johann Daniel Hillebrand. Ehlers seria, o primeiro pastor evangélico de São Leopoldo e que iniciou os registros eclesiásticos ainda à bordo do Gennania; Karl von Ende o primeiro médico e Hillebrand também médico e depois o primeiro administrador da Colônia Alemã de São Leopoldo. A viagem deste veleiro foi marcada por rebeliões e desordens. O navio além de 124 colonos trazia também 277 soldados, entre eles um pequeno contingente de ex-prisioneiros saídos das casas de reclusão de Hamburgo. Ainda atracado em Glüclcstadt no Elba um recruta tentou incendiar a embarcação. Durante uma tempestade houve rebelião a bordo. Efetuadas as investigações por uma Comissão foram responsabilizados 8 passageiros, todos ex-prisioneiros das prisões de Hamburgo que foram julgados e fuzilados. O Pastor Ehlers e o médico Hillebrand faziam parte da Comissão.

O veleiro Cäcilia também teve uma viagem sinistra. Depois de passar por terrível tempestade em que perdeu todos os seus mastros, foi abandonado pelo Capitão por considerar a embarcação perdida. Ficou vagando ao "Deus dará" pelo Canal da Mancha até ser encontrado por um barco inglês que o rebocou até o porto de Plymouth na Inglaterra. Ali os náufragos aguardaram por 2 anos por um novo embarque para a América, fato proporcionado pela interferência da imperatriz austríaca D. Amélia von Leuchtenberg em viagem ao Brasil. Os passageiros do Cãcilia que deixaram a Alemanha em 1827 chegaram ao Rio de Janeiro no dia 29 de Setembro de 1829, sendo esta data comemorada, ainda hoje, no "Michelskerb" (Kerb de São Miguel) de Dois Irmãos e São José do Hortêncio onde a maioria dos passageiros do Cäcilia se estabeleceram.

Não menos tormentosa foi a viagem do brigue holandês "Ativo". Depois de uma tormentosa travessia do Atlântico ao invés de atracar no Rio de Janeiro arribou na costa de Pernambuco, onde 122 dos 140 passageiros ( 18 faleceram na viagem) foram abandonados à própria sorte. Fundaram um pequeno núcleo germânico que batizaram de Santa Amélia. Dedicaram-se à agricultura rudimentar e à produção de carvão vegetal. Consta que alguns com recursos próprios e viajando até em carros de boi, chegaram anos depois ao Rio Grande do Sul.

Nenhuma das vicissitudes antes narradas pode ser comparada ao da Galera Holandesa Company Patie, Zarpou no dia 10/10/1825. Ocorre que desde Dezembro de 1825 o Brasil entrara em guerra contra a Argentina pela posse da Província Cisplatina ( atual Uruguai). Ao chegar próximo ao Rio em Janeiro de 1826 o Company Patie foi aprisionado por corsários à serviço dos castelhanos, sendo levado ao sul com destino à Argentina. Na entrada do porto de Buenos Ayres a embarcação foi interceptada por navio de guerra brasileiro e os passageiros instalados na ilha das Flores situada nem frente a Montevidéu. Dali dos 281 cerca de 200 fugiram para a Argentina, com o "comandante do transporte" Karl Heine que dizem ter sido um agente de imigração à serviço de Rosas. Os 81 restantes voltaram ao Rio de Janeiro onde chegaram em 17 de maio de 1826.

A relação de acidentes com embarcações, no 10 período da imigração que vai de 1824 a 1830, encerra-se com a naufrágio do Bergantim Flor de Porto Alegre. Saiu do Rio de Janeiro em fins de 1824 com destino a Porto alegre. No início de Janeiro de 1825 naufragou na costa gaúcha, encalhado nos bancos de areia em frente a Mostardas. Dos 61 passageiros 2 morreram afogados. Os demais salvaram-se nadando até a praia onde foram acolhidos pelos moradores do lugar. Cerca de 15 colonos instalaram-se em Torres. Os demais náufragos entre eles o pastor Leopold Voges chegaram no dia 11102/1825 em São Leopoldo.

