Olá pessoal!
Levantei cedo hoje pra buscar alguns discursos que eu ainda não havia encontrado, e para minha surpresa tinha um email da Nadia (Secretária da JMJ para o Regionla Sul II) que já tinha tudo prontinho! Muito obrigado.
Só tive o trabalho de trazer pra cá para que todos possam ter acesso à essas pérolas. Boa Leitura a todos.
Discursos e homilias do Santo
Padre na vinda á JMJ – Rio de Janeiro – 2013.
Dia
22 de julho de 2013 – JMJ - Rio de Janeiro.
Discurso
do Papa Francisco no 1º dia de visita ao Brasil.
"Senhora
Presidenta, Ilustres Autoridades, Irmãos e amigos!
Quis
Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu
Pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao
Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos
profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor
de Pedro. Dou graças a Deus pela sua benignidade.
Aprendi
que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu
imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente
a esta porta.
Peço
licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem
prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu
Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e
desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja
com vocês!”
Saúdo
com deferência a senhora presidenta e os ilustres membros do seu governo.
Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras que externaram a
alegria dos brasileiros pela minha presença em sua Pátria. Cumprimento também o
senhor governador deste Estado, que amavelmente nos recebe na sede do governo,
e o senhor prefeito do Rio de Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomático
acreditado junto ao governo brasileiro, as demais autoridades presentes e todos
quantos se prodigalizaram para tornar realidade esta minha visita.
Quero
dirigir uma palavra de afeto aos meus irmãos no Episcopado, sobre quem pousa a
tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas amadas igrejas
particulares. Esta minha visita outra coisa não quer senão continuar a missão
pastoral própria do Bispo de Roma de confirmar os seus irmãos na Fé em Cristo,
de animá-los a testemunhar as razões da Esperança que d’Ele vem e de
incentivá-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu Amor.
O
motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende as suas
fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os
jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo
Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir
de novo o seu potente e claro chamado: "Ide e fazei discípulos entre todas
as nações".
Estes
jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são
portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas
para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade
límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade. Cristo
abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que
aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela
experiência da sua amizade. Cristo “bota fé” nos jovens e confia-lhes o futuro
de sua própria causa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras do
que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens “botam
fé” em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque
sabem que não serão desiludidos.
Ao
iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me
aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais
de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres
dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações. Os pais
usam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”. Que bela
expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos
olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai
ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em
frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar
por esta desafiadora pergunta.
A
juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo e, por isso, nos impõe
grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida
em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e
imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos
sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação
para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros
pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente
que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do
bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida
humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do
próprio amanhã e corresponsável do destino de todos. Concluindo, peço a todos a
delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo
de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira
nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a
Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as
metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se
Deus quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida,
invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a todos
abençoo. Obrigado pelo acolhimento!"
Dia
24 de julho de 2013 – JMJ - Rio de Janeiro.
Homilia do Papa Francisco na Missa no
Santuário Nossa Senhora Aparecida.
“Venerados
irmãos no episcopado e sacerdócio, queridos irmãos e irmãs!
Quanta
alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa
Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui
visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu
ministério.
Hoje,
eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada
Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano. Queria
dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando
aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do
Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os bispos
– que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão –
eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de
peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela
Conferência foi um grande momento de vida de Igreja.
E,
de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste
encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a
proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa
da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro
discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.
Assim,
de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu
venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que
ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a
transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um país
e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar
atenção para três simples posturas: conservar a esperança; deixar-se
surpreender por Deus; viver na alegria.
Conservar a esperança:
A segunda leitura da missa apresenta uma cena dramática: uma mulher, figura de
Maria e da Igreja, sendo perseguida por um dragão – o diabo – que quer lhe
devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus
intervém e coloca o filho a salvo. Quantas dificuldades na vida de cada um, no
nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus
nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na
vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé
como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta
certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!
Nunca
percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O
“dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte.
Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou
menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de
tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro,
o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de
vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes
ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos
uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que
caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem
protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para
a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo
que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração
espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste santuário, que faz parte da
memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade,
solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que
encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.
A
segunda postura: Deixar-se surpreender
por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé
nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A
história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia
sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba, encontram algo
inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que
o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros
podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho
novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que
nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos
em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se
nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria,
aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de
amizade com Ele.
A
terceira postura: Viver na alegria.
Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo
vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos
deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste.
Deus nos acompanha. Temos uma mãe que sempre intercede pela vida dos seus
filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura. Jesus nos mostrou que
a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O
cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num
constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e
sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria
que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui, neste
santuário: “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não
há amor, não há futuro”.
Queridos
amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e
nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o que Ele vos disser”. Sim,
Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com
esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja”.
Palavras Do Papa Depois Da Santa Missa Na Basílica
Do Santuário De Nossa Senhora Aparecida
Irmãos
e irmãs… Irmãos e irmãs, eu não falo brasileiro. Perdoem-me! Vou falar em
espanhol. Desculpem!
Muito
obrigado! Obrigado por estarem aqui. De coração, muito obrigado. E, com todo o
meu coração, peço à
Virgem
Nossa Senhora Aparecida que lhes abençoe, abençoe suas famílias, abençoe seus
filhos, abençoe seu pais, abençoe a Pátria inteira. Vejamos – agora vou
certificar-me – se me entendem. Faço-lhes uma pergunta: Uma mãe se esquece de seus
filhos? [Não…] Ela não se esquece de nós, Ela nos ama e cuida de nós. Agora
vamos lhe pedir a Bênção. A Bênção de Deus Todo-Poderoso Pai, Filho e Espírito
Santo desça sobre vocês e permaneça para sempre.
Quero
pedir-lhes um favor, um jeitinho… Rezem por mim; rezem por mim, preciso! Que
Deus lhes abençoe.
Que
Nossa Senhora Aparecida lhes proteja. Adeus até quando eu voltar, em 2017!
(Fonte : Site do Vaticano)
Discurso
do Papa Francisco no Hospital São Francisco de Assis da Providência de Deus
24/07/2013.
“Senhor
Arcebispo do Rio de Janeiro, Amados Irmãos no Episcopado, Distintas
Autoridades, Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da
Penitência, Prezado médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, Amados
jovens e familiares!
Quis
Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se
dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital
São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês:
o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre
no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a
verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a
Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que
tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele
irmão sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta
enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos
a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência
química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês – vocês que são a carne de
Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de
vocês e também o meu.
Abraçar.
Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade, como São
Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção,
cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Freqüentemente, porém,
nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores
de morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do
tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige
da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas,
como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a
difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os
problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça,
educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando
quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar
o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade,
para expressar solidariedade, afeto e amor.
Mas
abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem
caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você
pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser.
Queridos
amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas
que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é
o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a
mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu
lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias
com vocês. Olhem para frente com confiança; a travessia é longa e cansativa,
mas olhem para frente, existe «um futuro certo, que se coloca numa perspectiva
diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá
novo impulso e nova força à vida de todos os dias» (Carta Encícl. Lumen fidei,
57). A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas
digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos
portadores de esperança!
No
Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por
assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham,
mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Somente
um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e
cuida dele (cf. Lc 10, 29-35).
Queridos
amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom
Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas
amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química
ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque vêem nestas
pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre.
Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço
de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo
presente nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais
pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos
Jesus.
E
quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês familiares
que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe dos esforços
que vocês fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês
e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes dará
consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua Mãe.
Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração.
Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está Ela, nossa Mãe.
Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençôo. (Fonte : G1)
PALAVRAS
DO SANTO PADRE AOS JOVENS ITALIANOS NO FINAL DA VISITA AO HOSPITAL SÃO FRANCISCO
.
A
minha saudação para vocês, jovens italianos, que estão nos acompanhando em
direto do Maracanãzinho. Sei que se reuniram juntamente com muitos brasileiros
de origem italiana e com seus Bispos para celebrar a pessoa de Jesus e refletir
sobre as respostas que somente Ele sabe dar às suas questões de fé e de vida. Confiem
em Cristo, ouçam-no, sigam os seus passos. Ele nunca nos abandona, nem mesmo
nos momentos mais escuros da vida. Ele é a nossa esperança. Amanhã, em
Copacabana, teremos oportunidade para aprofundar esta verdade, para tornar
luminosa a vida. Até amanhã! (Fonte Site do Vaticano)
Dia
25 de julho de 2013 – JMJ - Rio de Janeiro.
O
papa Francisco recebeu nesta quinta-feira a chave da cidade do Rio de Janeiro
em cerimônia realizada no Palácio da Cidade, sede do governo municipal, e
depois abençoou as bandeiras dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016 na
sacada do palácio, em um evento que contou com a presença de vários atletas brasileiros.
O papa foi recebido pelo prefeito Eduardo Paes, pelo governador Sérgio Cabral e
pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman.
Discurso
do Papa Francisco:
Discurso
do Papa na Comunidade Varginha, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.
Queridos
irmaos e irmas,
Que bom
poder estar com voces aqui! Desde o inicio, quando planejava a minha visita ao
Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste Pais. Queria
bater em cada porta, dizer "bom dia", pedir um copo de agua fresca,
beber um "cafezinho", falar como a amigos de casa, ouvir o coracao de
cada um, dos pais, dos filhos, dos avos... Mas o Brasil e tao grande! Nao e
possivel bater em todas as portas! Entao escolhi vir aqui, visitar a Comunidade
de vocês que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como e bom ser bem
acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como voces decoraram as
ruas da Comunidade; isso e tambem um sinal do carinho que nasce do coracao de
voces, do coracao dos brasileiros, que esta em festa! Muito obrigado a cada um
de voces pela linda acolhida! Agradeco a Dom Orani Tempesta e ao casal Rangler
e Joana pelas suas belas palavras.
Desde o
primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e tambem aqui junto de
voces, me sinto acolhido. E e importante saber acolher; e algo mais bonito que
qualquer enfeite ou decoracao. Isso e assim porque quando somos generosos
acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o
nosso tempo - nao ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando
alguem que precisa comer bate na sua porta, voces sempre dao um jeito de
compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais agua no feijao”! E voces fazem isto com amor, mostrando que a
verdadeira riqueza nao esta nas coisas, mas no coracao! E povo brasileiro,
sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de
solidariedade, que e uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque
e incomoda. Queria lancar um apelo a todos os que possuem mais recursos, as
autoridades publicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a
justica social: Nao se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais
solidario! Ninguem pode permanecer insensivel as desigualdades que ainda
existem no mundo!
Cada um, na
medida das proprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua
contribuicao para acabar com tantas injusticas sociais! Nao e a cultura do
egoismo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela
que constroi e conduz a um mundo mais habitavel, mas sim a cultura da solidariedade;
ver no outro nao um concorrente ou um numero, mas um irmao. Quero encorajar os esforços
que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu
corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, atraves do combate a fome e a
miseria. Nenhum esforco de "pacificacao" sera duradouro, não havera
harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa a margem, que
abandona na periferia parte de si mesma. "Nao deixemos entrar no nosso
coracao a cultura do descartavel. Nao deixemos entrar no nosso coracao a
cultura do descartavel, porque nos somos irmaos, ninguem e descartavel".
Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de
essencial para si mesma.
Lembremo-nos
sempre: somente quando se e capaz de compartilhar e que se enriquece de
verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da grandeza de
uma sociedade e dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem nao
tem outra coisa senao a sua pobreza!
Queria
dizer-lhes tambem que a Igreja, ≪advogada da justica e defensora dos pobres diante
das intoleráveis desigualdades sociais e economicas, que clamam ao ceu≫ (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua
colaboracao em todas as iniciativas que signifiquem um autentico
desenvolvimento do homem todo e de todo o homem. Queridos amigos, certamente e
necessario dar o pao a quem tem fome; e um ato de justica.
Mas existe
tambem uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que so Deus pode
saciar. Nao existe verdadeira promocao do bem-comum, nem verdadeiro
desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que
sustentam uma nacao, os seus bens imateriais: a vida, que e dom de Deus, um valor
que deve ser sempre tutelado e promovido; a familia, fundamento da convivencia
e remedio contra a desagregacao social; a educacao integral, que nao se reduz a
uma simples transmissao de informacoes com o fim de gerar lucro; a saude, que
deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual,
que e essencial para o equilibrio humano e uma convivencia saudavel; a
seguranca, na convicção de que a violencia so pode ser vencida a partir da
mudanca do coracao humano.
Queria
dizer uma ultima coisa. Aqui, como em todo o Brasil, ha muitos jovens. Voces,
queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente as injusticas, mas
muitas vezes se desiludem com noticias que falam de corrupcao, com pessoas que,
em vez de buscar o bem comum, procuram o seu proprio beneficio. Tambem para
voces e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, nao percam a confianca,
nao deixem que se apague a esperanca. A realidade pode mudar, o homem pode
mudar. Procurem ser voces os primeiros a praticar o bem, a nao se acostumarem
ao mal, mas a vence-lo. A Igreja esta ao lado de voces, trazendo-lhes o bem
precioso da fe, de Jesus Cristo, que veio ≪para que todos tenham vida, e vida em abundancia≫ (Jo 10,10).
Hoje a
todos voces, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero
dizer: Voces não estao sozinhos, a Igreja esta com voces, o Papa esta com
voces. Levo a cada um no meu coracao e faco minhas as intencoes que voces
carregam no seu intimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda
nas dificuldades, o desejo de consolacao nos momentos de tristeza e sofrimento.
Tudo isso confio a intercessao de Nossa Senhora Aparecida, Mae de todos os
pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bencao. (Fonte G1)
Discurso
do Papa aos jovens Argentinos no Encontro na Catedral Metropolitana
Obrigado!
Obrigado pela presença! Obrigado por terem vindo! Obrigado àqueles que estão cá
dentro! E muito obrigado àqueles que ficaram lá fora, aos trinta mil – dizem-me
– que estão lá fora. Lhes saúdo daqui. Estão à chuva… Obrigado pelo gesto de
virem ter comigo, obrigado por terem vindo à Jornada da Juventude. Eu tinha sugerido
ao Doutor Gasbarri – que é a pessoa que gere, que organiza a viagem – que
encontrasse um lugarzinho para um encontro com vocês e, em metade de um dia,
arranjou tudo. Quero agradecer publicamente ao Doutor Gasbarri também por isso
que ele conseguiu fazer hoje.
Desejo
dizer-lhes qual é a conseqüência que eu espero da Jornada da Juventude: espero
que façam barulho. Aqui farão barulho, sem dúvida. Aqui, no Rio, farão barulho,
farão certamente. Mas eu quero que se façam ouvir também nas dioceses, quero
que saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de
tudo o que é mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que
é clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos. As
paróquias, as escolas, as instituições são feitas para sair; se não o fizerem,
tornam-se uma ONG e a Igreja não pode ser uma ONG. Que me perdoem os Bispos e
os sacerdotes, se alguns depois lhes criarem confusão. Mas este é o meu
conselho.
Obrigado
pelo que vocês puderem fazer. Olhem! Eu penso que, neste momento, a civilização
mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites porque criou um tal
culto do deus dinheiro, que estamos na presença de uma filosofia e uma prática
de exclusão dos dois pólos da vida que constituem as promessas dos povos. A
exclusão dos idosos, obviamente: alguém poderia ser levado a pensar que nisso
exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é, não se cuida dos idosos; mas
há também uma eutanásia cultural, porque não se lhes deixa falar, não se lhes
deixa agir. E a exclusão dos jovens: a percentagem que temos de jovens sem
trabalho, sem emprego, é muito alta e temos uma geração que não tem experiência
da dignidade ganha com o trabalho. Assim, esta civilização nos levou a excluir
os dois vértices que são o nosso futuro. Por isso os jovens devem irromper,
devem fazer-se valer; os jovens devem sair para lutar pelos valores, lutar por
estes valores; e os idosos devem tomar a palavra, os idosos devem tomar a
palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmitam a sabedoria dos povos!
