3 de novembro de 2023

Algumas palavras de síntese na conclusão do sínodo

 

PROGRAMA AÇÃO PASTORAL

Todas as quintas-feiras às 19h, na São João Paulo II Web TV Foz do Iguaçu

 

PROGRAMA 160 - DIA 2 de novembro 2023

Algumas palavras de síntese na conclusão do Sínodo

 

Para a humanidade à beira do abismo, o que aconteceu nas últimas quatro semanas em Roma é um sinal de esperança. E indica o caminho para uma Igreja missionária que, finalmente aplicando o Concílio Vaticano II, não tem medo das novidades sugeridas pelo Espírito Santo.

A síntese feita abaixo, ainda sem ter acesso ao Relatório de Síntese da 16ª Assembleia Geral do Sínodo, leva em conta a Carta ao Povo de Deus, alguns artigos de partilha de bispos que participaram e das impressões que o vaticanista Andrea Tornielli escreveu a partir do Relatório (em italiano).

 

ESPÍRITO SANTO

"Quero recordar que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. Sugiro que levem consigo os textos de São Basílio, que nos preparou o Padre Davide Piras, e continuem meditando-o, porque isso pode ajudá-los.

A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecuménica de abertura, experimentámos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. "A cruz é, de facto, a única cátedra d'Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que 'todos sejam um' (Jo 17,21)". Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiámos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: "Laudate Deum! ". (Carta ao povo de Deus)

 

O sínodo é um sinal

Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutamos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhámos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. (carta ao povo de Deus)

Em um mundo que está se incendiando e está à beira do abismo de um novo conflito mundial; em um mundo marcado pela incapacidade de ouvir e pelo ódio que fomenta guerras e violências que também se refletem no continente digital, o fato de quatrocentas pessoas terem se reunido por um mês longe de casa para rezar, se ouvir, discutir é certamente uma notícia. A Igreja sinodal na qual o Papa Francisco insiste hoje representa uma pequena semente de esperança: ainda é possível dialogar, acolher o outro, deixando de lado o protagonismo do próprio ego para superar as polarizações a fim de chegar a um consenso amplamente compartilhado. (Andrea Tornielli).

O sínodo sobre a sinodalidade será uma semente de esperança se o tempo de graça vivido pelos homens (a maioria, e uma maioria de bispos) e pelas mulheres reunidos em Roma for testemunhado como um método a ser aplicado com paciência em todas as expressões da vida das comunidades cristãs. Não será uma semente de esperança se for reduzida ao cumprimento burocrático, talvez colocando-a no liquidificador da linguagem do "eclesialês" e autorreferencial, uma mistura de velhas categorias clericais. As de uma Igreja que, em palavras, diz que quer aplicar o Concílio, mas depois age com as categorias pré-conciliares por meio de práticas consolidadas, com os bispos e os padres que decidem e os outros batizados que devem se limitar a colocar suas decisões em prática. (Andrea Tornielli).

 

CONFIANÇA PARA VIVER A CONVERSÃO PASTORAL E MISSIONÁRIA

Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: "Amor! ". Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia. É a "confiança" que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentámos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente. (Carta ao povo de Deus)

 

APLICAR AS INDICAÇÃOES DO CVII

Em primeiro lugar, uma nova percepção da necessidade de aplicar os ensinamentos do último concílio, com relação ao único chamado que envolve todos nós como batizados. Em todas as páginas do Evangelho, Jesus, que se aproximava de todos e falava com todos, sofre oposição e é combatido pelas castas. Os clérigos da época, acostumados a colocar fardos pesados sobre os ombros dos outros, os escribas, os doutores da lei, os professores de doutrina. (Andrea Tornielli).