Nos 27 embarques organizados por Schaeffer no período de 1824 a 1829, chegaram ao Rio de Janeiro cerca de 5.000 colonos e outros tantos soldados. Estes eram engajados nos Batalhões dos Estrangeiros. Os colonos ficavam alojados em galpões da Praia Grande (Niterói), aguardando viagem ao sul. Enquanto a travessia oceânica era feita em navios de 3 mastros, os viagens para Porto Alegre eram efetuadas em bergantins, sumacas e escunas, com 2 mastros apenas, por causa do pouco calado da barra de Rio Grande. A Capital da Província de São Pedro era atingida em média em 3 semanas de viagem. Aqui depois de recepcionados pelo Presidente da Província ficavam alojados na extremidade sul do porto, em prédio do arsenal de guerra, próximo à atual usina do gasômetro. Para o transporte até São Leopoldo, na época conhecida por "Passo do Courita" (ali morava um português natural de Coura) eram utilizados lanchões toldados, movidos à vela e à remo. Em carretas os colonos chegavam à Feitoria do Linho-Cânhamo onde ficavam alojados até o recebimento do seu lote de terras.

A Feitoria havia sido fundada em 1783 pelo vice-rei Dom Luiz de Vasconcellos e Souza e instalada inicialmente no sul do Estado no local então denominado de "Rincão do Caguçu". Seu objetivo era plantar o linho-cânhamo, cientificamente conhecida por "canabis sativa" e que hoje e conhecida por "maconha". Esta planta fornecia excelente fibra para a fabricação de cordas, cordoalhas e velas largamente empregadas na navegação da época. Devido a sucessivos déficits, creditados à baixa produtividade das terras, foi a Feitoria em 1788 transferida para as margens do Rio dos Sinos. Os resultados ali obtidos também não foram satisfatórios. Por isso foi extinta em 31/03/1824. Suas terras, correspondentes a duas léguas, correspondentes a 180 colônias de 100.000 braças quadradas, foram subdivididas e distribuídas entre os colonos alemães que ali aportaram, em numero de 39 pessoas 110 dia 25 de Julho de 1824. Dos 321 escravos apenas 9 permaneceram na Feitoria à disposição do administração José Thomás de Lima e que prestaram grande serviço na construção das casas para o alojamento dos imigrantes que ano a ano vinham em maior número. Em 1824 chegaram em São Leopoldo 126 imigrantes; em 1825 = 909; em 1826 = 828; em 1827 = 1.088; em 1828 = 99; em 1829 = 1.689 e em 1830 chegaram 117 totalizando 4.830. imigrantes.

Os recém chegados à Feitoria de logo se depararam com novos problemas:

- por falta de demarcação das terras, muitos ficaram instalados nos prédios antes ocupados pelos escravos, aguardando por meses o assentamento dos lotes;

- a demarcação dos lotes fora feita apenas na parte frontal ficando os limites laterais por conta dos proprietários, o que gerou muitas brigas e questões judiciais;

- os subsídios que deveriam ser pagos nos primeiros dois anos eram suspensos tão lego o agricultor tivesse meios de auto sustentar-se o que ocorria já ao final do primeiro ano; os imigrantes que chegaram em 1829 e 1830 nada receberam pois as verbas haviam sido suspensas no orçamento pelo governo imperial;

Todos estes problemas e percalços não foram suficientes para demover o espírito empreendedor daquela pobre mas trabalhadora gente.

Apenas um ano após a chegada dos primeiros imigrantes, junto ao "Passo do Courita" artesãos que não possuíam aptidão para o trabalho na terra haviam formado uma florescente povoação, posteriormente batizada de São Leopoldo.

No primeiro período da imigração que vai de 1824 a 1830 todo os vale do Rio dos Sinos havia sido ocupado pelos imigrantes. Além de São Leopoldo haviam fundado Novo Hamburgo (Hamburgerberg), Campo Bom, Dois Irmãos (Baumschneis), Ivoti (Berghanerschenis, depois Bom Jardim), Estancia Velha, Sapiranga (Leonerhof), além de São José do Hortêncio (Portugiserschneis). A partir de 1836 haviam também ocupado terras ao leste de São Leopoldo como Taquara do Mundo Novo, fundada por Tristão Monteiro e Igrejinha, por eles batizada de "Kleinkirchen";