Pensando
ao povo argentino, de coração sincero peço aos idosos: não esmoreçam na missão
de ser a reserva cultura do nosso povo; reserva que transmite a justiça, que
transmite a história, que transmite os valores, que transmite a memória do
povo. E vocês, por favor, não se ponham contra os idosos: deixem-nos falar,
ouçam-nos e sigam em frente. Mas saibam, saibam que neste momento vocês,
jovens, e os idosos estão condenados ao mesmo destino: a exclusão. Não se
deixem descartar. Claro, para isso acho que vocês devem trabalhar. A fé em
Jesus Cristo não é uma brincadeira; é uma coisa muito séria. É um escândalo que
Deus tenha vindo fazer-se um de nós. É um escândalo que Ele tenha morrido numa
cruz. É um escândalo: o escândalo da Cruz. A Cruz continua a escandalizar; mas
é o único caminho seguro: o da Cruz, o de Jesus, o da Encarnação de Jesus. Por
favor, não “espremam” a fé em Jesus Cristo. Há a espremedura de laranja, há a espremedura
de maçã, há a espremedura de banana, mas, por favor, não bebam “espremedura” de
fé. A fé é integral, não se espreme. É a fé em Jesus. É a fé no Filho de Deus
feito homem, que me amou e morreu por mim. Resumindo: primeiro, façam-se ouvir,
cuidem dos extremos da população que são os idosos e os jovens. Não se deixem
excluir e não deixem que se excluam os idosos. Segundo, não “espremam” a fé em Jesus
Cristo. Com as Bem-aventuranças… que devemos fazer, Padre? Olhe! Você leia as
Bemaventuranças, que lhe farão bem. Se, depois, você quer saber concretamente o
que deve fazer, leia o capítulo 25 de Mateus, que é o regulamento segundo o
qual vamos ser julgados. Com essas duas coisas, vocês têm o Plano de Ação: as
Bem-aventuranças e Mateus 25. Você não precisam ler mais. Isso lhes peço de
todo o coração. Está bem? Obrigado por essa unidade. Tenho pena que vocês
estejam aí enjaulados; eu lhes digo uma coisa: às vezes também eu sinto isso; e
não é uma boa coisa estar enjaulado. Isso lhes confesso de coração, mas
paciência! Eu entendo vocês. Também eu gostaria de estar mais perto de vocês, mas
entendo que, por razões de segurança, não se pode. Obrigado por terem vindo!
Obrigado por rezarem por mim! Isto lhes peço de coração. Preciso. Eu preciso de
suas orações, tenho tanta necessidade. Obrigado por isso!
Bem!
Eu quero lhes dar a Bênção e, depois, benzeremos a imagem da Virgem que vai
percorrer toda a República… e a cruz de São Francisco; viajarão em missão. Mas
não esqueçam! Façam-se ouvir; cuidem dos dois extremos da vida: os dois
extremos da história dos povos que são os idosos e os jovens; e não “espremam”
a fé. E agora façamos uma oração para benzer a imagem da Virgem e, em seguida,
dar-lhes a Bênção. Pomo-nos de pé para a Bênção, mas antes quero agradecer as
palavras que disse-me Dom Arancedo, porque, como verdadeiro mal-educado, não
lhe agradeci. Portanto, obrigado pelas suas palavras!
ORACAO
Em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Ave
Maria...
Senhor,
Tu deixaste no meio de nós tua Mãe para que nos acompanhasse.
Que
Ela cuide de nós e nos proteja o nosso caminho, o nosso coração, a nossa fé.
Que
nos faça discípulos como Ela o foi, e missionários como Ela o foi também.
Que
nos ensine a sair pelas estradas.
Que
nos ensine a sair de nós mesmos.
Benzemos
esta imagem, Senhor, que vai percorrer o país.
Que
Ela, com a sua mansidão, a sua paz, nos indique o caminho.
Senhor,
Tu és um escândalo! Tu és um escândalo: o escândalo da Cruz. Uma Cruz que é
humildade, mansidão; uma Cruz que nos fala da proximidade de Deus. Benzemos
também esta imagem da Cruz que percorrerá o país.
Muito
obrigado! Vemo-nos nestes dias. Que Deus lhes abençoe. Rezem por mim. Não se
esqueçam!
Palavra
do Papa na Missa de Acolhida - JMJ Rio de Janeiro – Copacabaca . 25/07/2013.
“Querido
jovens, boa tarde!
Vejo
em vocês a beleza do rosto jovem de Cristo e meu coração se enche de alegria!
Lembro-me da primeira Jornada Mundial da Juventude a nível internacional. Foi
celebrada em 1987 na Argentina, na minha cidade de Buenos Aires. Do Corcovado,
o Cristo Redentor nos abraça e abençoa.” Guardo vivas na memória estas palavras
do Bem-aventurado João Paulo II aos jovens: “Tenho muita esperança em vocês!
Espero, sobretudo, que renovem a fidelidade de vocês a Jesus Cristo e à sua
cruz redentora”.
Antes
de continuar, queria lembrar o trágico acidente na Guiana Francesa, no qual a
jovem Sophie Morinière perdeu a vida, e que deixou outros jovens feridos.
Convido-lhes a fazer um minuto de silêncio e dirigir ao Senhor nossa oração por
Sophie, pelos feridos e pelos familiares. Este ano, a Jornada volta, pela
segunda vez à América Latina. E vocês, jovens, responderam numerosos ao convite
do Papa Bento XVI, que lhes convocou para celebrá-la. Agradecemos-lhe de todo coração!
O meu olhar se estende por esta grande multidão: vocês são muitíssimos!
Nesta
semana, o Rio se torna o centro da Igreja, o seu coração vivo e jovem, pois
vocês responderam com generosidade e coragem ao convite que Jesus lhes fez de
permanecerem com Ele, de serem seus amigos. Vocês vêm de todos os continentes!
Normalmente vocês estão distantes não somente do ponto de vista geográfico, mas
também do ponto de vista existencial, cultural, social, humano. Mas hoje vocês
estão aqui, ou melhor, hoje estamos aqui, juntos, unidos para partilhar a fé e
a alegria do encontro com Cristo, de ser seus discípulos.
O
“trem” desta Jornada Mundial da Juventude veio de longe e atravessou toda a
Nação brasileira seguindo as etapas do projeto “Bote Fé”. Hoje chegou ao Rio de
Janeiro. Do Corcovado, o Cristo Redentor nos abraça e abençoa. Olhando para
este mar, para a praia e todos vocês, me vem ao pensamento o momento em que
Jesus chamou os primeiros discípulos a segui-lo nas margens do lago de
Tiberíades. Hoje Jesus ainda pergunta: Você quer ser meu discípulo? Você quer
ser meu amigo? Você quer ser testemunha do meu Evangelho? No coração do Ano da Fé,
estas perguntas nos convidam a renovar nosso compromisso de cristãos. Suas
famílias e comunidades locais transmitiram a vocês o grande dom da fé; Cristo
cresceu em vocês. Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no Cristo Vivo
que mora dentro de vocês; mas vim também para ser confirmado pelo entusiasmo da
fé de vocês!” Papa Francisco - Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no
Cristo Vivo que mora dentro de vocês; mas vim também para ser confirmado pelo
entusiasmo da fé de vocês! Saúdo a todos com muito carinho. A vocês, aqui
congregados dos cinco continentes e, por meio de vocês, a todos os jovens do
mundo, particularmente aqueles que não puderam vir ao Rio de Janeiro, mas estão
em ligação conosco através do rádio, televisão, internet, digo: Bem-vindos a
esta grande festa da fé! Em várias partes do mundo, neste mesmo instante,
muitos jovens estão reunidos para viver juntos este momento: sintamo-nos unidos
uns com os outros, na alegria, na amizade, na fé. E tenham certeza: o meu
coração de Pastor abraça a todos com afeto universal. O Cristo Redentor, do
alto da montanha do Corcovado, lhes acolhe na Cidade Maravilhosa.
Quero
saudar o presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, estimado cardeal
Estanislau Rylko, e todos aqueles que com ele trabalham. Agradeço a Dom Orani
João Tempesta, arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela cordialidade
com que me recebeu e pelo grande trabalho realizado para preparar esta Jornada
Mundial da Juventude, junto com as diversas dioceses desse imenso Brasil. Agradeço
a todas as autoridades nacionais, estaduais e locais, além de outros
envolvidos, para concretizar esse momento único de celebração da unidade, da fé
e da fraternidade. Obrigado aos irmãos no Episcopado, aos sacerdotes,
seminaristas, pessoas consagradas e fiéis que acompanham os jovens de diferentes
partes do nosso planeta, na sua peregrinação rumo a Jesus.
A
todos e a cada um meu abraço afetuoso no Senhor. Irmãos e amigos, bem-vindos à
vigésima oitava Jornada Mundial da Juventude, nesta cidade maravilhosa do Rio
de Janeiro”.(Fonte
G1)
Dia
26 de julho de 2013 – JMJ - Rio de Janeiro.
“Candelária,
nunca mais”, afirma o Papa Francisco diante de jovens detentos
No
encontro fechado com oito detentos, o Pontífice comentou a chacina ocorrida em
1993 Num encontro com oito jovens detentos nesta sexta-feira (26/7), no Palácio
Episcopal São Joaquim, na Glória, o Papa Francisco reagiu abertamente à
violência policial contra meninos de rua no Rio de Janeiro, em particular, à
chacina da Candelária, ao repetir várias vezes: — Violência, não! Só amor!
Candelária, nunca mais!
O
Papa se emocionou no encontro com os menores infratores (seis meninos e duas
meninas), relatou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. Eram oito —
exatamente o mesmo número dos menores mortos por policiais, na sua maioria, na
chacina da Igreja da Candelária, em julho de 1993. O Papa rezou o Pai Nosso com
eles, e dedicou as preces a todos os jovens vítimas de violência.
Como
arcebispo de Buenos Aires, Francisco visitava frequentemente detentos. E hoje,
como Papa, não os abandonou: telefona a cada duas semanas para um grupo de
prisioneiros em Buenos Aires, revelou o porta-voz do Vaticano. A reação do Papa
à chacina aconteceu quando os detentos lhe presentearam com um rosário que continha
o nome de todas as vítimas da chacina da Candelária. Na cruz, estava escrito :
“Candelária, nunca mais!”. O encontro começou às 11h e durou meia hora. Os
detentos, todos menores de idade, sentaram-se em círculo em volta do Papa. Na
sala, estavam o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, um cardeal emérito, um
padre encarregado da pastoral dos jovens detentos, um juiz da Justiça e um
laico.
—
O clima era muito sereno e normal. Havia uma menina muito jovem que tinha muito
o que falar. Foi tudo muito emocional — descreveu o Lombardi. O Papa autografou
sua própria fotografia a pedido de um dos detentos, e benzeu vários objetos. A jovem
cantou uma canção que compôs para ele, e leu uma longa carta, relatou o
porta-voz, sem revelar o conteúdo. — Um momento muito bonito foi quando eles
tiraram de um saco, um grande rosário com uma cruz que dizia « Candelária,
nunca mais. O rosário tinha o nome de cada uma das vítimas. O Papa repetiu
várias vezes: Violência, nunca mais! Só amor! Candelária, nunca mais! — relatou
o portavoz. O Papa não fez um discurso, relatou Lombardi. Mas tinha uma frase
forte para cada um dos jovens, como “Olhem para o futuro”. E pediu a todos:
“rezem por mim”. — Tive a impressão que foi um encontro muito emotivo para os
jovens e para o Papa também. Ele é muito próximo de jovens encarcerados. E acha
que a Jornada Mundial da Juventude não deve se esquecer dos jovens encarcerados
— explicou o porta-voz. (Fonte:noticias uol)
HORA DA AVE MARIA/ANGELUS - Balcão do Arcebispado, Rio de Janeiro
Sexta-feira, 26 de Julho de 2013
Carissimos
irmaos e amigos,Bom dia!
Dou
graças à divina Providência por ter guiado meus passos até aqui, na cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro. Agradeço de coração sincero a Dom Orani e
também a vocês pelo acolhimento caloroso, com que manifestam seu carinho pelo
Sucessor de Pedro. Desejaria que a minha passagem por esta cidade do Rio renovasse
em todos o amor a Cristo e à Igreja, a alegria de estar unidos a Ele e de
pertencer a Igreja e o compromisso de viver e testemunhar a fé. Uma belíssima
expressão da fé do povo é a “Hora da Ave Maria”. É uma oração simples que se
reza nos três momentos característicos da jornada que marcam o ritmo da nossa
atividade quotidiana: de manhã, ao meiodia e ao anoitecer. É, porém, uma oração
importante; convido a todos a rezá-la com a Ave Maria.
Lembra-nos de um acontecimento luminoso que transformou a história: a
Encarnação, o Filho de Deus se fez homem em Jesus de Nazaré.
Hoje
a Igreja celebra os pais da Virgem Maria, os avós de Jesus: São Joaquim e Sant’Ana.
Na casa deles, veio ao mundo Maria, trazendo consigo aquele mistério
extraordinário da Imaculada Conceição; na casa deles, cresceu, acompanhada pelo
seu amor e pela sua fé; na casa deles, aprendeu a escutar o Senhor e seguir a
sua vontade. São Joaquim e Sant’Ana fazem parte de uma longa corrente que
transmitiu a fé e o amor a Deus, no calor da família, até Maria, que acolheu em
seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a nós. Vemos aqui o
valor precioso da família como lugar privilegiado para transmitir a fé! Olhando
para o ambiente familiar, queria destacar uma coisa: hoje, na festa de São
Joaquim e Sant’Ana, no Brasil como em outros países, se celebra a festa dos
avós. Como os avós são importantes na vida da família, para comunicar o
patrimônio de humanidade e de fé que é essencial para qualquer sociedade! E
como é importante o encontro e o diálogo entre as gerações, principalmente
dentro da família. O Documento de
Aparecida nos
recorda: “Crianças e anciãos constroem o futuro dos povos; as crianças porque
levarão por adiante a história, os anciãos porque transmitem a experiência e a
sabedoria de suas vidas” (Documento de Aparecida,
447). Esta relação, este diálogo entre as gerações é um tesouro que deve ser
conservado e alimentado! Nesta Jornada Mundial da Juventude, os jovens querem
saudar os avós. Eles saúdam os seus avós com muito carinho.
Aos avós. Saudamos os avós. Eles, os jovens, saúdam os seus avós
com muito carinho e lhes agradecem pelo testemunho de sabedoria que nos oferecem
continuamente. E agora, nesta praça, nas ruas adjacentes, nas casas que
acompanham conosco este momento de oração, sintamo-nos como uma única grande
família e nos dirijamos a Maria para que guarde as nossas famílias, faça delas
lares de fé e de amor, onde se sinta a presença do seu Filho Jesus [reza do
«Ângelus»].
Papa
Francisco medita a Via Sacra em Copacabana .
“O
caminho da cruz é um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude” disse
o Papa que também recordou o gesto de João Paulo II que, no final do ano 2000,
confiou aos jovens que levassem a cruz pelo mundo inteiro no movimento de
evangelização que fazem em torno das jornadas mundiais. “Ninguém
pode tocar na cruz de Jesus sem deixar algo de si nela e sem trazer algo dela
pela sua vida”. Em seguida, o Papa pediu que todos se deixassem tocar por 3
perguntas: O que vocês deixaram na cruz nesse tempo em que elas atravessou o
país? O que ficou da cruz na vida de vocês? E qual é o sentido da cruz de Jesus
para todos? Para iniciar a brevíssima meditação sobre essas 3 perguntas,
lembrou do episódio contado pela Tradição da Igreja que mostra o apóstolo Pedro
querendo deixando Roma, quando cai em si e reconhece que precisava enfrentar a
cruz porque podia contar com Cristo.