É preciso olhar para o Nazareno para recuperar na Igreja, em todos os níveis, desde a Cúria Romana até a menor das paróquias, a consciência de que todo ministério é serviço e não poder, e "serve" realmente se aproxima, une, torna corresponsáveis, cria fraternidade, testemunha a misericórdia de Deus, não se distancia, não se reforça em privilégios, não se traça linhas de separação entre os que são ordenados e os que não são, não se considera (talvez mais com atos do que com palavras) o leigo como um batizado de segunda classe. Ao mesmo tempo, também é necessário evitar, por parte dos batizados não chamados à vocação ao sacerdócio, mas a outras formas de testemunho e de serviço no único sacerdócio batismal, o risco de querer se clericalizar e de se deixar clericalizar, para ir além das pequenas castas dos "leigos comprometidos". (Andrea Tornielli).

 

MULHERES

O Relatório de Síntese que acaba de ser publicado fala da necessidade comum de dar mais espaço às mulheres, ao gênio feminino, ao princípio mariano tão importante na Igreja. Também nesse caso, seria suficiente ter a coragem de olhar mais para o Evangelho e confiar mais em Jesus. Sob a cruz, quando apóstolos e discípulos (exceto João) fugiram, havia mulheres. Enquanto Ele morria, elas permaneceram. E é à intuição e à coragem delas de deixar o cenáculo que devemos o primeiro anúncio da ressurreição. (Andrea Tornielli).

No túmulo vazio, as mulheres foram as primeiras, não os homens, nem os apóstolos assustados que permaneceram trancados em suas casas. O primeiro anúncio da notícia mais chocante da história humana - aquela do Deus que se faz homem, morre por nós e depois ressuscita, tornando-nos parte desse destino - foi feito por mulheres, não por homens. Elas testemunham o que viram, o túmulo vazio, e são as primeiras a dizer que Jesus está vivo. Elas fazem a primeira homilia sobre o querigma, sobre os fundamentos de nossa fé, aos apóstolos e discípulos ainda horrorizados com o que aconteceu na Sexta-feira Santa. (Andrea Tornielli).

 

CLERICALISMO

Seria suficiente começar daqui para conscientizar todos de que as mulheres devem ser muito mais valorizadas em todos os níveis da Igreja, superando o flagelo do clericalismo, doença infelizmente ainda profundamente enraizada e repetidamente denunciada pelo Sucessor de Pedro. É de se esperar que o documento de síntese do Sínodo represente um ponto de não retorno na recuperação das origens evangélicas também nesse campo. (Andrea Tornielli).

- não estamos falando de padre mandão aqui.

- estamos falando de um estilo de Igreja: o padre que manda, os leigos que só obedecem e não vivem seu protagonismo, um pequeno grupo que manda na paróquia/pastoral/movimento, só obedecer as leis, senso de pertença e amor a Igreja e não sair correndo quando naõ ganha o quer, ou “o que veio comprar”.

- se propõe um novo estilo: organizar por conselhos, cada um viver a sua vocação, escutar e ir a todos, paciencia uns com os outros para que cada um viva o seu caminho de conversão, decisão de acolher e dar espaço a todos.

 

ACOLHIMENTO DAS PESSOAS FERIDAS

Um outro elemento que emerge do texto votado pelos membros do sínodo é o que se refere ao acolhimento das pessoas feridas. Acolher os pobres - a proximidade a eles e a escolha preferencial por eles é o ensinamento de Jesus Cristo e da tradição dos Padres da Igreja, não uma categoria sociológica ou a descoberta das teologias da libertação - e acolher os migrantes, nos quais o cristão não pode deixar de ver refletidos os rostos da sagrada família de Nazaré em fuga. Mas também acolher aqueles que são "irregulares", que estão distantes, que não são "apresentáveis". Mais uma vez, precisamos voltar ao Evangelho e àquela síntese tão eficaz contida nas palavras que o bispo de Roma confiou aos jovens na JMJ de Lisboa, repetindo que na Igreja há realmente lugar para todos, "todos, todos".  (Andrea Tornielli).