Em todas estas localidades o comércio, a indústria e os artesãos (sapateiros, curtidores, seleiros, ferreiros, carpinteiros, tecelões, alfaiates, etc. ) estavam em franco progresso, quando em 1835 estourou a Revolução Farroupilha. Os imperiais ou legalistas juntaram-se ao Dr. Hillebrand a quem também se juntaram o major Ferdinand Maximilian Kersting, Tem. Heinrich Wilhelm Mosye e outros; os rebeldes ou farroupilhas uniram-se ao Major Hans Ferdinand Albrecht Hermann von Salisch nomeado, pelo governo revolucionário, Diretor da Colônia de São Leopoldo. Durante os 10 anos da Revolução as atividades da Colônia estiveram paralisadas. O envolvimento da Colônia Alemã neste triste episódio que dividiu a família riograndense, teve a participação de centenas de imigrantes, lutando de ambos os lados, semeando a morte e a destruição em toda região.

 

3. REGIÕES COLONIZADAS E PRINCIPAIS CIDADES FUNDADAS PELOS IMIGRANTES ALEMÃES NO RS.

Com a assinatura da paz do Ponche Verde em 1845 entre Caxias e David Canabarro, teve prosseguimento o processo imigratório alemão para o Rio Grande do Sul. Os alemães que daí em diante aqui aportariam, ocupariam os Vales do Caí, Taquari e Jacuí.

No Vale do Caí, as principais cidades de Montenegro e São Sebastião do Caí, de colonização portuguesa, receberiam um aporte do elemento germânico que também se estabeleceram em Pareci, Pareci Novo, Harmonia e Bom Princípio ( Winterschneis) e outras localidades. A região do Arroio Forromeco, afluente do Caí, foi colonizada a partir de 1854 pela "Sociedade Montravel, Silveiro & Cia." que ali fundou a Colônia de Santa Maria da Soledade onde foram assentados não só colonos alemães mas também belgas, holandeses, suíços e franceses. Mais acima no Rio Cai localiza-se Feliz, colonizada pelo Governo Imperial a partir de 1846, eleita pela ONU em 1998 como a "cidade de melhor qualidade de vida do Brasil"; e fmalmente, Nova Petrópolis, fundada em 1858 por Sellin e Bartolomay.

Pelo Vale do Jacuí, a principal cidade Cachoeira do Sul, onde inicialmente se instalaram portugueses, também recebeu forte contingente germânico. As vizinhas cidades de Agudo e Paraíso do Sul, compreendendo a antiga Colônia de Santo Ângelo fundada pelo Barão von Kahlden, foram ocupadas por Pomeranos vindos de Lubow a partir de 1857.

No Vale do Taquari, cujas principais cidades Lajeado (na época Colônia Conventos fundada por Antônio Fialho em 1853), Teutônia ( fundada em 1858 por Carl Arnt) e Estrela (fundada por Vitor Barreto em 1846) bem como as cidades em seu entorno: Canabarro, Forqueta, Forquetinha, Cruzeiro do Sul, Boa Esperança, Marques de Souza (na época Neu Berlin fundada em 1868), não nos esquecendo de Santa Cruz, no Vale do Rio Pardo (colonizada por Bartolomay em 1849) e sua vizinha Monte Alverne colonizada a partir de 1860, temos a presença marcante não só de novos imigrantes alemães mas também de colonos emigrados das antigas colônias alemãs do Sinos e do Caí.

Por fim no sul do Estado encontramos São Lourenço do Sul, colônia fundada por Jakob Rheingantz em 1857 e onde se radicaram diaristas oriundos da Westphália.

Onde se instalaram deixaram uma senda de progresso como são exemplos os Vales do Sinos, Caí e Taquari. Não vieram apenas simples colonos, mas também artífices do couro (sapateiros, seleiros, curti dores ), ferreiros, carpinteiros, marceneiros, alfaiates, tecelões, médicos e professores etc.

É verdade que na sua grande maioria eram pobres.

É verdade que fugiram de uma Pátria com democracia precária, com explosão demo gráfica, com recessão econômica, com terras exauridas e improdutivas. Também é verdade que fugiram do desemprego, da fome, da insegurança e da falta de perspectivas.

Mas também é verdade que trouxeram consigo a sua enorme capacidade de trabalho, sua arte, suas tradições, folclore e costumes, sua língua, sua culinária que souberam preservar até os dias atuais.

Em resumo: semearam o progresso onde há apenas 175 anos atrás existia apenas mato (em 25 de julho de 2005 fará 181 anos)!