“Com
a cruz, jesus se une às famílias que se encontra em dificuldade e que choram a
perda de seus filhos”, disse ao Papa pedindo que todos rezassem pelos jovens
que morreram no incêndio da Boate Kiss, no início deste ano, que deixou 242
mortes em Santa Maria (RS). O Papa lembrou que com a cruz, Jesus está junto de
pais e mães que choram ao ver seus filhos perdidos em paraísos falsos como as
drogas. Com a cruz, Jesus está junto a tantos jovens que se desiludem com a política,
com a Igreja e com Deus por causa da incoerências de seus ministros. E recordou
ainda que Jesus carrega as cruzes de todos sobre seus próprios ombros e dá
ânimo a todos. Para responder à segunda pergunta, sobre o que a cruz de Cristo
deixa em cada pessoa, o Papa disse que deixa a certeza do amor fiel de Deus por
todos. Cristo que entra no pecado e perdoa, entra no sofrimento e alivia. E,
lembrando a última pergunta disse que “na cruz de Cristo está todo o amor de
Deus e sua imensa misericórdia”. E que só em Cristo morto e ressuscitado se
encontra a salvação. Com Cristo, disse o Papa, o sofrimento e a morte não têm a
última palavra. Cristo transformou a cruz num símbolo de amor, de vitória e de
vida. O Papa destacou que o primeiro nome de Brasil foi “Terra de Santa Cruz” e
a cruz de Cristo não foi plantada somente na praia ha 5 séculos, mas no coração
e na história do Brasil. “Não há cruz pequena ou grande que Cristo não nos
ajuda a carregar”, afirmou. O Pontífice afirmou que a cruz convida a sair de si
mesmo e estender a mão aos outros. E finalizou perguntando aos jovens qual
seria o rosto daqueles personagens que seguiram Jesus no caminho da cruz.
Perguntou aos jovens que pensassem se queriam ser como covarde Pilatos ou
solidários como Maria e Cirineu. “Queridos jovens: levamos as nossas alegrias,
os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a cruz de Cristo.” (Fonte:G1)
Queridos
jovens,
Viemos
hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é
um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo
da Redenção, o Bem-aventurado João Paulo II quis confiar a Cruz a vocês,
jovens, dizendo-lhes: «Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela
humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação
e redenção» (Palavras aos jovens [22 de abril
de 1984]: Insegnamenti VII,1 (1984),
1105). A partir de então a Cruz percorreu todos os continentes e atravessou os
mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as
situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Queridos irmãos, ninguém
pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo
da Cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor,
queria que ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado
na Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou
seu imenso País? E o que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E,
finalmente, o que esta Cruz ensina para a nossa vida?
[En
espanhol:]
1.
Una antigua tradición de la Iglesia de Roma cuenta que el apóstol Pedro,
saliendo de la ciudad para escapar de la persecución de Nerón, vio que Jesús
caminaba en dirección contraria y enseguida le preguntó: «Señor, ¿adónde vas?».
La respuesta de Jesús fue: «Voy a Roma para ser crucificado de nuevo». En aquel
momento, Pedro comprendió que tenía que seguir al Señor con valentía, hasta el
final, pero entendió sobre todo que nunca estaba solo en el camino; con él
estaba siempre aquel Jesús que lo había amado hasta morir. Miren, Jesús con su
Cruz recorre nuestras calles y carga nuestros miedos, nuestros problemas,
nuestros sufrimientos, también los más profundos. Con la Cruz, Jesús se une al
silencio de las víctimas de la violencia, que ya no pueden gritar, sobre todo
los inocentes y los indefensos; con la Cruz, Jesús se une a las famílias que se
encuentran en dificultad, y que lloran la trágica pérdida de sus hijos, como en
el caso de los doscientos cuarenta y dos jóvenes víctimas en el incendio en la
ciudad de Santa María a principios de este año. Rezamos por ellos. Con la Cruz
Jesús se une a todas las personas que sufren hambre, en un mundo que, por otro
lado, se permite el lujo de tirar cada día toneladas de alimentos. Con la cruz,
Jesús está junto a tantas madres y padres que sufren al ver a sus hijos
víctimas de paraísos artificiales, como la droga. Con la Cruz, Jesús se une a
quien es perseguido por su religión, por sus ideas, o simplemente por el color
de su piel; en la Cruz, Jesús está junto a tantos jóvenes que han perdido su confianza
en las instituciones políticas porque ven el egoísmo y corrupción, o que han
perdido su fe en la Iglesia, e incluso en Dios, por la incoherencia de los
cristianos y de los ministros del Evangelio. Cuánto hacen sufrir a Jesús
nuestras incoherencia. En la Cruz de Cristo está el sufrimiento, el pecado del
hombre, también el nuestro, y Él acoge todo con los brazos abiertos, carga
sobre su espalda nuestras cruces y nos dice: ¡Ánimo! No la llevás vos solo. Yo
la llevo contigo y yo he vencido a la muerte y he venido a darte esperanza, a
darte vida (cf. Jn 3,16).
2.
Podemos ahora responder a la segunda pregunta: ¿Qué ha dejado la Cruz en los
que la han visto y en los que la han tocado? ¿Qué deja en cada uno de nosotros?
Miren, deja un bien que nadie más nos puede dar: la certeza del amor fiel de
Dios por nosotros. Un amor tan grande que entra en nuestro pecado y lo perdona,
entra en nuestro sufrimiento y nos da fuerza para sobrellevarlo, entra también
en la muerte para vencerla y salvarnos. En la Cruz de Cristo está todo el amor
de Dios, está su inmensa misericordia. Y es un amor del que podemos fiarnos, en
el que podemos creer. Queridos jóvenes, fiémonos de Jesús, confiemos en Él (cf.
Lumen fidei, 16). Porque Él nunca defrauda a nadie.
Sólo en Cristo muerto y resucitado encontramos la salvación y redención. Con
Él, el mal, el sufrimiento y la muerte no tienen la última palabra, porque Él
nos da esperanza y vida: ha transformado la Cruz de ser un instrumento de odio,
y de derrota, y de muerte, en um signo de amor, de victoria, de triunfo y de
vida.
El
primer nombre de Brasil fue precisamente ≪Terra de Santa Cruz≫. La Cruz de Cristo fue plantada no
sólo en la playa hace más de cinco siglos, sino también en la historia, en el
corazón y en la vida del Pueblo brasileño, y en muchos otros pueblos. A Cristo
que sufre lo sentimos cercano, uno de nosotros que comparte nuestro camino
hasta el final. No hay en nuestra vida cruz, pequeña o grande que sea, que el
Señor no comparta con nosotros.
3.
Pero la Cruz invita también a dejarnos contagiar por este amor, nos enseña así
a mirar siempre al otro com misericordia y amor, sobre todo a quien sufre, a
quien tiene necesidad de ayuda, a quien espera una palabra, un gesto. La Cruz
nos invita a salir de nosotros mismos para ir al encuentro de ellos y tenderles
la mano. Muchos rostros, lo hemos visto en el Viacrucis, muchos rostros
acompañaron a Jesús en el camino al Calvario: Pilato, el Cireneo, María, las
mujeres… Yo te pregunto hoy a vos: Vos, ¿como quien querés ser. Querés ser como
Pilato, que no tiene la valentía de ir a contracorriente, para salvar la vida
de Jesús, y se lava las manos? Decidme: Vos, sos de los que se lavan las manos,
se hacen los distraídos y miran para otro lado, o sos como el Cireneo, que
ayuda a Jesús a llevar aquel madero pesado, como María y las otras mujeres, que
no tienen miedo de acompañar a Jesús hasta el final, con amor, con ternura. Y
vos ¿como cuál de ellos querés ser? ¿Como Pilato, como el Cireneo, como María?
Jesús te está mirando ahora y te dice: ¿me querés ayudar a llevar la Cruz?
Hermano y hermana, con toda tu fuerza de joven ¿qué le contestás?
Queridos
jóvenes, llevemos nuestras alegrías, nuestros sufrimientos, nuestros fracasos a
la Cruz de Cristo; encontraremos un Corazón abierto que nos comprende, nos
perdona, nos ama y nos pide llevar este mismo amor a nuestra vida, amar a cada
hermano o hermana nuestra con ese mismo amor. ( Fonte Site Vaticano)
Dia
27 de julho de 2013 – JMJ - Rio de Janeiro.
Na
Catedral do Rio, Papa Francisco convoca bispos, padres e religiosos para ir ao encontro
das pessoas
Na
manhã deste sábado, 27 de julho, a Catedral Metropolitana de São Sebastião, no
Rio de Janeiro (RJ) recebeu os bispos brasileiros, presbíteros e diáconos, além
de religiosos e seminaristas, para a missa presidida pelo Papa Francisco. O
pontífice foi acolhido na Catedral pelo arcebispo do Rio, dom Orani João Tempesta.
Também concelebraram o presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis; o
vicepresidente da entidade, dom José Belisário da Silva, e diversos bispos
brasileiros e estrangeiros, que pregaram as catequeses durante a Jornada
Mundial da Juventude. O Santo Padre presenteou a Catedral do Rio de Janeiro com
um cálice, simbolizando a unidade da igreja em comunhão. Após a proclamação do
evangelho, um trecho da conclusão de São Marcos que relata o envio dos discípulos
de Jesus, Francisco dirigiu a sua homilia. “Vendo essa Catedral lotada, penso
na palavra do salmo da missa do dia de hoje: ‘Que as nações vos glorifiquem, ó
Senhor”, iniciou. “Somos chamados por Deus! (...) Os religiosos não podem ser
desmemoriados. Tem que ter no coração a recordação da origem de sua vocação”.
O
Papa recordou que os vocacionados são chamados a ir ao encontro dos irmãos.
“Permanecer com Cristo não significa exilar-se, mas sim ir ao encontro dos
outros. (...) Ser missionário não significa necessariamente abandonar o país,
família e os amigos. Pois Deus quer que sejamos missionários onde estamos.
Ajudemos aos jovens a perceber que ser discípulo é consequência do ser
batizado”.
Em
harmonia com a reflexão atual da Igreja no Brasil sobre a renovação paroquial,
Francisco destacou que os ministros do evangelho devem ir ao encontro dos que
estão afastados. “Não podemos ficar enclaustrados em nossa casa, em nossa
paróquia. Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela
porta fora para procurar e encontrar. Devemos sair, somos enviados! Temos que
sair pela porta para buscar e encontrar as pessoas”, disse o Papa, que destacou
também a importância da acolhida dos jovens nas comunidades. “São convidados
VIP em nossas paróquias!”. Francisco recordou ainda que os ministros da Igreja
devem combater a cultura da exclusão. “Queridos irmãos e irmãs, somos chamados
por Deus a anunciar o Evangelho e a promover com alegria a cultura do encontro.
(...) Vamos ao encontro de tantos irmãos e irmãs que estão abandonados. Não
fiquemos em casa: vamos sair de casa, e assim sejamos discípulos do Senhor!”.
Leia
a íntegra da homilia:
Vendo
esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminaristas, religiosos e
religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da Missa de
hoje: ‘Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor’ (Sl 66). Sim, estamos aqui
reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a nossa vontade de
sermos seus instrumentos, para que não somente algumas nações mas todas
glorifiquem o Senhor. Com a mesma parresia – coragem, ousadia - de Paulo e
Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo,
luz para o caminho, e se tornem construtores de um mundo mais fraterno. Neste
sentido, queria refletir com vocês sobre três aspectos da nossa vocação:
chamados por Deus; chamados para anunciar o Evangelho; chamados a promover a
cultura do encontro. Chamados por Deus. É importante reavivar em nós esta
realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades
do dia-a-dia: ‘Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi»,
diz-nos Jesus’ (Jo 15,16). Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início
de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Fomos chamados por Deus, e
chamados para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos a Ele de um modo tão
profundo que nos permite dizer com São Paulo: ‘Eu vivo, mas não eu, é Cristo
que vive em mim’ (Gal 2, 20). Este viver em Cristo configura realmente tudo
aquilo que somos e fazemos. E esta ‘vida em Cristo’ é justamente o que garante
a nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço: ‘Eu vos designei
para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça’ (Jo 15,16). Não
é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os
frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência: ‘Permanecei em mim,
e eu permanecerei em vós’ (Jo 15, 4). E nós sabemos bem o que isso significa:
Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade
à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na Eucaristia e nas
pessoas mais necessitadas. O ‘permanecer’ com Cristo não é se isolar, mas é um
permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras da
Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: ‘Devemos estar muito orgulhosas da
nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos pobres. É nas
favelas, nos ‘cantegriles’ nas Villas miseria, que nós devemos ir procurar e
servir a Cristo. Devemos ir até eles como o sacerdote se aproxima do altar,
cheio de alegria’. Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; procuremos
fixar sempre mais n’Ele o nosso coração (cf. Lc 12, 34).
Chamados
para anunciar o Evangelho”. E, fez um apelo direto: “Queridos bispos e
sacerdotes, muitos de vocês, senão todos, vieram acompanhar seus jovens à
Jornada Mundial. Eles também ouviram as palavras do mandato de Jesus: ‘Ide e
fazei discípulos entre todas as nações’ (cf. Mt 28,19). É nosso compromisso ajudá-los
a fazer arder, no seu coração, o desejo de serem discípulos missionários de
Jesus. Certamente muitos, diante desse convite, poderiam sentir-se um pouco
atemorizados, imaginando que ser missionário significa deixar necessariamente o
País, a família e os amigos. Recordo o meu sonho da juventude: partir missionário
para o longínquo Japão. Mas Deus me mostrou que o meu território de missão
estava muito mais perto: na minha pátria. Ajudemos os jovens a perceberem que
ser discípulo missionário é uma consequência de ser batizado, é parte essencial
do ser cristão, e que o primeiro lugar onde evangelizar é a própria casa, o ambiente
de estudo ou de trabalho, a família e os amigos.
Não
poupemos forças na formação da juventude!. São Paulo usa uma bela expressão,
que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos seus cristãos: ‘Meus
filhos, por vós sinto de novo as dores do parto até Cristo ser formado em vós’
(Gal 4, 19). Também nós façamos que isso se torne realidade no nosso
ministério! Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem e a alegria da fé,
a alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu Filho Jesus para
nossa salvação. Eduquemo-los para a missão, para sair, para partir. Jesus fez
assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com
os seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas
nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho! Não se trata
simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para
procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia,
daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não freqüentam a
paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor.
Em
muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão, a ‘cultura
do descartável’. Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há
tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que,
para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois “dogmas” modernos: eficiência
e pragmatismo. Queridos Bispos, sacerdotes, religiosos e também vocês,
seminaristas, que se preparam para o ministério, tenham a coragem de ir contra
a corrente. Não renunciemos a este dom de Deus: a única família dos seus
filhos. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade e a fraternidade
são os elementos que tornam a nossa civilização verdadeiramente humana. Temos
de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro. Permitam-me dizer:
deveríamos ser quase obsessivos neste aspecto! Não queremos ser presunçosos,
impondo as ‘nossas verdades’. O que nos guia é a certeza humilde e feliz de
quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não
pode deixar de anunciá-la (cf. Lc 24, 13-35).
Queridos
irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o Evangelho e
promover corajosamente a cultura do encontro. A Virgem Maria seja o nosso
modelo. Na sua vida, Ela deu ‘exemplo daquele afeto maternal de que devem estar
animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja, tem de
regenerar os homens’. Seja Ela a Estrela que guia com segurança nossos passos
ao encontro do Senhor. Amém.(Fonte G1)
Palavras
do Papa no Theatro Municipal do Rio de Janeiro aos representantes da Sociedade
Civil . 27/07/2013.