Em cada página evangélica, vemos o Nazareno quebrando tabus e tradições consolidadas, derrubando a presunção e a hipocrisia, para abraçar o pecador, que está ferido, que é descartado, que não está dentro da legalidade, que é corrupto, que está distante, que não é um "de nós". Será bom voltarmos à dinâmica do que aconteceu em Jericó em março do ano 30, alguns dias antes da paixão, morte e ressurreição de Jesus, quando o Mestre, passando sob o sicômoro, olha para cima e chama o pequeno publicano corrupto, odiado por todos, convidando-se para entrar em sua casa. Zaqueu recebe o Nazareno, reconhece o seu pecado e se converte. Mas essa conversão é a consequência de primeiro ter sido olhado com amor, acolhido e inundado de misericórdia. Não é um pré-requisito necessário. O que é necessário é uma Igreja capaz de olhar para cada mulher e cada homem, com suas misérias, com seu pecado, com o mesmo olhar de Jesus, para fazê-los sentir-se acolhidos e acompanhá-los com paciência e ternura, confiando na obra da graça e da sua ação no tempo e no modo de Deus no coração das pessoas e em suas histórias. (Andrea Tornielli).

 

POR FIM

Os pontos em que a síntese do Sínodo pede uma revisão do Direito Canônico, de seguir o caminho do ecumenismo com maior convicção e concretude, de valorizar melhor as estruturas sinodais já existentes.  (Andrea Tornielli).

 

E AGORA? Caminhar juntos

E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra "sínodo". Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, "Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstratos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (...), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um" (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos. (Carta ao povo de Deus)

Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória. (Carta ao povo de Deus)

A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje. Precisa de acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões. Para progredir no discernimento sinodal, a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis. Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade e nos quais o Espírito, que "a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido" (Gaudium et spes 22), também está presente e atua. (Carta ao povo de Deus)

Os sínodos são um exercício da Igreja em vista do discernimento, de vida em conjunto com as pessoas e com o Senhor. Com a graça de Deus existem muitas maneiras de experimentar formas de sinodalidade. Desta forma uma Igreja sinodal caminha em comunhão em vista de uma missão comum com o Senhor e com as pessoas, através da participação de cada um de seus membros.  (D. Vital Corbelini)

Isso aparece "nessa maneira de estar juntos, de dialogar, é o método de Cristo, Cristo primeiro se encarnou e depois caminhou com o povo, dialogou com o povo e perguntou ao povo", enfatiza o arcebispo peruano. De acordo com ele, "é um falso medo que eles têm, não há perda de ministerialidade, se você é um bispo, você é um bispo, se você é um pároco, você é um pároco, mas é enriquecido por uma grande escuta. Ouvir seus fiéis, ouvir seus sacerdotes, ouvir os outros, a sociedade, e depois agir. Mas, no final, é um produto da escuta e não apenas de uma decisão pessoal". Por isso, "quando há pessoas que têm medo da horizontalidade, eu pessoalmente não entendo". (Dom Miguel Cabrejos)

Em vista da segunda sessão em 2024, são oferecidas reflexões e propostas sobre temáticas como o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e o diaconato, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o ecumenismo e os abusos.

 

REFERENCIAS

Carta ao povo de Deus.

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2023-10/sinodo-publicada-carta-povo-deus.html?fbclid=IwAR3O-zzP5p4w_MB0H0DspRboGZuNuA2rxoMZizJ4Zi83oD4_WoZokuSZ5lM

 

Dom Vital Corbellini. O SÍNODO A COMUNHÃO A PARTICIPAÇÃO E A MISSÃO

https://www.cnbb.org.br/o-sinodo-a-comunhao-a-participacao-e-a-missao/

 

Dom Miguel Cabrejos. Sínodo: “tudo é um processo, um processo que começou há muito tempo"

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-11/sinodo-processo-comecou-muito-tempo-cabrejos.html?fbclid=IwAR2za0tiytNNwj8XkeJ1IAR_rE_4jHBnRqpWARVPK-umrBGbiWzW2iwBBSY

 

Andrea Tornielli. A pequena luz do Sínodo na hora escura do mundo

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-10/editorial-conclusao-sinodo-dos-bispos-2023-andrea-tornielli.html4

 

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