Hoje quando estamos com toda justiça homenageando a chegada dos primeiros imigrantes alemães, muito temos a agradecer a aquelas humildes, corajosas e obstinados pessoas que, deixando a sua pátria mãe, vieram aqui construir um futuro melhor para si e para os seus, contribuindo lado a lado com as demais etnias, no progresso e desenvolvimento não só do nosso Estado mas também da pátria brasileira que adotaram.

 

ORIGEM WELTER

Transcrevo um depoimento do Desembargador Guido W. Welter publicado no livro Welter. Escreve Guido: "Fui a uma festa da família Welter, ou seja; daqueles que tem o sobrenome Welter, como eu. Realizou-se em São José do Hortêncio, perto daqui. Pelo menos mais perto do que Cerro Largo, onde aconteceram as primeiras reuniões dos Welter. Valeu ter ido. Descobri que o primeiro Welter adulto aportou por estas plagas em 1829. Chamava-se Jacob e trouxe consigo a esposa Helena Blesius (não há notícia de nenhum outro Blesius, nome que parece romano) e mais cinco filhos menores. Saiu de K1üsserat, no vale do Mosel, perto de Trier, da antiga Renânia-Platinado, hoje Alemanha.

 

Quem foi Jacob Welter?

Geralmente, os alemães do sul tendem a ter cabelos escuros e tez um tanto amorenada. Ele era do sul. Da Renânia, ou Platinado-Renânia, um dos estados independentes que, sob a inspiração da Áustria, formaram a Confederação de Estados Alemães. Isto quer dizer que os renanos habitavam um pequeno país, que não era a Prússia nem a Áustria. Falavam um dialeto, parecido com um dos muitos dialetos que existem, como, por exemplo, o Hundsrick, o pomerano, o plat deutsch.

 

A Renânia.

A Alemanha - na época de Jacob Welter - ainda não existia com a configuração que tem hoje.

Os Estados independentes do sul, eram pequenos países, que viviam da agricultura e da pecuária e a vida girava toda em tomo da corte, porque - geralmente - eram governados por um Rei, um Duque ou um Grão Duque. Porque eram pequenos não possuíam um exército capaz de se opor aos grandes exércitos, como os da França, da Prússia ou da Áustria. Eram constantemente atravessados por esses exércitos pelo simples fato de estarem no caminho do exército mais poderoso. Quando atravessados sofriam toda a sorte de peripécias. Perdiam as colheitas, tinham que entregar cavalos e bois e, ás vezes, tinha as suas mulheres estupradas.

Estes Estados - como a Renânia - não tinham segurança contra os grandes exércitos. Na época de Jacob Welter, o grande exército era o francês, ou o exército de Napoleão Bonaparte, que desde 1808 foi senhor de toda a Europa até 1814, quando foi derrotado em Waterloo. A Vida era dificil nesses pequenos Estados independentes do sul. Tinham poucas chances e ainda perdiam quase todos os seus viveres quando um grande exército atravessava o seu território. Estes pequenos Estados se uniram em 1870, sob inspiração de Oto von Bismark e formaram com a Prússia, o grande império Alemão, a grande Alemanha.

Mas isto só acontece em 1870 e o Jacob em 1829 tinha que dar um jeito na sua vida. Era um homem que tinha alguma coisa, pois era produtor de vinho. Ele foi alcançado pela propaganda do Brasil, sob a inspiração da imperatriz, dona Leopoldina, que queria garantir a Colônia do Sacramento para Portugal e para o Brasil fixando ali moradores vindos diretamente da Europa.

 

O que fez Jacob Welter?

Podes dizer, sem sombra de dúvidas que Jacob foi um homem sagaz e valente. Ele teve coragem de encarar aquela oportunidade, imigrar para o desconhecido Brasil. Estava mais do que farto de ser constantemente invadido por exércitos estranhos. Sabia que seu país era pequeno e incapaz de se opor aos grandes exércitos. Resolveu atender o chamado que veio expresso num folheto de propaganda distribuído pelo então governo brasileiro e foi embora. Vendeu tudo o que tinha e com a mulher e mais cinco filhos menores, imigrou para o Brasil, uma terra nova.

 

Como viemos a saber sobre Jacob Welter?