Excelencias,
Senhoras e Senhores!
Agradeco a
Deus pela possibilidade de me encontrar com tao respeitavel representacao dos responsáveis
politicos e diplomaticos, culturais e religiosos, academicos e empresariais
deste Brasil imenso. Saudo cordialmente a todos e lhes expresso o meu
reconhecimento. Queria lhes falar usando a bela língua portuguesa de voces mas,
para poder me expressar melhor manifestando o que trago no coracao, prefiro falar
em castelhano. Peco-vos a cortesia de me perdoar! Agradeco as amaveis palavras
de boas vindas e de apresentacao de Dom Orani e do jovem Walmyr Junior. Nas
senhoras e nos senhores, vejo a memoria e a esperanca: a memoria do caminho e
da consciencia da sua Patria e a esperanca que esta, sempre aberta a luz que
irradia do Evangelho de Jesus Cristo, possa continuar a desenvolver-se no pleno
respeito dos principios eticos fundados na dignidade transcendente da pessoa. Todos
aqueles que possuem um papel de responsabilidade, em uma Nacao, sao chamados a
enfrentar o futuro "com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade",
como dizia o pensador brasileiro Alceu Amoroso Lima [“Nosso tempo”, in: A vida sobrenatural e o mundo moderno (Rio de
Janeiro 1956), 106].
Queria considerar
tres aspectos deste olhar calmo, sereno e sabio: primeiro, a originalidade de
uma tradicao cultural; segundo, a responsabilidade solidaria para construir o
futuro; e terceiro, o dialogo construtivo para encarar o presente.
1. E
importante, antes de tudo, valorizar a originalidade dinamica que caracteriza a
cultura brasileira, com a sua extraordinaria capacidade para integrar elementos
diversos. O sentir comum de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criatividade,
os principios fundamentais da sua vida, os criterios de juizo sobre as prioridades,
sobre as normas de acao, assentam numa visao integral da pessoa humana. Esta
visao do homem e da vida, tal como a fez propria o povo brasileiro, muito
recebeu da seiva do Evangelho atraves da Igreja Catolica: primeiramente a fe em
Jesus Cristo, no amor de Deus e a fraternidade com o proximo. Mas a riqueza
desta seiva deve ser plenamente valorizada! Ela pode fecundar um processo
cultural fiel a identidade brasileira e construtor de um futuro melhor para
todos. Assim se expressou o amado Papa Bento XVI, no discurso de abertura da V Conferencia
Geral do Episcopado Latino-Americano, em Aparecida. Fazer que a humanizacao
integral e a cultura do encontro e do relacionamento crescam e o modo cristao
de promover o bem comum, a felicidade de viver. E aqui convergem a fe e a
razao, a dimensao religiosa com os diversos aspectos da cultura humana: arte,
ciencia, trabalho, literatura... O cristianismo une transcendencia e encarnacao;
sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a desilusao e o desencanto que
invadem os coracoes e saltam para a rua.
2. O
segundo elemento que queria tocar e a responsabilidade social. Esta exige um
certo tipo de paradigma cultural e, consequentemente, de politica. Somos
responsaveis pela formacao de novas geracoes, capacitadas na economia e na
politica, e firmes nos valores eticos. O futuro exige de nos uma visão humanista
da economia e uma politica que realize cada vez mais e melhor a participacao das
pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que ninguem fique privado
do necessario, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e
solidariedade: esta e a via a seguir. Ja no tempo do profeta Amos era muito
forte a advertencia de Deus: ≪Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por
um par de sandalias; esmagam a cabeca dos fracos no po da terra e tornam a vida
dos oprimidos impossivel≫ (Am 2, 6- 7). Os gritos por justica continuam
ainda hoje. Quem detem uma funcao de guia deve ter objetivos muito concretos, e
buscar os meios especificos para consegui-los. Pode haver, porem, o perigo da
desilusao, da amargura, da indiferenca, quando as aspirações nao se cumprem. A
virtude dinamica da esperanca incentiva a ir sempre mais longe, a empregar
todas as energias e capacidades a favor das pessoas para quem se trabalha,
aceitando os resultados e criando condicoes para descobrir novos caminhos,
dando-se mesmo sem ver resultados, mas mantendo viva a esperanca. A lideranca
sabe escolher a mais justa entre as opcoes, apos te-las considerado, partindo
da propria responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta e a forma para
chegar ao centro dos males de uma sociedade e vencelos com a ousadia de acoes
corajosas e livres. No exercicio da nossa responsabilidade, sempre limitada, e
importante abarcar o todo da realidade, observando, medindo, avaliando, para
tomar decisoes na hora presente, mas estendendo o olhar para o futuro,
refletindo sobre as consequencias de tais decisoes. Quem atua responsavelmente,
submete a propria acao aos direitos dos outros e ao juizo de Deus. Este sentido
etico aparece, nos nossos dias, como um desafio historico sem precedentes. Alem
da racionalidade cientifica e tecnica, na atual situacao, impoe-se o vinculo
moral com uma responsabilidade social e profundamente solidaria.
3. Para
completar o “olhar” que me propus, alem do humanismo integral, que
respeite a cultura original, e da responsabilidade solidaria, termino indicando
o que tenho como fundamental para enfrentar o presente: o dialogo construtivo.
Entre a indiferenca egoista e o protesto violento, ha uma opcao sempre
possivel: o dialogo. O dialogo entre as geracoes, o dialogo com o povo, a
capacidade de dar e receber, permanecendo abertos a verdade. Um pais cresce, quando
dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: cultura
popular, cultura universitaria, cultura juvenil, cultura artistica e
tecnologica, cultura economica e cultura familiar e cultura da midia. E
impossivel imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuicao
das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura
logica da representacao dos interesses constituidos. Sera fundamental a
contribuicao das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo
de fermento da vida social e de animacao da democracia. Favoravel a pacifica
convivencia entre religioes diversas e a laicidade do Estado que, sem assumir
como propria qualquer posicao confessional, respeita e valoriza a presenca do
fator religioso na sociedade, favorecendo as suas expressoes concretas. Quando
os lideres dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta e
sempre a mesma: dialogo, dialogo, dialogo. A unica maneira para uma pessoa, uma
familia, uma sociedade crescer, a unica maneira para fazer avancar a vida dos
povos e a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos tem algo de bom
para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo
para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e
disponivel, sem preconceitos. So assim pode crescer o bom entendimento entre as
culturas e as religioes, a estima de umas pelas outras livre de suposições gratuitas
e no respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se aposta na cultura do
encontro, ou todos perdem; percorrer a estrada justa torna o caminho fecundo e
seguro.
Excelencias,
Senhoras e Senhores!
Agradeco-lhes
pela atencao. Acolham estas palavras como expressao da minha solicitude de
Pastor da Igreja e do amor que nutro pelo povo brasileiro. A fraternidade entre
os homens e a colaboracao para construir uma sociedade mais justa nao
constituem uma utopia, mas sao o resultado de um esforco harmonico de todos em favor
do bem comum. Encorajo os senhores no seu empenho em favor do bem comum, que
exige da parte de todos sabedoria, prudencia e generosidade. Confio-lhes ao Pai
do Ceu, pedindo-lhe, por intercessao de Nossa Senhora Aparecida, que cumule de
seus dons a cada um dos presentes, suas respectivas familias e comunidades
humanas de trabalho e, de coracao, a todos concedo a minha Bencao.(Fonte G1)
Papa
Francisco encontrou Presidência da CNBB, Cardeais e Bispos brasileiros
Discurso na
integra do Papa Francisco no Palacio Sao Joaquim, na Gloria, onde ele almocou
com cardeais e membros da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Queridos
Irmãos!
Como
é bom e agradável encontrar-me aqui com vocês, Bispos do Brasil! Obrigado por
terem vindo, e permitam que lhes fale como amigos, pelo que prefiro usar o
castelhano, para poder expressar melhor aquilo que levo no coração. Peço-lhes
que me perdoem! Retiramo-nos um pouco, neste lugar preparado por nosso irmão
Dom Orani, para estar sozinhos e poder falar de coração a coração como Pastores
a quem Deus confiou o seu Rebanho. Nas ruas do Rio, jovens de todo o mundo e
muitas outras multidões estão esperando por nós, necessitados de serem envolvidos
pelo olhar misericordioso de Cristo Bom Pastor, que nós somos chamados a tornar
presente. Por isso, gozemos deste momento de descanso, de partilha, de
verdadeira fraternidade. Começando pela Presidência da Conferência Episcopal e
do Arcebispo do Rio de Janeiro, quero abraçar a todos e cada um, especialmente
aos Bispos eméritos. Mais do que um discurso formal, quero compartilhar algumas
reflexões com vocês.A primeira veio à minha mente, quando visitei o Santuário
de Aparecida. Lá, ao pé da imagem da Imaculada Conceição, eu rezei por vocês,
por suas Igrejas, por seus presbíteros, religiosos e religiosas, por seus
seminaristas, pelos leigos e as suas famílias, em particular pelos jovens e os
idosos, já que ambos constituem a esperança de um povo: os jovens, porque eles
carregam a força, o sonho, a esperança do futuro, e os idosos, porque eles são
a memória, a sabedoria de um povo.
1.
Aparecida: chave de leitura para a missão da Igreja
Em
Aparecida, Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe. Mas, em Aparecida, Deus
deu também uma lição sobre Si mesmo, sobre o seu modo de ser e agir. Uma lição
sobre a humildade que pertence a Deus como um traço essencial: ela está no DNA
de Deus. Há algo de perene para aprender sobre Deus e sobre a Igreja, em
Aparecida; um ensinamento, que nem a Igreja no Brasil nem o próprio Brasil
devem esquecer. No início do evento que é Aparecida, está a busca dos pescadores
pobres. Tanta fome e poucos recursos. As pessoas sempre precisam de pão. Os
homens partem sempre das suas carências, mesmo hoje. Possuem um barco frágil,
inadequado; têm redes decadentes, talvez mesmo danificadas, insuficientes.
Primeiro,
há a labuta, talvez o cansaço, pela pesca, mas o resultado é escasso: um
falimento, um insucesso. Apesar dos esforços, as redes estão vazias. Depois,
quando foi da vontade de Deus, comparece Ele mesmo no seu Mistério. As águas
são profundas e, todavia, encerram sempre a possibilidade de Deus; e Ele chegou
de surpresa, quando talvez já não fosse esperado. A paciência dos que esperam
por Ele é sempre posta à prova. E Deus chegou de uma maneira nova, porque
sempre pode Se reinventar: uma imagem de barro frágil, escurecida pelas águas
do rio, envelhecida também pelo tempo. Deus entra sempre nas vestes da
pequenez. Veem então a imagem da Imaculada Conceição. Primeiro o corpo, depois
a cabeça, em seguida a unificação de corpo e cabeça: a unidade. Aquilo que
estava quebrado retoma a unidade. O Brasil colonial estava dividido pelo muro
vergonhoso da escravatura. Nossa Senhora Aparecida se apresenta com a face
negra, primeiro dividida mas depois unida, nas mãos dos pescadores. Há um
ensinamento perene que Deus quer oferecer. Sua beleza refletida na Mãe,
concebida sem pecado original, emerge da obscuridade do rio. Em Aparecida, logo
desde o início, Deus dá uma mensagem de recomposição do que está fraturado, de
compactação do que está dividido. Muros,
abismos,
distâncias ainda hoje existentes estão destinados a desaparecer. A Igreja não
pode descurar esta lição: ser instrumento de reconciliação.
Os
pescadores não desprezam o mistério encontrado no rio, embora seja um mistério
que aparece incompleto. Não jogam fora os pedaços do mistério. Esperam a
plenitude. E esta não demora a chegar. Há aqui algo de sabedoria que devemos
aprender. Há pedaços de um mistério, como ladrilhos de um mosaico, que
encontramos e vemos. Nós queremos ver muito rápido a totalidade e Deus, pelo
contrário, Se faz ver pouco a pouco. Também a Igreja deve aprender esta
expectativa. Depois, os pescadores trazem para casa o mistério. O povo simples
tem sempre espaço para albergar o mistério. Talvez nós tenhamos reduzido a
nossa exposição do mistério a uma explicação racional; no povo, pelo contrário,
o mistério entra pelo coração. Na casa dos pobres, Deus encontra sempre lugar.
Os
pescadores agasalham: revestem o mistério da Virgem pescada, como se Ela
tivesse frio e precisasse ser aquecida. Deus pede para ficar abrigado na parte
mais quente de nós mesmos: o coração. Depois é Deus que irradia o calor de que
precisamos, mas primeiro entra com o subterfúgio de quem mendiga. Os pescadores
cobrem o mistério da Virgem com o manto pobre da sua fé. Chamam os vizinhos
para verem a beleza encontrada; eles se reúnem à volta dela; contam as suas
penas em sua presença e lhe confiam as suas causas. Permitem assim que possam
implementar-se as intenções de Deus: uma graça, depois a outra; uma graça que
abre para outra; uma graça que prepara outra. Gradualmente Deus vai desdobrando
a humildade misteriosa de sua força. Há muito para aprender nessa atitude dos
pescadores. Uma Igreja que dá espaço ao mistério de Deus; uma Igreja que
alberga de tal modo em si mesma esse mistério, que ele possa encantar as
pessoas, atraí-las. Somente a beleza de Deus pode atrair. O caminho de Deus é o
encanto, a fascinação. Deus faz-se levar para casa. Ele desperta no homem o
desejo de guardá-lo em sua própria vida, na própria casa, em seu coração. Ele
desperta em nós o desejo de chamar os vizinhos, para dar-lhes a conhecer a sua
beleza. A missão nasce precisamente dessa fascinação divina, dessa maravilha do
encontro.
Falamos
de missão, de Igreja missionária. Penso nos pescadores que chamam seus vizinhos
para verem o mistério da Virgem. Sem a simplicidade do seu comportamento, a
nossa missão está fadada ao fracasso. A Igreja tem sempre a necessidade urgente
de não desaprender a lição de Aparecida; não a pode esquecer. As redes da Igreja
são frágeis, talvez remendadas; a barca da Igreja não tem a força dos grandes
transatlânticos que cruzam os oceanos. E, contudo, Deus quer se manifestar
justamente através dos nossos meios, meios pobres, porque é sempre Ele que está
agindo.
Queridos
irmãos, o resultado do trabalho pastoral não assenta na riqueza dos recursos,
mas na criatividade do amor. Servem certamente a tenacidade, a fadiga, o
trabalho, o planejamento, a organização, mas, antes de tudo, você deve saber
que a força da Igreja não reside nela própria, mas se esconde nas águas
profundas de Deus, nas quais ela é chamada a lançar as redes. Outra lição que a
Igreja deve sempre lembrar é que não pode afastar-se da simplicidade; caso
contrário, desaprende a linguagem do Mistério. E não só ela fica fora da porta
do Mistério, mas não consegue sequer entrar naqueles que pretendem da Igreja
aquilo que não podem dar-se por si mesmos: o próprio Deus. Às vezes, perdemos
aqueles que não nos entendem, porque desaprendemos a simplicidade, inclusive
importando de fora uma racionalidade alheia ao nosso povo.
Sem
a gramática da simplicidade, a Igreja se priva das condições que tornam
possível «pescar» Deus nas águas profundas do seu Mistério. Uma última
lembrança: Aparecida surgiu em um lugar de cruzamento. A estrada que ligava
Rio, a capital, com São Paulo, a província empreendedora que estava nascendo, e
Minas Gerais, as minas muito cobiçadas pelas cortes europeias: uma
"encruzilhada" do Brasil colonial. Deus aparece nos cruzamentos. A Igreja
no Brasil não pode esquecer esta vocação inscrita em si mesma desde a sua
primeira respiração: ser capaz de sístole e diástole, de recolher e divulgar.