Nada sabíamos sobre ele. O pouco que sabemos agora, conseguimos graças ao empenho do simpático casal Geraldo e Vera Welter. Eles foram à Alemanha e, depois de muitas indagações, terminaram em Klüsseral, no Mosel. Ali encontraram o Osvald Welter, fabricante de vinho e ex-borgomeister (prefeito) de Klüsserat.

Logo que se dera a conhecer o Osvald, notaram que ele os mantinha a distância, como se o Geraldo e a Vera tivessem vindo reivindicar alguma coisa ou postular herança ou se instalar na casa dele para não mais sair. O gelo só se quebrou após o Geraldo e a Vera declinarem a sua situação de brasileiros bem situados na vida, com curso superior e patrimônio que lhes permite manter um excelente padrão de vida. Ai Osvald baixou a guarda e os convidou a uma prova de vinho.

Foram à cantina e constataram que ele fabrica um vinho especial mas caro pra chuchu. Uma garrafinha, do tamanho duma garrafinha de Coca-Cola, custava em torno de setenta marcos. Eles compraram outras garrafas e pagaram religiosamente, até o vinho que provaram. Depois desta atitude de Geraldo e Vera, o Oswald se abriu mais ainda, explicando que tinha um parente no cartório de Klüsserat que seria capaz de encontrar alguns registros dos Welter.

No dia seguinte, ele telefonou ao Geraldo e a Vera para comunicar que fossem a tal lugar e ali encontrariam alguma coisa. Foram e encontraram o registro de nascimento - em francês - do Martim, nascido de Jacob Welter e Helena Blesius.

De posse deste documento, voltaram ao Brasil e iniciaram uma ciranda, indo do Arquivo Histórico, á Cúria Metropolitana atrás de mais documentos. Descobriram registros de entrada do Martim e dos pais Jacob e Helena Blesius e dos outros quatro filhos. Passaram a cotejar os documentos e foram apurando coisas até descobrir que Jacob e a Helena tiveram mais dois filhos no Brasil, a Mariana e o Mathias.

 

Para entrar no Brasil Jacob escondeu a idade

Examinando a documentação de entrada no Brasil apura-se coisas notáveis. O Jacob e a Helena esconderam a verdadeira idade. Disseram que tinham em torno de trinta e oito anos, quando Jacob já tinha quarenta e dois anos, pois nasceu em 1787 e entrou no Brasil em 1829. Este dado revela que havia algumas regras a serem observadas para imigrar ao Brasil. O Brasil só aceita agricultores e como menos de quarenta anos de idade.

O Jacob informou ser agricultor e não vinhateiro, como consta da certidão de nascimento do Martim. Como agricultor ele podia vir mas não como fabricante de vinho. Coisa engraçadas que só um burocrata explica.

 

A certidão do Martim foi feita em francês.

Uma particularidade interessante existe na certidão do registro de nascimento do Martim - ela foi toda escrita em língua francesa. Também o sobrenome Welter foi escrito com "ae" em vez de "e", logo depois do "W". Isto pode ter sido uma mera corruptela a ser atribuída ao escrevente que escrevia em francês ou então os Welter se escreviam assim e mudaram o nome no Brasil!

 

Jacob tinha alguma cultura?

A assinatura do pai Jacob no registro de nascimento foi bem feita. Isto revela que ele não era analfabeto de pai e mãe. Deveria saber ler e escrever. Mas em que língua ele foi alfabetizado: em francês ou alemão? Ele deve ter sido alfabetizado em alemão, pois o renanos falavam o Alemão, numa forma dialetal especial. A língua mãe dele era pois o alemão, que ele falava e tanto falava que os seus descendentes aprenderam o alemão e até hoje mantém o alemão como o idioma de seus ancestrais. Não se tem notícia de que algum Welter tenha alguma vez falado o francês como sua língua materna.

O registro de nascimento do Martim deve ter sido feito em francês porque naquele tempo a França, através de Napoleão Bonaparte, subjugara e controlava inteiramente a Renânia. Esta era pequena e parecida com o atual país de Luxemburgo, que tem apenas 2.600 quilômetros quadrados, apertado entre a França, a Alemanha e a Bélgica.

Luxemburgo é um pequeno país rico porque é um paraíso fiscal. Aqueles pequenos estados independentes mas constantemente devastados pelos grandes exércitos vizinhos, não tinha indústrias porque a Revolução Industrial ainda não havia começado e não havia capitais internacionais suficientes para serem atraídos. Os pequenos países, talvez com exceção da Baviera, eram pobres. O Jacob Welter que acabara de sofrer o flagelo dos exércitos vitoriosos de Napoleão Bonaparte, sentiu que deviam arriscar e .imigrar para o desconhecido país, chamado Brasil.