2.
Apreço pelo percurso da Igreja no Brasil
Os
Bispos de Roma tiveram sempre o Brasil e sua Igreja em seu coração. Um
maravilhoso percurso foi realizado. Passou-se das 12 dioceses durante o
Concílio Vaticano I para as atuais 275 circunscrições. Não teve início a expansão
de um aparato governamental ou de uma empresa, mas sim o dinamismo dos «cinco
pães e dois peixes» – de que fala o Evangelho – que, entrando em contato com a
bondade do Pai, em mãos calejadas, tornaram-se fecundos.
Hoje,
queria agradecer o trabalho sem parcimônia de vocês, Pastores, em suas Igrejas.
Penso nos Bispos nas florestas, subindo e descendo os rios, nas regiões
semiáridas, no Pantanal, na pampa, nas selvas urbanas das megalópoles. Amem
sempre, com total dedicação, o seu rebanho! Mas penso também em tantos nomes e
tantas faces, que deixaram marcas indeléveis no caminho da Igreja no Brasil,
fazendo palpar com a mão a grande bondade de Deus por esta Igreja.
Os
Bispos de Roma nunca lhes deixaram sós; seguiram de perto, encorajaram,
acompanharam. Nas últimas décadas, o Beato João XXIII convidou com insistência
os Bispos brasileiros a prepararem o seu primeiro plano pastoral e, daquele
início, cresceu uma verdadeira tradição pastoral no Brasil, que fez com que a
Igreja não fosse um transatlântico à deriva, mas tivesse sempre uma bússola. O
Servo de Deus Paulo VI, para além de encorajar a recepção do Concílio Vaticano
II, com fidelidade mas também com traços originais (veja-se a Assembleia Geral
do CELAM, em Medellín), influiu decisivamente sobre a autoconsciência da Igreja
no Brasil através do Sínodo sobre a evangelização e daquele texto que continua
referência fundamental: a Exortação apostólica Evangelii nuntiandi. O Beato
João Paulo II visitou o Brasil três vezes, percorrendo-o de cabo a rabo, de
norte a sul, insistindo sobre a missão pastoral da Igreja, a comunhão e
participação, a preparação do Grande Jubileu, a nova evangelização. Bento XVI
escolheu Aparecida para realizar a V Assembleia Geral do CELAM e isso deixou
uma grande marca na Igreja de todo o Continente.
A
Igreja no Brasil recebeu e aplicou com originalidade o Concílio Vaticano II e o
percurso realizado, embora tenha tido de superar determinadas doenças infantis,
levou a uma Igreja gradualmente mais madura, aberta, generosa, missionária.
Hoje estamos em um novo momento. Segundo a feliz expressão do Documento de
Aparecida, não é uma época de mudança, mas uma mudança de época. Sendo assim,
hoje é cada vez mais urgente nos perguntarmos: O que Deus pede a nós? A esta
pergunta, queria tentar oferecer qualquer linha de resposta.
3.
O ícone de Emaús como chave de leitura do presente e do futuro Antes de mais
nada, não devemos ceder ao medo, de que falava o Beato John Henry Newman: «O
mundo cristão está gradualmente se tornando estéril, e esgota-se como uma terra
profundamente explorada que se torna areia». Não devemos ceder ao desencanto,
ao desânimo, às lamentações. Nós trabalhamos duro e, às vezes, nos parece acabar
derrotados, como quem tivesse de fazer o balanço de uma estação já perdida,
olhando para aqueles que nos deixam ou já não nos consideram credíveis,
relevantes. Vamos ler a esta luz, mais uma vez, o episódio de Emaús (cf. Lc 24,
13-15). Os dois discípulos escapam de Jerusalém. Eles se afastam da «nudez» de
Deus. Estão escandalizados com o falimento do Messias, em quem
haviam
esperado e que agora aparece irremediavelmente derrotado, humilhado, mesmo após
o terceiro dia (cf. vv. 17-21). O mistério difícil das pessoas que abandonam a
Igreja; de pessoas que, após deixar-se iludir por outras propostas, consideram
que a Igreja – a sua Jerusalém – nada mais possa lhes oferecer de significativo
e importante. E assim seguem pelo caminho sozinhos, com a sua desilusão. Talvez
a Igreja lhes apareça demasiado frágil, talvez demasiado longe das suas
necessidades, talvez demasiado pobre para dar resposta às suas inquietações,
talvez demasiado fria para com elas, talvez demasiado autoreferencial, talvez
prisioneira da própria linguagem rígida, talvez lhes pareça que o mundo fez da
Igreja uma relíquia do passado, insuficiente para as novas questões; talvez a
Igreja tenha respostas para a infância do homem, mas não para a sua idade
adulta. O fato é que hoje há muitos que são como os dois discípulos de Emaús; e
não apenas aqueles que buscam respostas nos novos e difusos grupos religiosos,
mas também aqueles que parecem já viver sem Deus tanto em teoria como na
prática.
Perante
esta situação, o que fazer?
Serve
uma Igreja que, na sua noite, não tenha medo de sair. Serve uma Igreja capaz de
interceptar o caminho deles. Serve uma Igreja capaz de inserir-se na sua
conversa. Serve uma Igreja que saiba dialogar com aqueles discípulos, que,
fugindo de Jerusalém, vagam sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto,
com a desilusão de um cristianismo considerado hoje um terreno estéril,
infecundo, incapaz de gerar sentido. A globalização implacável, a urbanização
frequentemente selvagem prometeram muito. Muitos se enamoraram das potencialidades
da globalização e, nela, existe algo de verdadeiramente positivo. Mas, a
muitos, escapa o lado
obscuro:
o extravio do sentido da vida, a desintegração pessoal, a perda da experiência
de pertencer a um «ninho» seja ele qual for, a violência sutil mas implacável,
a ruptura interior e a fratura nas famílias, a solidão e o abandono, as
divisões e a incapacidade de amar, de perdoar, de compreender, o veneno
interior que torna a vida um inferno, a necessidade da ternura porque nos
sentimos tão inadaptados e infelizes, as tentativas frustradas de encontrar
respostas na drogas, no álcool, no sexo que se tornam novas prisões.
E
muitos buscaram atalhos, porque se apresenta demasiado alta a «medida» da
Grande Igreja. Muitos pensaram: a ideia de homem é grande demais para mim, o
ideal de vida que propõe está fora das minhas possibilidades, a meta a alcançar
é inatingível, longe do meu alcance. Todavia – continuaram eles – eu não posso
viver sem ter pelo menos alguma coisa, nem que seja uma caricatura, daquilo que
é demasiado elevado para mim, daquilo que não posso me permitir. Com a
desilusão no coração, eles foram à procura de alguém que lhes iludirá uma vez
mais. A grande sensação de abandono e solidão, de não pertencerem sequer a si
mesmos que muitas vezes surge dessa situação, é dolorosa demais para ser
silenciada. Há necessidade de desabafar, restando-lhes então a via da lamentação:
Como é que chegamos a esse ponto? Mas a própria lamentação torna-se, por sua
vez, como um bumerangue que regressa e acaba aumentando a infelicidade. Ainda
poucas pessoas são capazes de ouvir a dor: é preciso pelo menos anestesiá-lo.
Hoje, serve uma Igreja capaz de fazer companhia, de ir para além da simples escuta;
uma Igreja, que acompanha o caminho pondo-se em viagem com as pessoas; uma
Igreja capaz de decifrar a noite contida na fuga de tantos irmãos e irmãs de
Jerusalém; uma Igreja que se dê conta de como as razões, pelas quais há quem se
afaste, contém já em si mesmas também as razões para um possível retorno, mas é
necessário saber a totalidade com coragem. Eu gostaria que hoje nos
perguntássemos todos: Somos ainda uma Igreja capaz de aquecer o coração? Uma Igreja
capaz de reconduzir a Jerusalém? Capaz de acompanhar de novo a casa? Em
Jerusalém, residem as nossas fontes: Escritura, Catequese, Sacramentos,
Comunidade, amizade do Senhor, Maria e os Apóstolos... Somos ainda capazes de
contar de tal modo essas fontes, que despertem o encanto pela sua beleza? Muitos
se foram, porque lhes foi prometido algo de mais alto, algo de mais forte, algo
de mais rápido. Mas haverá algo de mais alto que o amor revelado em Jerusalém?
Nada é mais alto do que o abaixamento da Cruz, porque lá se atinge
verdadeiramente a altura do amor! Somos ainda capazes de mostrar esta verdade
para aqueles que pensam que a verdadeira altura da vida esteja em outro lugar?
Porventura se conhece algo de mais forte que a força escondida na fragilidade
do amor, do bem, da verdade, da beleza? A busca do que é cada vez mais rápido
atrai o homem de hoje: internet rápida, carros velozes, aviões rápidos, relatórios
rápidos... E, todavia, se sente uma necessidade desesperada de calma, quero
dizer de lentidão. A Igreja sabe ainda ser lenta: no tempo para ouvir, na
paciência para costurar novamente e reconstruir? Ou a própria Igreja já se
deixa arrastar pelo frenesi da eficiência? Recuperemos, queridos Irmãos, a
calma de saber sintonizar o passo com as possibilidades dos peregrinos, com os
seus ritmos de caminhada, recuperemos a capacidade de estar lhes sempre perto
para permitir a eles abrirem uma brecha no desencanto que existe nos corações,
para que possam entrar. Eles querem esquecer Jerusalém onde residem as suas
fontes, mas assim acabarão por sentir sede. Serve uma Igreja ainda capaz de acompanhar
o regresso a Jerusalém! Uma Igreja, que seja capaz de fazer descobrir as coisas
gloriosas e estupendas que se dizem de Jerusalém, de fazer entender que ela é
minha Mãe, nossa Mãe, e não somos órfãos! Nela nascemos. Onde está a nossa
Jerusalém em que nascemos? No Batismo, no primeiro encontro de amor, na
chamada, na vocação! Serve uma Igreja capaz ainda de devolver a cidadania a muitos
de seus filhos que caminham como em um êxodo.
4.
Os desafios da Igreja no Brasil
À
luz do que eu disse, quero sublinhar alguns desafios da amada Igreja que está
no Brasil. A prioridade da formação: Bispos, sacerdotes, religiosos, leigos
Queridos irmãos, senão formarmos ministros capazes de aquecer o coração das
pessoas, de caminhar na noite com elas, de dialogarem com as suas ilusões e desilusões,
de recompor as suas desintegrações, o que poderemos esperar para o caminho
presente e futuro? Não é verdade que Deus se tenha obscurecido nelas.
Aprendamos a olhar mais profundamente: falta quem lhes aqueça o coração, como
sucedeu com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,32). Por isso, é importante
promover e cuidar uma formação qualificada que crie pessoas capazes de descer
na noite sem ser invadidas pela escuridão e perder-se; capazes de ouvir a
ilusão de muitos, sem se deixar seduzir; capazes de acolher as desilusões, sem desesperar-se
nem precipitar na amargura; capazes de tocar a desintegração alheia, sem se
deixar dissolver e decompor na sua própria identidade. Serve uma solidez
humana, cultural, afetiva, espiritual, doutrinal.
Queridos
Irmãos no Episcopado, é preciso ter a coragem de uma revisão profunda das
estruturas de formação e preparação do clero e do laicato da Igreja que está no
Brasil. Não é suficiente uma vaga prioridade da formação, nem documentos ou
encontros. Serve a sabedoria prática de levantar estruturas duradouras de
preparação em âmbito local, regional, nacional e que sejam o verdadeiro coração
para o Episcopado, sem poupar forças, solicitude e assistência. A situação
atual exige uma formação qualificada em todos os níveis. Vocês, Bispos, não podem
delegar este dever, mas assumi-lo como algo de fundamental para o caminho das
suas Igrejas.
Colegialidade
e solidariedade da Conferência Episcopal Para a Igreja no Brasil, não basta um
líder nacional; serve uma rede de «testemunhos» regionais, que, falando a mesma
linguagem, assegurem em todos os lugares, não a unanimidade, mas a verdadeira
unidade na riqueza da diversidade. A comunhão é uma teia que deve ser tecida
com paciência e perseverança, que vai gradualmente «aproximando os pontos» para
permitir uma cobertura cada vez mais ampla e densa. Um cobertor só com poucos fios
de lã não aquece. É importante lembrar Aparecida, o método de congregar a
diversidade; não tanto a diversidade de ideias para produzir um documento, mas
a variedade de experiências de Deus para pôr em movimento uma dinâmica vital.
Os discípulos de Emaús voltaram para Jerusalém, contando a experiência que tinham
feito no encontro com o Cristo Ressuscitado. E lá tomaram conhecimento das
outras manifestações do Senhor e das experiências dos seus irmãos.
A
Conferência Episcopal é justamente o espaço vital para permitir tal permuta de
testemunhos sobre os encontros com o Ressuscitado, no norte, no sul, no
oeste... Serve, pois, uma progressiva valorização do elemento local e regional.
Não é suficiente a burocracia central, mas é preciso fazer crescer a
colegialidade e a solidariedade; será uma verdadeira riqueza para todos. Estado
permanente de missão e conversão pastoral Aparecida falou de estado permanente
de missão e da necessidade de uma conversão pastoral. São dois resultados
importantes daquela Assembleia para a Igreja inteira da região, e o caminho
realizado no Brasil a propósito destes dois pontos é significativo. Quanto à
missão, há que lembrar que a urgência deriva de sua motivação interna, isto é,
trata-se de transmitir uma herança, e, quanto ao método, é decisivo lembrar que
uma herança sucede como na passagem do testemunho, do bastão, na corrida de
estafeta: não se joga ao ar e quem consegue apanhá-lo tem sorte, e quem não
consegue fica sem nada. Para transmitir a herança é preciso entregá-la
pessoalmente, tocar a pessoa para quem você quer doar, transmitir essa herança.
Quanto
à conversão pastoral, quero lembrar que «pastoral» nada mais é que o exercício
da maternidade da Igreja. Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta,
conduz pela mão... Por isso, serve uma Igreja capaz de redescobrir as entranhas
maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, poucas possibilidade temos hoje
de inserir-nos em um mundo de «feridos», que têm necessidade de compreensão, de
perdão, de amor. Na missão, mesmo continental,10 é muito importante reforçar a
família, que permanece célula essencial para a sociedade e para a Igreja; os
jovens, que são o rosto futuro da Igreja; as mulheres, que têm um papel
fundamental na
transmissão
da fé. Não reduzamos o empenho das mulheres na Igreja, antes pelo contrário
promovamos o seu papel ativo na comunidade eclesial. Perdendo as mulheres, a
Igreja corre o risco da esterilidade.
A
função da Igreja na sociedade - No
âmbito da sociedade, há somente uma coisa que a Igreja pede com particular
clareza: a liberdade de anunciar o
Evangelho de modo integral, mesmo quando ele está em contraste com o mundo,
mesmo quando vai contra a corrente, defendendo o tesouro de que é somente
guardiã, e os valores dos quais não pode livremente dispor, mas que recebeu e
deve ser-lhes fiel. A Igreja pede o direito de poder servir o homem na sua
totalidade, dizendo-lhe o que Deus revelou sobre o homem e sua realização. A
Igreja deseja tornar presente aquele patrimônio imaterial, sem o qual a
sociedade se desintegra, as cidades seriam arrasadas por seus próprios muros,
abismos, barreiras. A Igreja tem o direito e o dever de manter acesa a chama da
liberdade e da unidade do homem. Educação, saúde, paz social são as urgências
no Brasil. A Igreja tem uma palavra a dizer sobre estes temas, porque, para
responder adequadamente a esses desafios, não são suficientes soluções
meramente técnicas, mas é preciso ter uma visão subjacente do homem, da sua
liberdade, do seu valor, da sua abertura ao transcendente. E vocês, queridos
Irmãos, não tenham medo de oferecer esta contribuição da Igreja que é para bem
da sociedade inteira. A Amazônia como teste decisivo, banco de prova para a
Igreja e a sociedade brasileiras Há um último ponto sobre o qual gostava de
deter-me e que considero relevante para o caminho atual e futuro não só da
Igreja no Brasil, mas também de toda a estrutura social: a Amazônia. A Igreja
está na Amazônia não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de
terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente
na Amazônia com missionários, congregações religiosas, e lá continua ainda
presente e determinante no futuro daquela área. Penso no acolhimento que a
Igreja na Amazônia oferece ainda hoje aos imigrantes haitianos depois do
terrível terremoto que devastou o seu país.