Ele era casado, tinha cinco filhos, todos menores e resolveu encarar. Depois de vender tudo o que tinha, ele partiu. Tinha quarenta e dois anos de idade, pois nascera em 1787. A esposa era de 1788.

Foram corajosos e destemidos. Deixaram a terra natal, os parentes, os amigos, os vizinhos, os conhecidos e uma vida relativamente organizada. Tomaram um navio à vela (naquele tempo inexistiam os navios a vapor), viajaram até o Rio de Janeiro e depois, sempre por água, até São Leopoldo. Depois foram residir nas matas dum país sul-americano, atendendo a folheto de propaganda para atrair imigrantes, distribuído sob os auspícios da Imperatriz Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, que queria povoar a colônia do Sacramento (que hoje é o Uruguai) com colonos alemães e assim mantê-la sob o domínio brasileiro.

Do Rio de Janeiro, foram levados á São Leopoldo, que era então uma vila de parcos recursos.

Ali receberam as informações relativas à terras que lhes seria destinada. É fácil imaginar a confusão e a trabalheira para manter crianças pequenas, abrigá-las e alimentá-las numa terra estranha e pouco desenvolvida.

De São Leopoldo, foram - sempre por água - pelo rio dos Sinos até o rio Caí e deste até o rio Cadeias, para a região de São José do Hortêncio, na Picada (Schneitz) e Capela do Rosário. Era um lugar bonito, coberto de mata atlântica tropical e habitado por uma sorte bem grande de animais e por tribos de índios, índios que se envolveram bem mais tarde com o rapto de um casal de filhos do colo Jacó Versteg, segundo narra o Padre historiador, Mathias Gansweidt.

Jacó Versteg veio depois de Jacob Welter e teria sido vítima de Luiz Bugger, um índio que trabalhava para os colonos. Jacó teria se desentendido com o bugre e ele, em represália, teria raptado dois filhos de Jacó, contando na empreitada com a colaboração duma tribo de índios, acantonada por ali. O fato foi muito bem narrado pelo Padre Mathias Ganzweidt, no livro: Luiz Bugger und Opfer seine Rache.

 

Picada de Capela do Rosário

Uma vez em Picada Capela do Rosário, eles tomaram posse da terra e, com o tempo, nela construíram um moinho que foi explorado pela família e mais tarde repassado ao filho Martim. As construções básicas do moinho à roda d'água ainda existem. Pode-se observar uma roda de ferro, um aqueduto, taipa e o prédio de madeira do moinho.

Não é dificil imaginar o que eles passaram para instalar-se com os quatro filhos. Logo aumentaram a família, acrescentando mais dois: a Mariana Welter e o Mathias.

Num esforço de imaginação é possível reconstituir a vida desses imigrantes, que vieram da Renania, uma pequena não mas já com alguma organização, e passara a residir numa terra onde tudo tinha que ser feito. Naqueles tempos não havia estradas nem meios de transporte. Os rios, os riachos e as sangas não estavam assoreadas como agora; eram caudalosos e não tinham porr.es.

Os caminhos eram os rios caudalosos ou as picadas abertas a machado e a facão. A moto serra e o trator de esteira foram inventados muito tempo depois. As picadas eram cheias de tocos e mui sinuosas pois elas eram abertas meio no rumo e sempre deviam desviar as árvores mais grossas e atravessar rios e riachos em lugares mais propícios. Tudo isso sem considerar os morros, ribanceiras e os valetões. Contam que numa feita, uma barca encalhou e uma mulher com o filho no colo tentou atravessar a forte corrente d'água. Ela e a criança teriam morrido.

Não resta dúvida que estes Welter foram valente. Deviam temer as onças, os gatos do mato, as cobras, as aranhas, os jacarés, etc. Isto tudo sem falar no índio que sentia invadido pelos colonos que falavam uma língua mais complicada que o português. Onde eles conseguiam o sal e as ferramentas mais essenciais, como machados, enxadas, arados e facões? E aonde foram adquiridos os animais de tração e com que dinheiro? Eles não deviam ter muito dinheiro. Optaram em sair de Klüsserat porque a vida ali deveria estar dificil. Não apuraram muito dinheiro com a venda de suas coisas na Europa, e a viagem até o porto de embarque, normalmente em Bremen, com os cinco filhos e alguns mantimentos, deve ter sido paga por eles."