Queria
convidar todos a refletirem sobre o que Aparecida disse a propósito da
Amazônia,11 incluindo o forte apelo ao respeito e à salvaguarda de toda a
criação que Deus confiou ao homem, não para que a explorasse rudemente, mas
para que tornasse ela um jardim. No desafio pastoral que representa a Amazônia,
não posso deixar de agradecer o que a Igreja no Brasil está fazendo: a Comissão
Episcopal para a Amazônia, criada em 1997, já deu muitos frutos e tantas
dioceses responderam pronta e generosamente ao pedido de solidariedade,
enviando missionários, leigos e sacerdotes. Agradeço a Dom Jaime Chemelo, pioneiro
deste trabalho, e ao Cardeal Hummes, atual presidente da Comissão. Mas eu
gostaria de acrescentar que deveria ser mais incentivada e relançada a obra da
Igreja. Servem formadores qualificados, especialmente professores de teologia,
para consolidar os resultados alcançados no campo da formação de um clero
autóctone, inclusive para se ter sacerdotes adaptados às condições locais e
consolidar por assim dizer o «rosto amazônico» da Igreja.
Queridos
Irmãos, procurei oferecer-lhes fraternalmente reflexões e linhas de ação em uma
Igreja como a que está no Brasil, que é um grande mosaico de ladrilhos, de
imagens, de formas, de problemas, de desafios, mas que por isso mesmo é uma
enorme riqueza. A Igreja não é jamais uniformidade, mas diversidades que se harmonizam
na unidade, e isso é válido em toda a realidade eclesial.
Que
a Virgem Imaculada Aparecida seja a estrela que ilumina o compromisso e o
caminho de vocês levarem Cristo, como Ela fez, a cada homem e cada mulher de
seu imenso país. Será Ele, como fez com os dois discípulos extraviados e
desiludidos de Emaús, a aquecer o coração e a dar nova e segura esperança.
(Fonte G1)
Palavras
do Papa na Vigília com os jovens. 27/07/2013.
“Queridos jovens,
Acabamos
recordar a historia de Sao Francisco de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta
a voz de Jesus que lhe diz: 'Francisco, vai e repara a minha casa'. E o jovem
Francisco responde, com prontidao e generosidade, a esta chamada do Senhor:
'Repara a minha casa. Mas qual casa?' Aos poucos, ele percebe que nao se tratava
fazer de pedreiro para reparar um edificio feito de pedras, mas de dar a sua
contribuicao para a vida da Igreja; tratava-se de colocar-se ao servico da
Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a Face
de Cristo.
Tambem hoje
o Senhor continua precisando de voces, jovens, para a sua Igreja. Queridos
jovens, o senhor precisa de voces. Tambem hoje ele chama a cada um de voces
para segui-lo na sua Igreja, para serem missionarios. Queridos jovens, o Senhor
hoje nos chama. Nao a todos e sim a cada um de voces, individualmente. Escutem
essa palavra nos seus coracoes, que fala a voces. Acredito que podemos aprender
algo com o que aconteceu nos ultimos dias. Tivemos que cancelar o evento em
Guaratiba. Sera que o Senhor nao quer nos dizer que o verdadeiro campo da fe,
nao e um lugar geografico, mas sim nos mesmos? Sim. E verdade, cada um de nos e
de voces. Eu e voces todos aqui, somos discipulos missionarios. O que quer
dizer isso? Que nos somos o campo da fe de Deus. Partindo do campo da fe,
pensei em tres imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser
um discipulo missionario: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a
segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro
de obras.
Primeiro: o
campo como lugar onde se semeia. Todos conhecemos a parabola de Jesus sobre um
semeador que saiu pelo campo. Algumas sementes caem a beira do caminho, em meio
as pedras, no meio de espinhos e nao conseguem se desenvolver; mas outras caem
em terra boa e dao muito fruto (cf. Mt 13,1-9). O próprio Jesus explicou o
sentido da parabola: a semente e a Palavra de Deus que e semeada nos nossos
coracoes (cf. Mt 13,18-23). Hoje, de modo especial, Jesus esta semeando,
tornando-nos o campo da fe. Deus faz tudo, mas voces tem que permitir que Ele
trabalhe nesse crescimento. Jesus nos diz que as sementes, que caíram a beira
do caminho, em meio as pedras e em meio aos espinhos nao deram fruto. Qual
terreno somos ou queremos ser? Escutamos o Senhor, mas na vida nao muda nada,
pois nos deixamos tumultuar por tantos apelos superficiais? E eu lhes pergunto:
‘sou um
jovem atordoado ou um jovem com pedras no terreno? Terei eu o costume de jogar
dos dois lados, ficar de bem com Deus e com o Diabo? Receber as sementes de
Deus e manter os espinhos? Acolher Jesus com entusiasmo, mas ser inconstantes e
diante das dificuldades não ter a coragem de ir contra a corrente; ou somos
como o terreno com os espinhos? Mas, hoje, tenho a certeza que a semente esta
caindo numa terra boa, ouvimos esses testemunhos. A pessoa diz que nao e terra
boa: 'sou cheio de espinhos, Santo Padre'. Mas mantenham sempre um pedacinho de
terra boa. Eu sei que voces querem ser terra boa. O cristao quer ser isso, um
cristao de verdade, nao cristaos de fachada, mas sim autenticos. Sei que querem
ser cristaos autenticos. Tenho a certeza que voces nao querem viver na ilusao
de uma liberdade que se deixe arrastar pelas modas e as conveniencias do
momento.
Sei que
voces apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido
para a vida. E assim ou estou errado? Se e assim, facamos o seguinte. Todos em
silencio, olhando para dentro e cada um fale com Jesus que quer receber a
semente. Olhe: 'Jesus, tenho pedras, tenho espinhos, mas tenho esse canto de
boa terra'. Semeie. E em silencio, permitem que Jesus plantem sua semente em
boa terra. Cada um sabe o nome da semente que foi plantada agora. E Deus vai
cuidar dela.
Segundo: o
campo como lugar de treinamento. Jesus nos pede que o sigamos por toda a vida,
pede que sejamos seus discipulos, que 'joguemos no seu time'. Acho que a
maioria de voces ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros paises, o
futebol e uma paixao nacional. Sim ou nao? Pois bem, o que faz um jogador
quando e convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Tambem e assim
na nossa vida de discipulos do Senhor. Sao Paulo nos diz: 'Todo atleta se
privam de tudo. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptivel.
Quanto a nos, buscamos uma coroa incorruptivel!' (1Co 9, 25). Jesus nos oferece
algo muito superior que a Copa do Mundo! Algo maior que a Copa do Mundo! Oferece-nos
a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos oferece tambem um futuro com
Ele que não tera fim: a vida eterna. E o que Jesus oferece. Mas ele nos cobra
um ingresso. Jesus pede que treinemos para estar 'em forma', para enfrentar,
sem medo, todas as situacoes da vida, dando testemunhos de fe. Como? Atraves do
dialogo com Ele: a oracao, que e dialogo diario com Deus que sempre nos escuta.
Agora vou perguntar. 'Eu rezo? Eu falo com Jesus ou tenho medo do silencio?'
Deixe que o Espirito Santo fale aos seus coracoes. Pergunte a Jesus: 'O que
quer que eu faca? O que quer da minha vida?' Isso e treinar. Conversem com
Jesus. E se cometerem um erro, um deslize, nao temam. 'Jesus, olha o que eu
fiz, o que faco agora?' Mas sempre fale com Jesus, nos bons e maus momentos,
nao tema. Assim vai se treinando o diaologo com Jesus. E tambem atraves dos
sacramentos; atraves do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do
perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem
marginalizar ninguem. Esses sao os treinamentos: a oracao, os sacramentos e o
servico ao proximo. Vamos repetir: oracao, sacramentos e ajuda aos demais.
Terceiro: o
campo como canteiro de obras. Como vemos aqui, como tudo isso foi construido.
Os jovens caminharam e construiram juntos. Quando o nosso coracao e uma terra
boa que acolhe a Palavra de Deus, quando se 'sua a camisa' procurando viver
como cristaos, nos experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos,
fazemos parte de uma familia de irmaos que percorrem o mesmo caminho; somos
parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas
da historia. Fizeram assim como Sao Francisco: construir e reparar a Igreja.
Querem
construir a Igreja? Estao animados? E amanha vao se esquecer que disseram
'sim'? Todos somos parte da Igreja. Nos transformamos em construtores da Igreja
e protagonistas da Historia. Sejam protagonistas, nao fiquem na fila da
Historia. Joguem sempre na linha de frente, no ataque! Sao Pedro nos diz que
somos pedras vivas que formam um edificio espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando
para este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja, construida com
pedras, com tijolos. Na Igreja de Jesus, nos somos as pedras vivas, e Jesus nos
pede que construamos a sua Igreja; cada um de nos somos uma pedrinha da construcao.
Se faltar essa pedrinha, quando chover, vai alagar tudo. E devemos construir
uma grande Igreja. Nao construir uma capelinha, onde cabe somente um grupinho
de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tao grande que possa
acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a voce, a
cada um: 'Ide e fazei discipulos entre todas as nacoes'! Nesta noite,
respondamos-lhe: Sim, tambem eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos
edificar a Igreja de Jesus! Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo!
Repitam isso. Agora e com voces. 'Eu quero ir e ser construtor da Igreja de
Cristo'. Quero que pensem nisso. No coracao jovem de voces, existe o desejo de
construir um mundo melhor. Acompanhei atentamente as noticias a respeito de
muitos jovens que, em tantas partes do mundo, sairam pelas ruas para expressar
o desejo de uma civilizacao mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas querem
ser protagonistas da mudanca. Nao deixam que outros sejam protagonistas, sejam
voces. Voces tem o futuro nas maos. Por voces, e que o futuro chegara. Peco que
voces tambem sejam protagonistas, superando a apatia e oferecendo uma resposta
crista as questoes politicas que se colocam em diversas questoes do mundo.
Envolvam-se num mundo melhor. Nao sejam covardes, metam-se, saiam para a vida.
Jesus nao ficou preso dentro de um casulo. Saiam as ruas como fez Jesus. Mas,
fica a pergunta: por onde comecar? A quem vamos pedir que se comece isso ou
aquilo? Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcuta o que devia mudar na
Igreja, por onde comecariamos a mudar, e ela respondeu: voce e eu! Ela tinha
muita garra e sabia por onde comecar. Repito as palavras de Madre Teresa: comecamos
por mim e por voce. Faca essa mesma pergunta: se tenho que comecar por mim
mesmo, por onde devo comecar? Abra seus coracoes para que Jesus lhes fale.
Queridos
amigos, nao se esquecam: voces sao o campo da fe! Voces sao os atletas de
Cristo! Voces sao os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor.
Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos da o
exemplo com o seu 'sim' a Deus: 'Eis aqui a serva do Senhor, faca-se em mim segundo
a tua Palavra' (Lc1,38). Tambem nos o dizemos a Deus, juntos com Maria: faca-se
em mim segundo a Tua palavra.Assim seja!" (Traducao e transcricao do
discurso: G1)
Dia
28 de julho de 2013 – JMJ - Rio de Janeiro.
Missa
de Envio. Homilia.
Venerados e
amados Irmaos no episcopado e no sacerdocio, Queridos jovens!
≪Ide e fazei discipulos entre todas as nacoes≫. Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de
voces, dizendo: ≪Foi bom
participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fe junto com jovens
vindos dos quatro cantos da terra, mas agora voce deve ir e transmitir esta
experiencia aos demais≫. Jesus lhe chama a ser um discipulo em missao!
Hoje, a luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor?
Tres palavras: Ide, sem medo, para servir.
1. Ide.
Durante estes dias, aqui no Rio, voces puderam fazer a bela experiencia de
encontrar Jesus e de encontra-lo juntos, sentindo a alegria da fe. Mas a
experiencia deste encontro nao pode ficar trancafiada na vida de voces ou no
pequeno grupo da paroquia, do movimento, da comunidade de voces. Seria como
cortar o oxigenio a uma chama que arde. A fe e uma chama que se faz tanto mais
viva quanto mais e partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer,
amar e professar que Jesus Cristo e o Senhor da vida e dahistoria (cf. Rm
10,9). Mas, atencao! Jesus nao disse: se voces quiserem, se tiverem tempo, mas:
≪Ide e fazei
discipulos entre todas as nacoes≫. Partilhar a experiencia da fe, testemunhar a fe,
anunciar o Evangelho e o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, tambem a
voce. E uma ordem sim; mas nao nasce da vontade de dominio ou de poder, nasce
da forca do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nos e
nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu a sua vida para
nos salvar e mostrar o amor e a misericordia de Deus. Jesus nao nos trata como
escravos, mas como homens livres, amigos, como irmaos; e nao somente nos envia,
mas nos acompanha, esta sempre junto de nos nesta missao de amor. Para onde
Jesus nos manda? Nao ha fronteiras, nao ha limites: envia-nos para todas as
pessoas. O Evangelho e para todos, e nao apenas para alguns. Nao e apenas para
aqueles que parecem a nos mais proximos, mais abertos, mais acolhedores. E para
todas as pessoas. Nao tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes,
ate as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais
indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua
misericordia e do seu amor. De forma especial, queria que este mandato de
Cristo -“Ide” - ressoasse em voces, jovens da Igreja na America
Latina, comprometidos com a Missao Continental promovida pelos Bispos. O
Brasil, a America Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: ≪Ai de mim se eu nao pregar o evangelho!≫ (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anuncio do
Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anuncio
e confiado tambem a voces, para que ressoe com uma forca renovada. A Igreja
precisa de voces, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes
caracterizam! Um grande apostolo do Brasil, o Bem-aventurado Jose de Anchieta,
partiu em missao quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual e o melhor
instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este e o caminho a ser
percorrido!
2. Sem medo. Alguem poderia pensar: ≪Eu nao tenho nenhuma preparacao especial, como e
que posso ir e anunciar o Evangelho≫? Querido amigo, esse seu temor nao e muito diferente
do sentimento que teve Jeremias, um jovem como voces, quando foi chamado por
Deus para ser profeta. Acabamos de escutar as suas palavras: ≪Ah! Senhor Deus, eu nao sei falar, sou muito novo≫. Deus responde a voces com as mesmas palavras dirigidas
a Jeremias: ≪Nao tenhas
medo... pois estou contigo para defender-te≫ (Jr 1,8). Deus esta conosco! ≪Nao tenham medo!≫ Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai a
nossa frente e nos guia. Ao enviar os
seus
discipulos em missao, Jesus prometeu: ≪Eu estou com voces todos os dias≫ (Mt 28,20). E isto e verdade tambem para nos!