 

IMIGRANTES JACOB WELTER E HELENA BLESIUS

No livro da família Welter há uma cópia do Certificado de Chegada ao Brasil dos imigrantes Jacob e Helena Blesius Welter, que dá como a data de entrada no Brasil, no Porto do Rio de Janeiro, 14 de maio de 1829.

No site da Paróquia Martin Luther - Porto Alegre/RS.- Internet - tem a relação de veleiros e de 1824 e 1830 e relação das famílias imigrantes e respectivos navios. Lá constata-se que pelo veleiro James Laing chegaram ao Brasil as seguintes famílias, que haviam embarcado no Cäcilie:

"Ahrend, Alles, Balzer, Becker, Bodin, Bohnenberger, Bornemann, Bornhard, Breitenbach, Conrad, Core, Derr, Dietrich, Dreyer, Engelsdor, Erwi, Feiten, Frtisch. Frõhner, Gallas, Gauer, Grimmion, Helfenstein, Herrmann, Holzbach, Huber, Hummes, Joachim, Johann, Jung, Keiper, Keller, Kirsten, Klein, Knapp, Koch, Kõhler, Kõnenkamp, Kiich, Leidens, Maders, Manweiler, Midler, Nedel, Pavié, Petri, Pfeil, Plitz, Reichard, Rieth, .Robinson, Roth, Sander, Schettert, Schlusen, Schmdt, Schmitz, Schneider, Schuch, Schumacher, Schuns, Schwendt, Schindt, Siedkum, Spindler, Trumm. Wahrendorf, Weber, Welter, Wentz, Wilken e Winter, "

O navio Cäcilie traria a 25a leva. Partiu do porto de Bremen em 1827 e chegou ao porto do Rio de Janeiro apenas no ano seguinte em 29.9.1829. Este navio avariou-se no Mar do Norte logo após a sua partida, vendo-se obrigado a atracar no porto de Plymouth na Inglaterra para reparos. Os passageiros após esperarem por diversos meses para reiniciar a viagem chegaram ao Rio de Janeiro em 29/09/1829, sendo esta data comemorada, ainda hoje no "Michelskerb" (Kerb de São Miguel) de Dois Irmãos e São José do Hortêncio onde a maioria dos passageiros do Cäcilia se estabeleceram.

Vale a pena mencionar que a data de chegada do veleiro James Laing não consta e também no documento de entrada do Jacob não há o nome do veleiro. Pode-se deduzir que um grupo de imigrantes do Cãcilie embarcou no James Laing e chegou antes ao Rio de Janeiro do que os outros aguardaram o Câcilie. No trabalho do Sr. Egídio não referência ao nome das famílias que desembarcaram no Cäcilie. No dia 17 de abril de 2005, quando novamente acessei a página não há consegui abrir o anexo 2° - Relação das famílias imigrantes e respectivos navios.

A grande certeza que se tem é que o Jacob e a Helena se estabeleceram em São José do Hortêncio/RS. Imigraram para o Brasil, pai, mãe e cinco filhos, da cidade de Klüsserath da região de Trier, sendo que Jacob, tinha 38 anos, Helena, 38 anos, Martin 14, Catharina, 12, João 10, Bárbara 8 e Elisabeth tinha 3 anos. Outros dois filhos, Mariana e Mathias nasceram no Brasil.

 

Os Imigrantes

JACOB WELTER (1787  +03/0 /1853) casado com HELENA BLESIUS (1788 +04/03/1874) entrou no Brasil, Rio de Janeiro em 14/05/1829. Tiveram os seguintes filhos:

1 - MARTIN WELTER (1815  +14/07/1887), casou com Catarina Gertrudes von Burg. São José do Hortêncio.

2 - CATHARINA WELTER (1817 e +?)

3 - JOÃO WELTER(27/06/1818 +03/02/1893), casou com Ana Maria Arenhardt. São José do Hortêncio.

4 - BÁRBARA WELTER (09/0/1822 +12/11/199) casou com Kerber. São Pedro do Maratá.