Jesus nao
nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a voces! Alem
disso, Jesus nao disse: ≪Vai≫, mas ≪Ide≫: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam
a companhia de toda a Igreja e tambem a comunhao dos Santos nesta missao. Quando
enfrentamos juntos os desafios, entao somos fortes, descobrimos recursos que
nao sabiamos que tinhamos. Jesus nao chamou os Apostolos para viver isolados,
chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra
tambem a voces, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia:
voces vieram acompanhando os seus jovens, e e uma coisa bela partilhar esta experiência
de fe! Mas esta e uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com
generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que
eles nunca se sintam sozinhos!
3. A ultima
palavra: para servir. No inicio do salmo proclamado, escutamos estas palavras: ≪Cantai ao Senhor Deus um canto novo≫ (Sl 95, 1). Qual e este canto novo? Nao sao
palavras, nem uma melodia, mas e o canto da nossa vida, e deixar que a nossa
vida se identifique com a vida de Jesus, e ter os seus sentimentos, os seus
pensamentos, as suas acoes. E a vida de Jesus e uma vida para os demais. E uma
vida de servico. Sao Paulo, na leitura que ouvimos ha pouco, dizia: ≪Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o
maior numero possivel≫ (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se ≪escravo de todos≫. Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o
amor de Deus, significa superar os nossos egoismos, significa servir, inclinando-nos
para lavar os pes dos nossos irmaos, tal como fez Jesus. Ide, sem medo, para
servir. Seguindo estas tres palavras, voces experimentarao que quem evangeliza
e evangelizado, quem transmite a alegria da fe, recebe alegria. Queridos
jovens, regressando as suas casas, nao tenham medo de ser generosos com Cristo,
de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o
profeta Jeremias, lhe da o poder de ≪extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir
e plantar≫ (Jr 1,10).
E assim e tambem para voces. Levar o Evangelho e levar a forca de Deus, para
extirpar e destruir o mal e a violencia; para devastar e derrubar as barreiras
do egoismo, da intolerancia e do odio; para construir um mundo novo. Jesus
Cristo conta com voces! A Igreja conta com voces!
O Papa
conta com voces! Que Maria, Mae de Jesus e nossa Mae, lhes acompanhe sempre com
a sua ternura: ≪Ide e fazei
discipulos entre todas as nacoes≫. Amem.(Fonte G1)
Palavra
no final da missa de envio – 28/07/2013.
Amados
irmaos e irmas!
No termino
desta Celebracao Eucaristica, com a qual elevamos a Deus o nosso canto de
louvor e gratidão por todas as gracas recebidas durante esta Jornada Mundial da
Juventude, quero ainda agradecer a Dom Orani Tempesta e ao Cardeal Ryłko as
palavras que me dirigiram. Agradeco tambem a voces, queridos jovens, por todas
as alegrias que me deram nestes dias. Obrigado! Levo a voces no meu coracao! Dirijamos
agora o nosso olhar a Mae do Ceu, a Virgem Maria. Nestes dias, Jesus lhes
repetiu com insistência o convite para serem seus discipulos-missionarios;
voces escutaram a voz do Bom Pastor que lhes chamou pelo nome e voces reconheceram
a voz que lhes chamava (cf. Jo 10,4). Nao e verdade que, nesta voz que ressoou
nos seus coracoes, voces sentiram a ternura do amor de Deus? Nao e verdade que vocês
experimentaram a beleza de seguir a Cristo, juntos, na Igreja? Nao e verdade
que voces compreenderam melhor que o Evangelho e a resposta ao desejo de uma
vida ainda mais plena? (cf. Jo 10,10).
A Virgem
Imaculada intercede por nos no Ceu como uma boa mae que guarda dos seus filhos.
Maria nos ensina, com a sua existencia, o que significa ser discipulo
missionario. Cada vez que rezamos o Angelus, recordamos o acontecimento que
mudou para sempre a historia dos homens. Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria
que se tornaria a Mae de Jesus, Ela - mesmo sem compreender todo o significado
daquele chamado - confiou em Deus e respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor, faca-se em mim segundo
a tua palavra” (Lc 1,38).
Mas, o que fez Maria logo em seguida? Apos ter recebido a graca de ser a Mae do
Verbo encarnado, nao guardou para si esse dom; partiu, saiu da sua casa e foi,
apressadamente, visitar a sua parente Isabel que precisava de ajuda (cf. Lc 1,
38-39); cumpriu um gesto de amor, de caridade, de serviço concreto, levando
Jesus que trazia no ventre. E se apressou a fazer este gesto!
Eis aqui,
queridos amigos o nosso modelo. Aquela que recebeu o dom mais precioso de Deus,
como primeiro gesto de resposta, poe-se a caminho para servir e levar Jesus.
Pecamos a Nossa Senhora que tambem nos ajude a transmitir a alegria de Cristo
aos nossos familiares, aos nossos companheiros, aos nossos amigos, a todas as
pessoas. Nunca tenham medo de ser generosos com Cristo! Vale a pena! Sair e ir
com coragem e generosidade, para que cada homem e cada mulher possa encontrar o
Senhor.
Queridos
jovens, temos encontro marcado na proxima Jornada Mundial da Juventude, no ano
de 2016 em Cracovia, na Polonia. Pela intercessao materna de Maria, pecamos a
luz do Espirito Santo sobre o caminho que nos levara a esta nova etapa da
jubilosa celebracao da fe e do amor de Cristo. Rezemos agora juntos a oracao do
Angelus..... (Fonte G1)
Discurso no Encontro com Comitê de Coordenação do
CELAM (Conselho Episcopal Latino-American).
1 – Introducao
Agradeco ao
Senhor por esta oportunidade de poder falar com voces, Irmaos Bispos
responsaveis do CELAM no quadrienio 2011-2015. Ha 57 anos que o CELAM serve as
22 Conferencias Episcopais da America Latina e do Caribe, colaborando solidaria
e subsidiariamente para promover, incentivar e dinamizar a colegialidade
episcopal e a comunhao entre as Igrejas da regiao e seus pastores. Como voces,
tambem eu sou testemunha do forte impulso do Espirito na V Conferencia Geral do
Episcopado da America Latina e do Caribe, em Aparecida no mes de maio de 2007,
que continua animando os trabalhos do CELAM para a anelada renovacao das
Igrejas particulares. Em boa parte delas, essa renovacao ja esta em andamento.
Gostaria de centrar esta conversacao no patrimonio herdado daquele encontro
fraterno e que todos batizamos como Missao Continental.
2 -
Caracteristicas peculiares de Aparecida
Existem
quatro caracteristicas tipicas da referida V Conferencia. Constituem como que
quatro colunas do desenvolvimento de Aparecida que lhe dao a sua originalidade.
- Inicio sem documento Medelin, Puebla e Santo Domingo comecaram os seus trabalhos
com um caminho preparatorio que culminou em uma especie de Instrumentum
laboris, com base no qual se desenrolou a discussao, a reflexao e a aprovacao
do documento final. Em vez disso, Aparecida promoveu a participacao das Igrejas
particulares como caminho de preparacao que culminou em um documento de
sintese. Este documento, embora tenha sido ponto de referencia durante a V
Conferencia Geral, nao foi assumido como documento de partida. O trabalho
inicial foi por em comum as preocupacoes dos pastores perante a mudanca de
epoca e a necessidade de recuperar a vida de discipulo e missionario com que
Cristo fundou a Igreja.
- Ambiente
de oracao com o Povo de Deus
E
importante lembrar o ambiente de oracao gerado pela partilha diaria da
Eucaristia e de outros momentos liturgicos, tendo sido sempre acompanhados pelo
Povo de Deus. Alem disso, realizando-se os trabalhos na cripta do Santuario, a “musica de fundo” que os acompanhava era constituida pelos canticos
e as orações dos fieis.
- Documento
que se prolonga em compromisso, com a Missao Continental
Neste
contexto de oracao e vivencia de fe, surgiu o desejo de um novo Pentecostes
para a Igreja e o compromisso da Missao Continental. Aparecida nao termina com
um documento, mas prolonga-se na Missao Continental.
- A
presenca de Nossa Senhora, Mae da America
E a
primeira Conferencia do Episcopado da America Latina e do Caribe que se realiza
em um Santuario mariano.
3 -
Dimensoes da Missao Continental
A Missao
Continental esta projetada em duas dimensoes: programatica e paradigmatica. A missão
programatica, como o proprio nome indica, consiste na realizacao de atos de
indole missionaria. A missão paradigmatica, por sua vez, implica colocar em
chave missionaria a atividade habitual das Igrejas particulares. Em consequencia
disso, evidentemente, verifica-se toda uma dinamica de reforma das estruturas
eclesiais. A “mudanca de
estruturas” (de
caducas a novas) nao e fruto de um estudo de organizacao do organograma
funcional eclesiastico, de que resultaria uma reorganizacao estatica, mas e consequencia
da dinamica da missao. O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar
os coracoes dos cristaos e justamente a missionariedade. Daqui a importancia da
missao paradigmatica. A Missao Continental, tanto programatica como paradigmatica,
exige gerar a consciencia de uma Igreja que se organiza para servir a todos os
batizados e homens de boa vontade. O discipulo de Cristo nao e uma pessoa
isolada em uma espiritualidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se
dar aos outros. Portanto, a Missao Continental implica pertenca eclesial. Uma
posicao como esta, que comeca pelo discipulado missionario e implica entender a
identidade do cristão como pertenca eclesial, pede que explicitemos quais sao
os desafios vigentes da missionariedade discipular. Me limito a assinalar dois:
a renovacao interna da Igreja e o dialogo com o mundo atual.
Renovacao
interna da Igreja
Aparecida
propos como necessaria a Conversao Pastoral. Esta conversao implica acreditar
na Boa Nova, acreditar em Jesus Cristo portador do Reino de Deus, em sua
irrupcao no mundo, em sua presenca vitoriosa sobre o mal; acreditar na
assistencia e guia do Espirito Santo; acreditar na Igreja, Corpo de Cristo e prolongamento
do dinamismo da Encarnacao. Neste sentido, e necessario que nos interroguemos,
como pastores, sobre o andamento das Igrejas a que presidimos. Estas perguntas
servem de guia para examinar o estado das dioceses quanto a adocao do espirito
de Aparecida, e sao perguntas que e conveniente por-nos, muitas vezes, como
exame de consciencia.
1)
Procuramos que o nosso trabalho e o de nossos presbiteros seja mais pastoral
que administrativo? Quem e o principal beneficiario do trabalho eclesial, a
Igreja como organizacao ou o Povo de Deus na sua totalidade?
2) Superamos
a tentacao de tratar de forma reativa os problemas complexos que surgem?
Criamos um habito proativo? Promovemos espacos e ocasioes para manifestar a
misericordia de Deus? Estamos conscientes da responsabilidade de repensar as
atitudes pastorais e o funcionamento das estruturas eclesiais, buscando o bem
dos fieis e da sociedade?
3) Na
pratica, fazemos os fieis leigos participantes da missao? Oferecemos a palavra
de Deus e os sacramentos com consciencia e conviccao claras de que o Espirito
se manifesta neles?
4) Temos
como criterio habitual o discernimento pastoral, servindo-nos dos Conselhos
Diocesanos? Tanto estes como os Conselhos paroquiais de Pastoral e de Assuntos
Economicos sao espacos reais para a participacao laical na consulta,
organizacao e planejamento pastoral? O bom funcionamento dos Conselhos e determinante.
Acho que estamos muito atrasados nisso.
5) Nos,
Pastores Bispos e Presbiteros, temos consciencia e conviccao da missao dos
fieis e lhes damos a liberdade para irem discernindo, de acordo com o seu
processo de discipulos, a missao que o Senhor lhes confia? Apoiamo-los e
acompanhamos, superando qualquer tentacao de manipulacao ou indevida submissao?
Estamos sempre abertos para nos deixarmos interpelar pela busca do bem da
Igreja e da sua Missao no mundo?
6) Os
agentes de pastoral e os fieis em geral sentem-se parte da Igreja,
identificam-se com ela e aproximam-na dos batizados indiferentes e afastados?
Como se
pode ver, aqui estao em jogo atitudes. A Conversao Pastoral diz respeito,
principalmente, as atitudes e a uma reforma de vida. Uma mudanca de atitudes e
necessariamente dinamica: “entra em processo” e so e possivel modera-lo acompanhando-o e
discernindo-o. E importante ter sempre presente que a bussola, para nao se
perder nesse caminho, e a identidade catolica concebida como pertenca eclesial.
Dialogo com
o mundo atual
Faz-nos bem
lembrar estas palavras do Concilio Vaticano II: “As alegrias e as esperancas, as tristezas e as angustias
dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e atribulados, sao tambem
alegrias e esperancas, tristezas e angustias dos discipulos de Cristo” (cf. GS, 1). Aqui reside o fundamento do dialogo com
o mundo atual. A resposta as questoes existenciais do homem de hoje,
especialmente das novas geracoes, atendendo a sua linguagem, entranha uma
mudanca fecunda que devemos realizar com a ajuda do Evangelho, do Magisterio e
da Doutrina Social da Igreja. Os cenarios e areopagos sao os mais variados. Por
exemplo, em uma mesma
cidade,
existem varios imaginarios coletivos que configuram “diferentes cidades”. Se continuarmos apenas com os parametros da “cultura de sempre”, fundamentalmente uma cultura de base rural, o
resultado acabara anulando a forca do Espirito Santo. Deus esta em toda a
parte: ha que saber descobri-lo para poder anuncialo no idioma dessa cultura; e
cada realidade, cada idioma tem um ritmo diferente.
4 - Algumas
tentacoes contra o discipulado missionario
A opcao
pela missionariedade do discipulo sofrera tentacoes. E importante saber por
onde entra o espirito mau, para nos ajudar no discernimento. Nao se trata de
sair a caca de demonios, mas simplesmente de lucidez e prudencia evangelicas.
Limito-me a mencionar algumas atitudes que configuram uma Igreja “tentada”. Trata-se de conhecer determinadas propostas atuais
que podem mimetizar-se em a dinamica do discipulado missionario e deter, ate
faze-lo fracassar, o processo de Conversao Pastoral.
1) A
ideologizacao da mensagem evangelica. E uma tentacao que se verificou na Igreja
desde o inicio: procurar uma hermeneutica de interpretacao evangelica fora da
propria mensagem do Evangelho e fora da Igreja. Um exemplo: a dado momento,
Aparecida sofreu essa tentacao sob a forma de assepsia. Foi usado, e esta bem,
o metodo de “ver,
julgar, agir”. A
tentacao se encontraria em optar por um "ver" totalmente asseptico,
um “ver” neutro, o que nao e viavel. O ver esta sempre
condicionado pelo olhar. Nao ha uma hermenêutica asseptica. Entao a pergunta
era: Com que olhar vamos ver a realidade? Aparecida respondeu: Com o olhar de discipulo.
Assim se entendem os numeros 20 a 32. Existem outras maneiras de ideologizacao
da mensagem e, atualmente, aparecem na America Latina e no Caribe propostas
desta indole. Menciono apenas algumas:
a) O
reducionismo socializante. E a ideologizacao mais facil de descobrir. Em alguns
momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensao interpretativa com base em
uma hermeneutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais
variados, desde o liberalismo de mercado ate a categorizacao marxista.
b) A
ideologizacao psicologica. Trata-se de uma hermeneutica elitista que, em ultima
analise, reduz o “encontro
com Jesus Cristo” e seu
sucessivo desenvolvimento a uma dinamica de autoconhecimento. Costuma
verificar-se principalmente em cursos de espiritualidade, retiros espirituais,
etc. Acaba por resultar numa posicao imanente autorreferencial. Nao tem sabor
de transcendencia, nem portanto de missionariedade.
c) A
proposta gnostica. Muito ligada a tentacao anterior. Costuma ocorrer em grupos
de elites com uma proposta de espiritualidade superior, bastante desencarnada,
que acaba por desembocar em posições pastorais de “quaestiones disputatae”. Foi o primeiro desvio da comunidade primitiva e
reaparece, ao longo da historia da Igreja, em edicoes corrigidas e renovadas.
Vulgarmente sao denominados “católicos iluminados” (por serem atualmente herdeiros do Iluminismo).
d) A
proposta pelagiana. Aparece fundamentalmente sob a forma de restauracionismo.
Perante os males da Igreja, busca-se uma solucao apenas na disciplina, na
restauracao de condutas e formas superadas que, mesmo culturalmente, nao
possuem capacidade significativa. Na America Latina, costuma verificar-se em pequenos
grupos, em algumas novas Congregacoes Religiosas, em tendencias para a “seguranca” doutrinal ou disciplinar. Fundamentalmente e
estatica, embora possa prometer uma dinamica para dentro: regride. Procura “recuperar” o passado perdido.
2) O
funcionalismo. A sua acao na Igreja e paralisante. Mais do que com a rota, se
entusiasma com o “roteiro”. A concepcao funcionalista nao tolera o misterio,
aposta na eficacia. Reduz a realidade da Igreja a estrutura de uma ONG. O que
vale e o resultado palpavel e as estatisticas. A partir disso, chega-se a todas
as modalidades empresariais de Igreja. Constitui uma especie de “teologia da prosperidade” no organograma da pastoral.
3) O
clericalismo e tambem uma tentacao muito atual na America Latina. Curiosamente,
na maioria dos casos, trata-se de uma cumplicidade viciosa: o sacerdote
clericaliza e o leigo lhe pede por favor que o clericalize, porque, no fundo,
lhe resulta mais comodo. O fenomeno do clericalismo explica, em grande parte, a
falta de maturidade adulta e de liberdade crista em boa parte do laicato da
America Latina: ou nao cresce (a maioria), ou se abriga sob coberturas de
ideologizacoes como as indicadas, ou ainda em pertencas parciais e limitadas.
Em nossas
terras, existe uma forma de liberdade laical atraves de experiencias de povo: o
catolico como povo. Aqui ve-se uma maior autonomia, geralmente sadia, que se
expressa fundamentalmente na piedade popular. O capitulo de Aparecida sobre a
piedade popular descreve, em profundidade, essa dimensao. A proposta dos grupos
biblicos, das comunidades eclesiais de base e dos Conselhos pastorais esta na linha
de superacao do clericalismo e de um crescimento da responsabilidade laical. Poderiamos
continuar descrevendo outras tentacoes contra o discipulado missionario, mas
acho que estas sao as mais importantes e com maior forca neste momento da
America Latina e do Caribe.
5 - Algumas
orientacoes eclesiologicas
a) O
discipulado-missionario que Aparecida propos as Igrejas da America Latina e do
Caribe e o caminho que Deus quer para “hoje”. Toda a projecao utopica (para o futuro) ou
restauracionista (para o passado) nao e do espirito bom. Deus e real e se
manifesta no “hoje”. A sua presenca, no passado, se nos oferece como “memoria” da saga de salvacao realizada quer em seu povo
quer em cada um de nos; no futuro, se nos oferece como “promessa” e esperanca. No passado, Deus esteve la e deixou
sua marca: a memoria nos ajuda encontra-lo; no futuro, e apenas promessa... e
nao esta nos mil e um “futuriveis”. O “hoje” e o que mais
se parece
com a eternidade; mais ainda: o “hoje” e uma centelha de eternidade. No “hoje”, se joga a vida eterna. O discipulado missionario
e vocacao: chamada e convite. Acontece em um “hoje”, mas “em tensao”. Não existe o discipulado missionario estatico. O
discipulo missionario nao pode possuir-se a si mesmo; a sua imanencia esta em
tensao para a transcendencia do discipulado e para a transcendencia da missao. Não
admite a autorreferencialidade: ou refere-se a Jesus Cristo ou refere-se as
pessoas a quem deve levar o anuncio dele. Sujeito que se transcende. Sujeito
projetado para o encontro: o encontro com o Mestre (que nos unge discipulos) e
o encontro com os homens que esperam o anuncio. Por isso, gosto de dizer que a
posicao do discipulo missionario nao e uma posicao de centro, mas de periferias:
vive em tensao para as periferias... incluindo as da eternidade no encontro com
Jesus Cristo. No anuncio evangelico, falar de “periferias existenciais” descentraliza e, habitualmente, temos medo de sair
do centro. O discipulo-missionario e um descentrado: o centro e Jesus Cristo,
que convoca e envia. O discípulo e enviado para as periferias existenciais.
b) A Igreja
e instituicao, mas, quando se erige em “centro”, se funcionaliza e, pouco a pouco, se transforma em
uma ONG. Entao, a Igreja pretende ter luz propria e deixa de ser aquele “mysterium lunae” de que nos falavam os Santos Padres. Torna-se cada
vez mais autorreferencial, e se enfraquece a sua necessidade de ser
missionaria. De “Instituicao” se transforma em “Obra”. Deixa de ser Esposa, para acabar sendo
Administradora; de Servidora se transforma em “Controladora”. Aparecida quer uma Igreja Esposa, Mae, Servidora,
facilitadora da fe e não controladora da fe.
c) Em
Aparecida, verificam-se de forma relevante duas categorias pastorais, que
surgem da própria originalidade do Evangelho e nos podem tambem servir de
orientacao para avaliar o modo como vivemos eclesialmente o discipulado
missionario: a proximidade e o encontro. Nenhuma das duas e nova, antes configuram
a maneira como Deus se revelou na historia. E o “Deus proximo” do seu povo, proximidade que chega ao maximo
quando Ele encarna. E o Deus que sai ao encontro do seu povo. Na America Latina
e no
Caribe,
existem pastorais “distantes”, pastorais disciplinares que privilegiam os
principios, as condutas, os procedimentos organizacionais... obviamente sem
proximidade, sem ternura, nem carinho. Ignora-se a "revolucao da
ternura", que provocou a encarnacao do Verbo. Ha pastorais posicionadas
com tal dose de distancia que sao incapazes de conseguir o encontro: encontro
com Jesus Cristo, encontro com os irmaos. Este tipo de pastoral pode, no
maximo, prometer uma dimensao de proselitismo, mas nunca chegam a conseguir
insercao nem pertenca eclesial. A proximidade cria comunhao e pertenca, da
lugar ao encontro. A proximidade toma forma de dialogo e cria uma cultura do
encontro. Uma pedra de toque para aferir a proximidade e a capacidade de
encontro de uma pastoral e a homilia. A pastoral e, em ultima instancia, o exercicio
de maternidade da Igreja. Como sao as nossas homilias? Estao proximas do
exemplo de Nosso Senhor, que “falava como quem tem autoridade”, ou sao meramente prescritivas, distantes,
abstratas?
d) Quem
guia a pastoral, a Missao Continental (seja programatica seja paradigmatica), e
o bispo. Ele deve guiar, que nao e o mesmo que comandar. Alem de assinalar as
grandes figuras do episcopado latino-americano que todos nos conhecemos,
gostaria de acrescentar aqui algumas linhas sobre o perfil do Bispo, que ja
disse aos Nuncios na reuniao que tivemos em Roma. Os bispos devem ser pastores,
proximos das pessoas, pais e irmaos, com grande mansidao: pacientes e
misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como
liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade
de vida. Homens que nao tenham “psicologia de principes”. Homens que nao sejam ambiciosos e que sejam
esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra. Homens capazes de
vigiar sobre o rebanho que lhes foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o
mantem unido: vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o
ameacem, mas sobretudo para cuidar da esperanca: que haja sol e luz nos coracoes.
Homens capazes de sustentar com amor e paciencia os passos de Deus em seu povo.
E o lugar onde o bispo pode estar com o seu povo e triplo: ou a frente para
indicar o caminho, ou no meio para mantelo unido e neutralizar as debandadas,
ou entao atras para evitar que alguem se desgarre mas tambem, e fundamentalmente,
porque o proprio rebanho tem o seu olfato para encontrar novos caminhos. Nao
quero juntar mais detalhes sobre a pessoa do bispo, mas simplesmente
acrescentar, incluindo-me a mim mesmo nesta afirmacao, que estamos um pouco
atrasados no que a Conversao Pastoral indica. Convem que nos ajudemos um pouco
mais a dar os passos que o Senhor quer que cumpramos neste “hoje” da America Latina e do Caribe. E seria bom comecar
por aqui. Agradeco-lhes a paciencia de me ouvirem. Desculpem a desordem do
discurso e lhes peco, por favor, para tomarmos a serio a nossa vocacao de
servidores do povo santo e fiel de Deus, porque e nisso que se exerce e mostra
a autoridade: na capacidade de servico. Muito obrigado! (Fonte G1)
Palavra
do Papa no Encontro com os voluntários da JMJ - Riocentro.
"Queridos
voluntarios, boa tarde!
Nao podia
regressar a Roma sem antes agradecer, de modo pessoal e afetuoso, a cada um de
voces pelo trabalho e dedicacao com que acompanharam, ajudaram, serviram aos
milhares de peregrinos; pelos inumeros pequenos detalhes que fizeram desta
Jornada Mundial da Juventude uma experiencia inesquecível de fe. Com os
sorrisos de cada um de voces. Com a gentileza, com a disponibilidade ao
servico, vocês provaram que “ha maior alegria em dar do que em receber”. O servico que voces realizaram nestes dias me
lembrou da missao de Sao Joao Batista, que preparou o caminho para Jesus. Cada
um, a seu modo, foi instrumento para que milhares de jovens tivessem o “caminho preparado” para encontrar Jesus. E esse e o servico mais
bonito que podemos realizar como discípulos missionarios: preparar o caminho
para que todos possam conhecer, encontrar e amar o Senhor. A voces, que neste
periodo responderam com tanta prontidao e generosidade ao chamado para ser
voluntarios na Jornada Mundial, queria dizer: sejam sempre generosos com Deus e
com os demais. Nao se perde nada, ao contrario, e a grande a riqueza da vida
que se recebe.
Deus chama
para escolhas definitivas. Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo,
responder a própria vocacao significa caminhar na direcao jubilosa de si mesmo.
A todos Deus nos chama a santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para
cada um. Alguns sao chamados a se santificar constituindo uma família atraves
do sacramento do matrimonio.
Ha quem
diga que hoje o casamento esta “fora de moda”; na cultura do provisorio, do relativo, muitos
pregam que o importante e “curtir” o momento, que nao vale a pena comprometer-se por
toda a vida, fazer escolhas definitivas “para sempre”, uma vez que nao se sabe o que reserva o amanha.
Em vista disso, eu peco a voces que sejam revolucionarios, que vao contra a
corrente; sim, nisto peco que se rebelem; que se rebelem contra essa cultura do
provisorio que, no fundo, cre que voces nao sao capazes de assumir responsabilidades,
que nao sao capazes de amar a verdade. Eu tenho confianca em voces, jovens, e
rezo por voces. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes! O Senhor chama
alguns ao sacerdocio, a se doar a Ele de modo mais total, para amar a todos com
o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os demais na vida
religiosa; nos mosteiros, dedicando-se a oracao pelo bem do mundo, nos varios
setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente os mais necessitados.
Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro –eu tinha 17 anos - quando depois de passar pela
igreja de San Jose de Flores para me confessar, senti pela primeira vez que
Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele esta a alegria!
Queridos
jovens, talvez alguns de voces ainda nao veja claramente o que fazer da sua
vida. Peca isso ao Senhor; Ele lhe fara entender o caminho. Como fez o jovem
Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o chamava, e nao
entendia, nao sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote Eli, no final respondeu
aquela voz: “Senhor,
fala, eu escuto”. Pecam
voces tambem a Jesus: Senhor, o que quereis que eu faca? Que caminho devo
seguir?
Caros
amigos, novamente lhes agradeco por tudo o fizeram nestes dias. Nao se esquecam
de nada do que voces viveram aqui! Podem contar sempre com minhas oracoes, e
sei que posso contar com as oracoes de voces." (Fonte G1)
Ultimo Discurso em solo Brasileiro do Papa
Francisco.
"Senhora
Presidenta da Republica,( Na Pessoa Vice – Presidente Michel Temer)
Distintas
Autoridade Nacionais, Estaduais e Locais, Senhor Arcebispo de Sao Sebastiao do
Rio de Janeiro, Senhores Cardeais e Irmaos no Episcopado,
Queridos
Amigos!
Dentro de
alguns instantes, deixarei sua Patria para regressar a Roma. Parto com a alma
cheia de recordacoes felizes; essas – estou certo – tornar-se-ao oracao. Neste momento, ja comeco a
sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tao grande e de grande coracao;
este povo tao amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas
pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntarios. Saudades da esperanca no olhar
dos jovens no Hospital Sao Francisco. Saudades da fe e da alegria em meio a
adversidade dos moradores de Varginha. Tenho a certeza de que Cristo vive e
esta realmente presente no agir de tantos e tantos jovens e demais pessoas que
encontrei nesta inesquecivel semana. Obrigado pelo acolhimento e o calor da
amizade que me foram demonstrados.
Tambem
disso comeco a sentir saudades. De modo particular agradeco a Senhora Presidenta,
por ter-se feito interprete dos sentimentos de todo o povo do Brasil para com o
Sucessor de Pedro. Cordialmente agradeco a meus Irmaos Bispos e seus inúmeros colaboradores
por terem tornado estes dias uma celebracao estupenda da nossa fe fecunda e jubilosa
em Jesus Cristo. Agradeco a todos os que tomaram parte nas celebracoes da
Eucaristia e nos restantes eventos, aqueles que os organizaram, a quantos
trabalharam para difundi-los atraves da midia. Agradeco, enfim, a todas as
pessoas que, de um modo ou outro, souberam acudir as necessidades de acolhida e
gestao de uma multidao imensa de jovens, sem esquecer de tantas pessoas que, no
silencio e na simplicidade, rezaram para que esta Jornada Mundial da Juventude
fosse uma verdadeira experiencia de crescimento na fe. Que Deus recompense a
todos, como so Ele sabe fazer! Neste clima de gratidao e saudades, penso nos
jovens, protagonistas desse grande encontro: Deus lhes abencoe por tao belo
testemunho de participacao viva, profunda e alegre nestes dias! Muitos de voces
vieram como discipulos nesta peregrinacao; nao tenho duvida de que todos agora
partem como missionarios. A partir do testemunho de alegria e de servico de
voces, facam florescer a civilizacao do amor. Mostrem com a vida que vale a
pena gastar-se por grandes ideais, valorizar a dignidade de cada ser humano, e
apostar em Cristo e no seu Evangelho. Foi Ele que viemos buscar nestes dias,
porque Ele nos buscou primeiro, Ele nos faz arder o coracao para anunciar a Boa
Nova nas grandes metropoles e nos pequenos povoados, no campo e em todos os
locais deste nosso vasto mundo. Continuarei a nutrir uma esperanca imensa nos
jovens do Brasil e do mundo inteiro: atraves deles, Cristo esta preparando uma
nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros resultados desta sementeira;
outros rejubilarao com a rica colheita!
O meu
pensamento final, minha ultima expressao das saudades, dirige-se a Nossa
Senhora Aparecida. Naquele amado Santuario, ajoelhei-me em prece pela
humanidade inteira e, de modo especial, por todos os brasileiros. Pedi a Maria
que robusteca em voces a fe crista, que e parte da nobre alma do Brasil, como tambem
de muitos outros paises, tesouro de sua cultura, alento e forca para
construirem uma nova humanidade na concordia e na solidariedade.
O Papa vai embora e lhes diz “ate breve”, um “ate breve” com saudades, e lhes pede, por favor, que nao se esquecam
de rezar por ele. Este Papa precisa da oracao de todos voces. Um abraco para
todos. Que Deus lhes abencoe!"(Fonte
G1)
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