5 - ELISABETH WELTER (21/01/1827 +24/04/1921) casou com Nicolaus Klein. Linha Comprida.

6 - MARIANA WELTER (03/05/1830 +29/05/1913) casou com Franz Klein.

7 - MATHIAS WELTER (04/03/1833 +1883), casou com Ana Maria Leidens. São José Hortêncio.

 

3 - JOÃO WELTER(27/06/1818 +03/02/1893), terceiro filho de Jacob Welter e Helena Blesius, veio para o Brasil com os pais aos 10 anos de idade. Casou-se em 12/04/1842 com Ana Maria Arenhardt (1824 +17/10/1900). João faleceu aos 74 anos, em São José do Hortêncio de pulmão ulcerado. Seus descendentes na maioria foram para Poço das Antas e de lá se espalharam para as novas colônias: Cerro Largo, Caibaté, São Martinho, etc.

Tiveram os seguintes filhos:

3.1 - MARTIN - (1842 +05/12/1909) casou com Ana Maria Folmann

3.2 - ISABELA (1844)

3.3 - NICOLAU (1845)

3.4 - JACOB (1847 +14/05/1853) faleceu em Picada Nova

3.5 - JOÃO (10/06/1849 +07/02/1937) casou com Maria Crist (1849 +1934)

3.6 - ANA MARIA (05/03/1851 +09/05/1937) casou com Peter Spaniol

3.7 - HENRIQUE (1852 +20/1O/1853) faleceu me Picada Nova

3.8 - ANA MARGARIDA (10/06/1854 +02/09/1997) casou com Michel Folmann

3.9 - JOSÉ (18/11/1855 +29/11/1937) casou com Elisabeth Karlin

3.10 - HENRIQUE (05/02/1858 +?) casou com Catarina Kehl???

3.11 - ANA CATARINA (09/09/1860 +?) casou com Philipp Werlang

3.12 - MARGARIDA (11/10/1861 +?)

3.13 - ANA REGINA (1864 +?)

 

3.9 - JOSÉ (18/11/1855 +29/11/1937) casou com Elisabeth Karlin (01/03/1857 +25/01/1939). Moraram em Arroio Augusta - Roca Sales/RS

Tiveram os seguintes filhos:

3.9.1 – NICOLAU (11/07/1880 +29/06/1966)

3.9.2 - HENRIQUE

3.9.3 - JACÓ

3.9.4 - RUFINO PEDRO

3.9.5 - NICOLAU JOÃO

3.9.6 - EMÍLIO JOSÉ

3.9.7 - JOÃO ALBINO

3.9.8 - GUILHERME FREDERICO

3.9.9 - ANA MARIA

3.9.10 - MARIA KATARINA

3.9.11 - NICOLAU ALBERTO

3.9.12 - CARLOS EMÍLIO

3.9.13 - JOSÉ JOÃO

 

3.9.1 – NICOLAU (11/07/1880 +29/06/1966) casou-se com Guilhermina Dickel e em segundas núpcias com Amália Dickel

Tiveram os seguintes filhos:

3.9.1.1 - AMÁLIA, casou-se com Inácio Schoffen

3.9.1.2 - LÍDIA, casou-se com José Pletsch

3.9.1.3 - CELESTINA, casou-se com Arthur Elly

3.9.1.4 - CATHARINA, casou-se com Wildow Adams

3.9.1.5 - ROSA, casou-se com Arlindo Henz

3.9.1.6 - ANA, casou-se com Helmuth Hartmann

3.9.1.7 - ALBERTO JOSÉ (09/03/1917 +07/101l988) casou-se com ·Johana Finkler (28/05/1915 +21/02/2006)

3.9.1.8 - REGINA, casou-se com Otmar Assmann

3.9.1.9 - PAULINA, casou-se com Lino Schneider

3.9.1.10 - EMÍLIO, casou-se com Rojek

3.9.1.11 - BERTA (filha de Amália), casou-se com Beno Hartmann

 

A descendência de Alberto José Welter e Johana Finkler está em anexo.
 

3 comentários:

  1. Sou neto de Osvino Miguel Welter, filho de Emílio José Welter [3.9.6] que era meu bisavô.

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  2. Martin Welter é meu pentavô, pai de Barbara Welter

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  3. Meu bisavô é Nicolau Welter, o filho dele Jacó é meu avô e se casou com Tereza Rigodanzo

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